Baiano, Breno Correia entrou na natação para melhorar saúde e hoje está na segunda Olimpíada

Soteropolitano foi campeão e recordista mundial no revezamento 4x200; conheça

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  • Gilberto Barbosa

Publicado em 27 de julho de 2024 às 05:00

Baiano posa em frente à piscina da Arena Paris La Défense, onde disputará o revezamento 4x100 livre
Baiano posa em frente à piscina da Arena Paris La Défense, onde disputará o revezamento 4x100 livre Crédito: Reprodução/Instagram

Medalhista em Jogos Pan-Americanos e mundiais de piscina curta, recordista, fã de trap, formado em administração e cursando economia. Esse é o nadador soteropolitano Breno Correia, 25 anos, que se prepara para sua segunda experiência olímpica. Ele compete no revezamento 4x100m livre, neste sábado (27), na piscina da Arena Paris La Défense.

O primeiro contato de Breno com a natação foi ainda em Salvador, aos 6 anos de idade. Ele tinha muitos problemas causados por sinusite e rinite alérgica, com idas constantes ao hospital, e os médicos recomendaram o esporte como uma forma de ajudar a melhorar a respiração.

As primeiras nadadas ocorreram na Escola Tempo de Crescer, no Caminho das Árvores. Em seguida, o baiano se juntou à Associação Cultural e Esportiva Braskem (ACEB), o seu clube formador. Mesmo praticando outros esportes, como judô, futebol e capoeira, o jovem Breno foi tomando gosto pelas piscinas, começando a competir aos 9 anos. Ele ainda representaria outros dois clubes soteropolitanos antes de se mudar para Vitória, no Espírito Santo, com 10 anos.

“Eu e minha mãe acompanhamos ele. Ficamos seis meses e, em seguida, ele foi transferido para o Rio de Janeiro. Depois de duas semanas, fomos para Campo Grande, bairro da Zona Oeste, onde eu encontrei um clube federado, o Clube dos Aliados, que era ligado ao Vasco da Gama”, conta.

Além do cruz-maltino, ele também competiu por equipes como o Tijuca Tênis Clube e o Flamengo. Aos 14 anos, enquanto representava o rubro-negro carioca, os problemas respiratórios retornaram durante a preparação para o Campeonato Brasileiro da modalidade.

“Eu tinha sido campeão no primeiro semestre [de 2013] e o meu objetivo era repetir esse desempenho. Porém, ainda morava em Campo Grande e, além do inverno ser bem frio, a piscina não era coberta, limitando as condições de treino. Eu fui treinar em um colégio na região, que tinha piscina aquecida, e reparei que meu tempo nos treinos estava um segundo mais alto. De início, achei estranho, mas relevei”.

Devido ao frio, ele ficou doente durante boa parte do segundo semestre, e estava tomando antibióticos quando foi defender o título nacional. Foi atrapalhado por isso, ainda que tenha conquistado medalha na competição. Mas o estresse causado pelas constantes recaídas preocupou seus pais, que queriam que ele renunciasse ao esporte.

“Eles falaram com o Flamengo, que passou o contato de uma pneumologista de São Paulo, e a gente foi no consultório. Eles queriam que ela me convencesse a parar de nadar e ela disse que tinha tratamento conceituado para o meu problema e que eu poderia seguir nadando. Eu entrei na sala fiz o teste de espirometria e quando deu o resultado ficou constatado que eu tinha um tipo asma induzida por exercícios físicos. Com isso, eu segui nadando e hoje em dia, eu tomo a bombinha antes de fazer esforço”.

Em 2017, ele se mudou para São Paulo, onde passou a representar o Esporte Clube Pinheiros. Durante dois meses, morou em uma república de atletas enquanto a família procurava um apartamento na cidade. Em março, voltou a morar com os pais, com quem mora até hoje.

“Eu devo muito a eles, não só a criação enquanto filho, mas também porque eles são muito presentes na minha vida e na minha carreira. Minha mãe é quem prepara minha comida e meu pai sempre me leva para o treino. Eles não vão para Paris pelos custos serem muito altos, mas o clima em casa está bem tranquilo”.

Título, recorde mundial e Olimpíada de Tóquio

Os bons desempenhos nas competições nacionais lhe renderam uma vaga na seleção brasileira, em 2018, aos 19 anos. No primeiro ano na equipe nacional, ele conseguiu feitos históricos, como a medalha de bronze no revezamento 4x100 metros e o ouro, com recorde mundial, no revezamento 4x200m conquistadas no Mundial de Piscina Curta, em Hangzhou, na China.

“Foi uma emoção muito grande porque era meu primeiro ano de seleção e nós chegamos com chances de medalha. No primeiro dia, fomos bronze no 4x100 livre e isso mudou o astral para o resto da competição. Eu estava muito rápido e, no segundo dia, peguei final nos 200m livre e quase medalhei. Com isso, eu percebi que a nossa projeção para o 4x200 tinha condições de brigar por recorde mundial”, explica.

A projeção começou durante os treinamentos no clube paulista, feitos com outra formação, onde nadavam próximos ao recorde sul-americano. Um dos companheiros era Luiz Altamir, que foi para o mundial. A dupla passou a projetar uma redução de um segundo durante os treinos para chegar com condições de disputa. Eles se juntariam no mundial a Fernando Scheffer - que seria medalhista na Olimpíada de Tóquio -, o que animava ainda mais o grupo.

“A questão era o quarto nadador, que se segurasse o tempo próximo ao meu e o do Luiz. Falamos disso durante a preparação e estávamos confiantes de que a gente bateria esse tempo. Falamos muito de ser o Leonardo Santos e a comissão queria o Leonardo de Deus. Nisso, decidimos que quem nadasse melhor no campeonato faria a final. Após as provas, foi decidido que o Leonardo de Deus nadaria pela manhã e o Leonardo Santos faria a final”.

A classificação foi de maneira modesta, com o sexto melhor tempo, já que o grupo havia decidido nadar apenas para garantir a classificação. O resultado causou desconfiança na imprensa, que passou a acreditar que o grupo estava cansado e não renderia bem na final, pela tarde.

"Nós chegamos muito leves e decididos a dar o nosso melhor. Na prova, aconteceram algumas coisas que a gente conversa até hoje. Antes de entrarmos, o Fernando [Scheffer] olha para a gente e grita ‘come on, boys!’ e gritamos junto. Os outros nadadores nos olharam pensando ‘quem são esses brasileiros?’ e a gente começou a rir”.

O primeiro a nadar foi Luiz Altamir, que entregou o revezamento na segunda posição, atrás dos Estados Unidos. Fernando Scheffer entrou em seguida e assumiu a liderança. Leonardo Santos foi o terceiro e manteve o ritmo, mas foi ultrapassado por Rússia e China. Breno ficou com a missão de fechar a prova.

“Quando eu desci na água, eu vi que o nadador chinês era de 200 medley e sabia que ele não me venceria. Depois que abri distância, eu demorei para conseguir ver o russo, que estava em uma raia afastada, mas eu o alcancei e nós ganhamos. Quando vimos o resultado, foi aquela emoção, choro e muita alegria, porque a gente sonhou, almejou, estávamos treinados e buscamos a medalha”.

Durante a preparação para Tóquio-2020, o baiano competiu nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, onde conquistou cinco medalhas, com dois outros e três pratas. Ele também foi finalista em mundiais de piscina longa e curta, com um bronze no período. Durante a seletiva brasileira, conquistou os índices olímpicos nos 200m livre e nos revezamentos 4x100m e 4x200m livre. No entanto, a prova individual chocava com um dos revezamentos, e ele precisou renunciar, priorizando o time.

Em Tóquio-2020, Breno chegou às finais dos revezamentos masculinos 4x200m livre e 4x100 livre, mas o país ficou em 8º em ambos. “Mesmo o resultado sendo longe do que esperávamos, eu fiquei muito satisfeito com as duas finais. Poderia ter sido melhor se tivesse ganhado medalha, mas se foi assim era porque tinha que ser. Essa foi uma experiência que eu vou levar para a vida toda e que me deixa para pronto para Paris”.

Ciclo para Paris

Após a Olimpíada de Tóquio, ele competiu no Pan-Americano Júnior de Cali, em 2021, onde foi o porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura. Os cinco ouros e uma prata conquistados na competição garantiram a participação dele no Pan-Americano de Santiago, em 2023, onde ele levou duas medalhas douradas, nos revezamentos 4x100m e 4x200m livre. O ciclo também contou com um bronze no Mundial de Piscina Curta de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, em 2021.

“Foram 10 semanas de preparação até Santiago, onde eu me sentia bem. Nos 200m livre eu fiquei em 5º, onde fiquei triste por não pegar medalha, mas vida que segue. Nadei o 4x100m e fomos ouro. Eu, inicialmente, não estava programado, mas, na manhã da prova, me avisaram que eu ia nadar a final. Cada um fez a sua parte e nós conseguimos sair com o ouro, em uma das provas mais emocionante que participei e que eu guardo com muito carinho”.

Antes do Pan, ele precisou lidar com resultados ruins em seletivas no início de 2023, que custaram classificação para o Mundial de Esportes Aquáticos, no Japão, e só não o tiraram do Pan de Santiago, porque os resultados de Cali o haviam classificado. Ainda assim, ele decidiu reavaliar os treinos.

“Eu não estava nadando bem em 2023, sem pegar seleção principal e senti que precisava mudar algumas coisas no treino. Eu troquei minha equipe e treinadores e fazia os treinos com eles à distância. No final de 2023, eu fiquei treinando sozinho aqui no clube, incluindo Natal e Ano Novo”, disse.

Na Seletiva Olímpica, realizada no início de 2024, ele garantiu a quarta vaga do revezamento 4x100m livre. “Esse momento é um pouco diferente do último ciclo, porque eu era uma promessa na época e cheguei em uma final olímpica. Agora, o peso é menor, com os pés no chão, mas ainda assim dando o nosso melhor e sonhando com uma medalha”, finalizou.

Hobbies e rituais

A rotina de atleta olímpico demanda boa parte do tempo de Breno, que divide seus dias entre os treinos e musculação. Em paralelo, ele faz faculdade de economia, na modalidade a distância. Esse é o segundo curso do baiano, que também é formado em administração.

“A rotina te deixa muito desgastado e indisposto. Tirando as obrigações, costumo jogar FIFA com o pessoal do Pinheiros. Quando estou em casa, eu fico de bobeira no quarto, usando o Instagram. Eu também saio com minha namorada nos finais de semana. Essas coisas ajudam a manter a cabeça tranquila”.

Desde os 16 anos, ele prepara uma lista de reprodução para as principais competições, seguindo sempre o mesmo ritual: a última música que será ouvida antes de pular na água é a primeira da lista. O principal ritmo é o rap internacional, além da banda Imagine Dragons. “A música é parte do meu processo de concentração. Eu também rezo quando começo o dia. Música e fé são os meus rituais”.

*Com orientação do editor Miro Palma