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Gabriel Rodrigues
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 05:00
Aos 23 anos, a baiana Paôla Reis pode se orgulhar do caminho que está trilhando no mundo do esporte. Em cima da bicicleta, a brincadeira de criança que começou logo cedo no bairro de Stella Maris, em Salvador, virou assunto de gente grande e fez dela uma das referências quando o assunto é o ciclismo BMX feminino.
Mesmo com a pouca idade, Paôla apresenta no currículo feitos de dar inveja. Foi sete vezes campeã brasileira, tetra campeã pan-americana, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, no Peru, além de ter sido finalista do Mundial em três oportunidades. Por isso, não é nenhuma surpresa que a baiana seja a representante do Brasil no BMX Racing na Olimpíada de Paris-2024.
Hoje, a brasileira entra em ação pela primeira vez em terras francesas para escrever mais um capítulo dessa trajetória. A partir das 15h20, ela disputará as quartas de final da modalidade de olho em uma inédita medalha. Quando estiver pronta para dar a largada na pista, certamente um filme passará na cabeça da atleta.
A história de sucesso teve início quando Paôla tinha apenas 11 anos. Ainda criança, ela começou a dar as primeiras voltas e desafiar a gravidade em manobras radicais através do Projeto Pedal, em Stella Maris, lugar onde nasceu e foi criada. Não demorou para que o talento fosse identificado e, aos 13 anos, a ciclista venceu o seu primeiro Campeonato Brasileiro de BMX.
Porém, ao mesmo tempo em que conheceu o gosto doce das vitórias e viu os desafios aumentarem, a atleta provou o lado amargo do esporte. Mais do que os obstáculos na pista, ela precisou driblar a falta de estrutura para manter o nível de preparação semelhante ao das concorrentes que enfrentava em torneios nacionais e internacionais.
Durante boa parte da carreira, os treinos eram feitos na pista de bicicross localizada em frente à praia do Corsário, na capital baiana. O equipamento, no entanto, não atendia os requisitos que a atleta precisava. O principal problema estava na rampa de largada, chamada de gate.
“O daqui tem 1,80 metro de altura. O de competição, como o do Pan, tem 8 metros. É uma diferença muito grande, não acha?”, explicou Paôla durante entrevista ao Correio em 2019. Na época, ela vivia a expectativa de conquistar uma vaga nos Jogos de Tóquio-2020, mas Priscilla Carnaval acabou escolhida como a representante do Brasil na competição.
“No BMX, a largada influencia mais de 70% do resultado. Se o atleta não tiver uma boa largada, fica muito difícil de ganhar. Então, imagine: a gente participa de Mundial e de Pan-Americano treinando assim. Compete com atletas que treinam em equipamentos olímpicos, com a altura ideal”, complementou, à época, Leonardo Gonçalves, treinador de Paôla.
Sem a condição ideal, o jeito era improvisar. “A gente vai para uma ladeira, que é bem íngreme, lá em Stella Maris e treina assim. Fazer o quê?”, lembrou o treinador.
Paôla não desanimou com os percalços que encontrou pelo caminho e ficou ainda mais forte para encarar os desafios. A medalha de ouro no Campeonato Pan-Americano, disputado no Equador, no ano passado, deu à baiana a vaga nos Jogos Olímpicos. A meta agora é a de levar a bandeira brasileira ao pódio em Paris.