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Gabriel Rodrigues
Publicado em 28 de julho de 2024 às 21:58
Das acrobacias no circo à paixão pelos esportes radicais, assim é a vida de Ulan Galinski, o baiano mais francês que representará o Brasil no Ciclismo Mountain Bike (MTB), nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. O país do croissant é a terra natal do pai e de boa parte da família de Ulan, mas apesar de se sentir em casa na França, a história do ciclista começou bem longe da Torre Eiffel e teve o picadeiro como pano de fundo.
Depois de rodar o mundo com o circo, Paolo, pai de Ulan, aportou em Salvador e decidiu ficar de vez em terras baianas após conhecer a baiana Maryanne, por quem se apaixonou. Junto, o casal escolheu o Vale do Capão, na Chapada Diamantina, para fundar o Circo do Capão, instituição familiar que dá aulas artísticas. Foi nesse cenário que o pequeno Ulan deu os primeiros passos.
Inserido no mundo circense, dos três aos 13 anos, o baiano praticou o diabolô, uma espécie de malabarismo em que é preciso se equilibrar sobre um fio de arame. Como ele mesmo contou, a atividade foi fundamental para se manter equilibrado sobre duas rodas.
Entre idas e vindas, a bicicleta sempre foi o meio de transporte no Capão. Mas, a partir de 2014, a brincadeira de criança começou a ficar séria. Motivado por atletas da região e por eventos de bike que costumam ter a Chapada como cenário, Ulan mergulhou de cabeça no esporte e não saiu mais.
O talento foi demonstrado logo cedo e, apenas um ano depois, o já adolescente conquistou o Campeonato Baiano de Mountain Bike. Decidido a seguir na modalidade, Ulan encontrou um desafio: o preço de uma bicicleta profissional e o custo para disputar competições nacionais. Foi aí que o circo entrou na história outra vez.
Apesar de receber ajuda da família do Brasil e da França, o dinheiro não era suficiente. Paolo, então, não pensou duas vezes quando recebeu a oferta de trabalhar em um circo na Europa para levantar o valor necessário.
“Um amigo chamou meu pai para ajudar na montagem e desmontagem de um circo na Europa. Ele trabalhou durante um mês e meio nisso e, quando acabou, a gente estava na França, como sempre íamos nas férias. Ele recebeu o pagamento e foi direto comigo na loja para comprar a bicicleta. A bike, de carbono, era 80% da grana que ele ganhou, mas ele quis fazer isso por mim”, contou Ulan ao Uol.
De lá para cá, o ciclista empilhou conquistas nacionais e internacionais e tem o ex-atleta Henrique Avancini como mentor. Aos 26 anos, o baiano sonha em fazer história em terras francesas para voltar ao Brasil com o ouro olímpico. Principal incentivador, Paolo sofre de esclerose múltipla e não consegue se locomover sozinho. Ao lado de Maryanne, ele acompanhará o filho de longe, mas nem por isso faltará apoio no Velho Continente.
Logo na chegada a Paris, Ulan teve uma grande surpresa e foi recebido por uma tia no aeroporto. O encontro não foi combinado e aconteceu de forma totalmente aleatória. Irmã de Paolo, Catharina Galinski é médica aposentada e é motorista voluntária dos Jogos. Justamente ela foi designada para levar o sobrinho à Vila Olímpica. Um sinal de que os ventos do Capão vão soprar a favor do baiano francês.
Já no clima da Olimpíada, Ulan Galinski entrará em ação hoje, às 9h10 (horário de Brasília). Ele concorre na categoria Cross-country. O Mountain Bike é a modalidade de ciclismo disputada em terrenos acidentados, o que inclui trilhas, montanhas e florestas, e exige atenção dos competidores.
Curiosamente, a França é a maior vencedora do esporte na Olimpíada, tendo conquistado três medalhas de ouro em seis edições. O melhor resultado do Brasil na categoria foi o 13º lugar com Henrique Avancini, nos Jogos de Tóquio-2020. Agora, o ídolo prepara o pupilo para seguir fazendo história.