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Millena Marques
Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 25 de novembro de 2024 às 15:12
Quando o republicano Donald Trump foi oficializado como presidente eleito dos Estados Unidos no último dia 6 de novembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu renascer a sua esperança de voltar a ser candidato à Presidência em 2026. Mas a Polícia Federal jogou um balde de água fria em Bolsonaro ao indiciá-lo na semana passada por crimes contra a democracia do país. Se condenado, ele pode pegar 28 anos de prisão e ficar inelegível até 2061, o que, segundo especialistas e políticos ouvidos pelo CORREIO, terá impacto no cenário político e eleitoral.
A PF aponta que Bolsonaro cometeu os seguintes crimes: golpe de Estado, com pena de 12 anos de reclusão; tentativa de abolição do Estado de Direito, com punição de 8 anos; e integração em uma organização criminosa, cuja pena é de 8 anos. Ou seja, a soma chega a 28 anos de prisão. O ex-presidente, que já está inelegível até 2030, pode ficar ainda mais tempo proibido de disputar as eleições. Depois de cumprir a pena, ele teria ainda mais oito anos de inelegibilidade. Nesta hipótese, Jair Bolsonaro seria barrado de corridas eleitorais até 2061, quando teria 106 anos de idade.
Dentro do campo político da direita e centro-direita, o indiciamento de Bolsonaro foi visto como positivo, pois abriria caminho para outras lideranças moderadas, como os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ronaldo Caiado (Goiás), se projetarem para o Planalto. A avaliação é de que a ação da PF “limita a atuação” do ex-presidente da República e o coloca “mais fora ainda do jogo eleitoral de 2026”. Como o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também foi indiciado, o entendimento é de que a força política da sigla será reduzida. É o que acredita também o cientista político Antonio Lavareda.
"No campo da direita, esse fato reforça a impressão de que Bolsonaro não será elegível em 2026. Nesse contexto, aumentará a velocidade dos candidatos a substituí-lo nas urnas: Caiado, Tarcísio, Ratinho Júnior, (Romeu) Zema", ponderou. "(Mas) o bolsonarismo fincou raízes na sociedade. É um movimento que representa, de fato, percepções e atitudes de uma porção significativa do eleitorado. O bolsonarismo veio para ficar", acrescentou.
Por outro lado, há quem acredite, no campo da direita e centro-direita, que Bolsonaro repetirá a estratégia de 2018 do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “para não perder a liderança”. Naquele ano, quando estava preso, o petista manteve sua candidatura ao Palácio do Planalto até ser impedido de disputar em setembro de 2018 e lançou o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), como postulante.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas Neto, o indiciamento de Bolsonaro pode aumentar a polarização política no país, o que pode fazer com que a esquerda surfe nesta onda. Mas também pode, na avaliação dele, fortalecer uma candidatura presidencial de oposição a Lula mais ao centro. "Isso ajudaria a oposição estadual, que não ficaria órfã de palanque presidencial relevante, como ficou em 2022”, analisou.
A expectativa é de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes remeta nesta segunda-feira (25) à Procuradoria-Geral da República o relatório final do inquérito sobre o suposto atentado contra a democracia para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo com a derrota na eleição de 2022.
Na última quinta-feira (21), Moraes manteve a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em seu depoimento, Cid reforçou que o ex-presidente sabia da trama e sugeriu alterações no documento. Também disse que o ex-ministro Walter Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, participou da reunião de 12 de novembro daquele ano, na qual militares montaram uma estratégia para impedir a posse do então presidente eleito Lula.
Braga Netto está entre os indiciados pela PF. A reação de Bolsonaro, após a ação da Polícia Federal, foi atacar Alexandre de Moraes. Segundo ele, o ministro do STF “faz tudo o que não diz a lei”.