Paris-2024: a Olimpíada que encanta o mundo inteiro, menos os parisienses

Mudança radical na rotina não agrada moradores, mas não incomoda turistas que fazem a festa; brasileiros se destacam com samba nos arredores da Torre Eiffel

Publicado em 26 de julho de 2024 às 05:00

Hôtel de Ville, a prefeitura de Paris
Hôtel de Ville, a prefeitura de Paris Crédito: Jean-Baptiste Gurliat/Mairie de Paris

O povo francês é mundialmente conhecido pela educação polida, gastronomia de alto nível e até mesmo a forma elegante de se vestir, mas não é novidade para ninguém que a receptividade está longe de ser uma de suas melhores virtudes. Receber uma edição histórica dos Jogos Olímpicos poderia ser um motivo de orgulho e ânimo para muitos ao redor do globo, só que nem todo parisiense pensa desta forma.

A começar pelo deserto que a região central da capital francesa tem vivenciado, devido aos muitos bloqueios por conta dos processos de montagem de estrutura e planejamento da segurança da cerimônia de abertura, que acontece nesta sexta-feira (26). Além, claro, de todos os transtornos que tudo isto causa, como desvio do tráfego de veículos, modificação nas linhas de ônibus, estações de metrô fechadas e barreiras em vários pontos da cidade.

Quando a pira olímpica for acesa às margens do Rio Sena e à frente da Torre Eiffel, a chama pode ser o combustível que falta para os parisienses entenderem que, sim, após uma edição complicada em 2021 com a luta contra o covid-19, o espírito olímpico está de volta em sua plenitude após oito anos.

Segurança até demais

Cenas de policiais portando armamento pesado não são tão incomuns em Paris, principalmente depois dos atentados terroristas de 2015. No entanto, a quantidade chega a assustar. Em cada esquina, é possível ver grupos de policiamento fortemente armados. “Não é em uma avenida ou em um bairro. Mas em praticamente toda a cidade, o que, apesar de necessário, não é tão agradável assim”, confessou a corretora de imóveis Eméline Poulin, de 34 anos, enquanto precisava atravessar a rua transversal ao Museu do Louvre para voltar para casa. Teve que fazer um trajeto quatro vezes maior do que o normal.

Olimpíada faz custos dos parisienses subir

A Cidade-Luz nunca foi referência de baixos custos, pelo contrário - é um dos mais altos da Europa. Mas ser sede do maior evento esportivo do planeta fez esses números aumentarem bastante.

Para se ter uma ideia, o passe mensal do transporte público, chamado de Navigo, até o mês passado era comercializado a 40 euros, o equivalente a aproximadamente R$ 240. Agora, durante os Jogos, o valor mais do que dobrou, sendo vendido a 86 euros, ou seja, mais de R$ 500.

Estima-se que mais de 15 milhões de pessoas visitem Paris durante a Olimpíada, mas apenas 2 milhões de turistas são de fora do país, o que significa que aproximadamente 86% dos visitantes são franceses. O curitibano Vinicius Ercoli, de 32 anos, faz parte dos 14% e visita a cidade pela primeira vez, na expectativa de viver a magia dos Jogos Olímpicos.

Samba ecoa nos arredores da Torre Eiffel

“É uma experiência incrível. Sempre tive muita vontade de conhecer Paris, ver de perto a Torre Eiffel e adoro essa atmosfera que só o esporte consegue proporcionar. Viver tudo isso junto está sendo surreal”, relatou Vinicius Ercoli ao deixar a Arena Paris Sul 6, após a vitória da seleção brasileira de handebol feminino, diante da Espanha.

Assim como o curitibano, outros muitos brasileiros parecem não se importar com o que incomoda os franceses. Ao caminhar pela Avenida de La Bourdonnais, nos arredores da Torre Eiffel, um som verde e amarelo ecoava. Um grupo de torcedores de São Paulo arriscava, com um pandeiro e um chocalho, os sambas dos mais tradicionais.

Samba pelas ruas de Paris
Samba pelas ruas de Paris Crédito: Victor Pereira/CORREIO

Ânimo por Dion e Gaga

“É verdade que a Gaga vai cantar?”. Esta foi uma pergunta comum direcionada a mim em quatro ocasiões durante a véspera da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024, que acontece nesta sexta-feira (26). A ânsia pela resposta tem uma justificativa: boatos sobre as possíveis atrações fizeram Paris tremer.

O jornal francês Parisien garantiu que uma das apresentações será da cantora canadense Céline Dion, que não faz shows há 4 anos, devido ao tratamento da Síndrome da Pessoa Rígida, uma doença sem cura. Além dela, o periódico ventilou a possibilidade da diva pop Lady Gaga também se apresentar. O comitê organizador não confirma nem nega e mantém tudo sob o mais rigoroso sigilo.