Paris-2024: Cerimônia encanta pela TV, mas entedia público presente

Mais de 300 mil pessoas lotaram as margens do Rio Sena, mas boa parte não conseguiu desfrutar do evento

Publicado em 27 de julho de 2024 às 05:00

Por causa da chuva, público saiu antes da festa acabar
Por causa da chuva, público saiu antes da festa acabar Crédito: Victor Pereira/CORREIO

‘Blasé’ é uma palavra de origem francesa, incorporada pela língua portuguesa, que, de acordo com o Dicionário Oxford, significa “indiferença pelo que deve comover”. E não há palavra que represente melhor o sentimento de boa parte do público presente às margens do Rio Sena, na região central de Paris, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024.

Toda a empolgação e expectativa por um espetáculo para se entrar para a história começou a se dissolver na chuva que deu os primeiros sinais, ainda fraca, no fim da tarde (horário local). As primeiras embarcações com atletas até ouviram uma empolgação do público, que chegou ao ápice com o momento de aparição da cantora norte-americana Lady Gaga, mas, quando a delegação de Cuba passava pelas imediações do Museu do Louvre, três quilômetros após o ponto de partida, a chuva intensificou e boa parte do público começou a ir embora.

A chuva, apesar de ter sido um fator intensificador, não foi o único motivo para os espectadores deixarem a cerimônia antes do fim. A estratégia da organização em inserir muito conteúdo gravado, mesmo com telões instalados às margens do rio, fez com que a atenção dos locais e turistas presentes fosse dispersada.

O espetáculo chegou a quatro horas de duração, o que também não agradou, principalmente porque a maior parte do público acompanhava em pé, sem nenhuma opção de assento, e que assim ficou desde horas antes do início da cerimônia.

As margens do rio Sena já não estavam mais tão lotadas quando o principal momento da festa aconteceu, com a apresentação da canadense Celine Dión e a pira olímpica sendo acesa pelos ex-atletas franceses e multicampeões Teddy Riner e Marie-José Perec.

Esperança até o fim

Milhares de pessoas sem ingressos se aglomeravam um pouco mais distante do Rio Sena, nos bloqueios de segurança, na esperança de conseguir ver algo do evento. “Estávamos há mais de dois meses tentando achar algum ingresso, mas não conseguimos. Até achamos, mas por 2,7 mil euros [aproximadamente R$ 16,2 mil], o que é impossível. O jeito é curtir daqui mesmo, a bagunça e a animação da galera”, garantiu a empresária paulista Laurete Menezes, de 63 anos.

De Feira de Santana para viver o clima olímpico

Quando a família Barros, de Feira de Santana, decidiu viajar pela Europa, no ano passado, não fazia parte dos planos viver a experiência dos Jogos Olímpicos. A ideia do casal de aposentados Geraldo, 65, e Gezilda, 64, era de realizar os sonhos dos filhos Géser, 22, e Geiza, 25, de conhecerem os países nórdicos. No entanto, a programação de viagem os colocou na Cidade Luz justamente no dia da tão aguardada cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos.

“Isso é o tipo de evento que, quando está acontecendo, a gente não percebe a importância, mas, lá na frente, vamos olhar para este momento e dizer ‘eu estive em Paris, do ladinho do Rio Sena, com as delegações passando’, então fica marcado, mesmo que a gente não tenha essa vista privilegiada”, relatou o estudante de medicina da UFBA e caçula da família.

Família está em viagem pela Europa e deu uma passadinha em Paris
Família está em viagem pela Europa e deu uma passadinha em Paris Crédito: Victor Pereira/CORREIO

Muita emoção para as bordadeiras

Salmira Clemente e Jailma Araújo, representantes das bordadeiras de Timbaúba dos Batistas-RN, responsáveis pelos bordados nos uniformes da delegação brasileira, se emocionaram ao assistirem in loco o desfile de suas obras no Rio Sena. “Olha ali” e “lindos” foram os gritos que as duas entoaram antes das lágrimas e a emoração tomarem conta do momento.

O prefeito da cidade, Ivanildinho (PL), acompanhado pela Governadora do Rio Grande do Norte e presidente do Consórcio Nordeste, Fátima Bezerra (PT), também estiveram presentes na cerimônia. Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Ivanildinho ressaltou a importância deste momento ao lembrar que “um terço da população da cidade sobrevive através do trabalho artesanal” das bordadeiras.

“Ver essa visibilidade toda, este reconhecimento, essa valorização, enche os nossos olhos e traz uma emoção inigualável”, completou o gestor.