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Alan Pinheiro
Publicado em 3 de agosto de 2024 às 05:00
No país do futebol, a conciliação entre reconhecimento de talento e uma carreira acadêmica é incomum, sendo poucos atletas brasileiros a terem um ensino superior completo. Um desses exemplos é a baiana Rafaelle, zagueira da Seleção Brasileira feminina. Passando pelo interior à capital ou do Brasil para os Estados Unidos, a trajetória da zagueira de 33 anos une talento e dedicação dentro e fora dos campos.
Nascida em Cipó, no interior do estado, cidade com apenas 17 mil habitantes, Rafaelle confiou seu futuro aos estudos. A jovem se mudou para Salvador ainda na adolescência para cursar o ensino médio. Por aqui, recebeu o convite para jogar no São Francisco do Conde, clube tradicional da região metropolitana. O desempenho na disputa da Copa do Brasil, pela primeira vez, a credenciou a ser convocada para a Seleção Brasileira sub-17 com apenas 15 anos.
Desde o início, um fator que diferenciava a menina para outras garotas era o apoio da família para seguir a carreira no esporte. “Meus pais sempre me apoiaram. Diferente de muitas meninas que os pais proibiam de jogar futebol com os meninos ou não deixavam brincar na rua descalças. Minha cidade era pequena, então eles sempre liberaram jogar, me apoiaram, sempre me levaram para fazer testes”, contou ela ao site da Confederação Brasileira de Futebol.
Atualmente jogadora do Orlando Pride, a baiana tem passagens por clubes como Changchun Yatai (China), Houston Dash (Estados Unidos) e Arsenal (Inglaterra), além dos brasileiros Palmeiras e América-MG. Revelada pelo São Francisco como lateral esquerda, quando ainda era apelidada de Fafá Show, teve a adaptação para a nova função já na Seleção. Durante a Copa do Mundo Feminina de 2015, a capitã Bruna Benites se lesionou e o então técnico Vadão adaptou a lateral no miolo da zaga, de onde não saiu mais.
Em Paris, Rafaelle entra em campo como a única baiana no elenco comandado por Arthur Elias. Com confronto marcado contra a França para este sábado, a jogadora encara a missão de ser a única representante do estado com responsabilidade.
“Isso tem um peso grande. Depois da Formiga, com toda a história que ela tem e tudo que representa para a Bahia, um símbolo de raça, de resistência, ser a única baiana tem um peso grande. Eu encaro isso muito bem, acho que faço meu papel bem, dentro de campo represento não só a Bahia, como minha cidade também, mas é um peso grande porque a Bahia sempre teve grandes jogadoras. Formiga, Elaine, Fabi, mas acho que tenho feito meu papel dentro de campo representando bem o nosso estado”, afirmou a jogadora.
O destaque no esporte não significou o abandono dos estudos. Rafaelle foi aprovada em engenharia civil no vestibular da Universidade Estadual da Bahia e conseguiu conciliar a vida acadêmica com o futebol quando recebeu um convite para estudar na Universidade do Mississippi, em Oxford. Lá, concluiu o curso e se destacou na liga universitária. Depois de passar pelo draft da liga americana em 2014, rumou para o Houston Dash.
“Acho que foi uma das decisões mais importantes que já tomei e que, sem dúvida, mudou minha vida para sempre. Eu queria fazer faculdade, mas não queria largar o futebol. E lá [nos Estados Unidos] pude fazer bem os dois”, explicou a jogadora.
Depois de ser ausência da derrota por 2x0 para a Espanha, por desconforto na coxa, Rafaelle retornará para o duelo decisivo contra a França. A baiana deve ser colocada na vaga de Antonia, que sofreu uma fratura na fíbula da perna esquerda na última partida e está fora da Olimpíada. O jogo contra as francesas está marcado para este sábado (3), às 16h, no estádio La Beaujoire, em Nantes, e é válido pelas quartas de final da Olimpíada.
“Na defesa, a Rafa está de volta, a gente teve problemas sim, em outras posições, faz parte. Ninguém aqui lamenta nada. Ninguém coloca culpa em físico ou qualquer outra situação. Brasil vai competir com todo mundo. Com todos os times, seleções, independente de desfalques. Mas ela retorna. A Antonia agora teve o problema da lesão. Então a gente vai escolher as melhores atletas para iniciar o jogo e também entendendo que o jogo vai ser muito difícil, aberto, provavelmente até o final. Também tendo estratégias para o segundo tempo”, adiantou o treinador Arthur Elias.