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Estadão
Publicado em 26 de julho de 2024 às 09:52
A Olimpíada de Paris-2024 será oficialmente aberta nesta sexta-feira com uma cerimônia sem precedentes às margens do Rio Sena, na primeira vez que o evento será realizado ao ar livre, fora de um estádio principal. Foi montado um forte esquema de segurança, com várias restrições de circulação na cidade, e organizada uma estrutura complexa para que tudo se encaixe. >
Os organizadores prometem Jogos "icônicos", tendo a Cidade Luz como pano de fundo. Os barcos levarão atletas pelo Sena em percurso de 6 quilômetros até abaixo da Torre Eiffel. Eles passarão pelos principais pontos turísticos da cidade: a Catedral de Notre Dame, o Louvre, o Museu D'Orsay e o Grand Palais em uma rota animada com luz, shows, música e esportes até terminar o percurso na Torre Eiffel e no Jardim do Trocadero.>
Serão 205 delegações e 85 barcos desfilando durante duas horas e meia. Dez embarcações estão reservadas como reforço para o caso de alguma avaria, enquanto outras 15 vão trabalhar na organização do desfile, que deverá ser sincronizado com o ritmo do "show" que vai acontecer nas margens do rio, nas pontes e nos telhados de Paris.>
Cerca de 326 mil espectadores - 104 mil em lugares pagos no cais inferior e 222 mil gratuitos no cais superior - deverão assistir à cerimônia de abertura no Sena, o evento mais importante dos Jogos. O desfile começará na Ponte Austerlitz, próximo ao Jardin des Plantes, às 14h30 (de Brasília).>
Por tradição, o desfile é aberto pela delegação da Grécia, já o país europeu é berço dos Jogos na antiguidade e sede da primeira edição da Olimpíada na Era Moderna. O Brasil terá como porta-bandeiras na cerimônia o canoísta Isaquias Queiroz e a jogadora de rúgbi de sete Raquel Kochhann.>
"Estamos prontos e estaremos prontos durante toda a competição", disse o presidente francês Emmanuel Macron, segundo o qual escolher o Sena para a insólita cerimônia foi "uma loucura" no início. "Mas será a única cerimônia com artistas de calibre mundial, bailarinos e uma orquestra" que "transformarão Paris em um grande teatro ao ar livre", acrescentou o político, sem dar mais detalhes. Horas antes do evento, ainda havia ingressos disponíveis. Os mais baratos partiam de 1.600 euros (cerca de R$ 9.680).>
Restrições e bloqueios>
Os principais aeroportos estarão fechados durante a cerimônia por razões de segurança e foram estabelecidos perímetros de segurança em torno dos locais, limitando estritamente a circulação de carros, incluindo táxis. As restrições no centro da cidade se somam à implantação, desde segunda-feira passada, de faixas específicas para uso olímpico, o que complica ainda mais o trânsito. Foram instaladas cerca de 40 mil barreiras em Paris.>
Há controles em toda a capital francesa para o acesso às margens do Sena, um dos principais protagonistas dos Jogos e que receberá prova de águas abertas e também natação do triatlo. A zona protegida, às margens do rio, foi ativada quinta-feira da semana passada. Há o trabalho de busca e detecção de possíveis artefatos e explosivos nos barcos que desfilarão.>
Foi instalada uma barreira náutica anti-intrusão, no leste de Paris, com sonares ao fundo. O Exército francês está mobilizando "meios excepcionais" para garantir a área de embarque dos 7 mil atletas que participarão da cerimônia de abertura dos Jogos.>
Um batalhão de cerca de 800 militares especializados está mobilizado há cerca de 20 dias, numa área de quatro quilômetros de comprimento e dois quilômetros de largura, para uma operação de segurança de grande envergadura que culminará nesta sexta. Para o evento, o país europeu conta com 10 mil militares, 45 mil agentes de segurança e drones de vigilância.>
Em vários pontos da cidade cartazes chamativos, flâmulas olímpicas e outros elementos dão cor à cidade e anunciam o megaevento. O que dita mesmo a proximidade da cerimônia são os bloqueios e acessos restritos ao entorno do Rio Sena, região bastante visitada por turistas.>
Brasil apoia segurança>
A pedido do governo francês - que estendeu a solicitação a outros 45 países -, a Polícia Federal do Brasil enviou 14 agentes para ajudar as forças de segurança do país europeu no esquema de segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Os policiais federais brasileiros chegaram em solo francês no dia 15 de julho e ficam até 8 de setembro.>
Agentes de segurança da Embaixada brasileira em Paris vão compor o centro de cooperação internacional da Olimpíada, a pedido da organização dos Jogos, e não do governo francês, e também vão fazer a escolta da delegação brasileira.>
Novas tecnologias>
Um sistema de câmeras de vigilância algorítmica, ativado por inteligência artificial, foi instalado nas ruas de Paris para detectar eventuais movimentos repentinos, objetos abandonados que possam indicar a presença de bombas e pessoas deitadas no chão, que possam estar escondidas ou preparando um ataque surpresa.>
As câmeras estão conectadas a um centro de comando e à tecnologia de inteligência artificial que pode sinalizar infrações menores - quando alguém estaciona ilegalmente ou entra em um parque público após o expediente - bem como atividades potencialmente suspeitas, como alguém tentando acessar um prédio escolar.>
Abertura no despoluído Rio Sena>
Para demonstrar que o rio tem condições de receber as provas e que água está limpa, a ministra do Esporte, Amélie Oudéa-Castéra, e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mergulharam no rio, que recebeu investimento de mais de 1 bilhão de euros para ser despoluído. O nível de coliformes fecais na água do rio que atravessa a capital francesa, com longo histórico de poluição, é medido diariamente.>
"A água está muito, muito boa. Um pouco fria, mas não está ruim", dissera a prefeita quando nadou em um dos mais famosos rios do mundo e que banha a capital francesa. Ela também disse que viveu "um sonho" ao mergulhar e afirmou ter feito um "testemunho do trabalho duro (da prefeitura)".>
O discurso do presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Tony Estanguet, está alinhado ao da prefeita. "Todos os sinais estão favoráveis em relação ao Sena", disse o ex-canoísta, primeiro atleta francês a conquistar três medalhas de ouro em três Jogos Olímpicos diferentes (Sydney-2000, Atenas-2004 e Londres-2012).>
O banho no Sena está proibido desde 1923, em razão da poluição do rio, que, como tantos outros mundo afora, foi vítima do processo de urbanização desorganizada das cidades.>
Paris pretende que, além de receber provas olímpicas, o Sena seja liberado, a partir do verão de 2025, para o mergulho dos cidadãos parisienses, o que seria um legado gigantesco para a cidade. A organização dos Jogos e o patrimônio deixado aos cidadãos têm sido tema de escrutínio global cada vez maior, uma vez que arcar com a estrutura complexa para a prática de diversos esportes, sem contar a segurança de atletas, exige investimentos vultosos e benefícios não garantidos à população. Sede dos Jogos de 1992, Barcelona é comumente citada como exemplo de legado, enquanto Atenas (2004) teria ajudado a empurrar a Grécia para uma gigantesca crise financeira.>