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Thais Borges
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Dona Elma ficou sem receber um documento. Cristiane só descobriu depois que precisou apresentar um comprovante de residência para fazer um cartão. Já dona Angelina recebe correspondências com dois Códigos de Endereçamento Postal (CEPs) diferentes – referindo-se à mesma rua.
Essas três mulheres são moradoras de Cajazeiras. As três foram afetadas por uma mudança nos CEPs de uma das principais regiões de Salvador: além de Cajazeiras, também Boca da Mata, Águas Claras e Castelo Branco. Juntos, os bairros reúnem uma população de mais de 177 mil moradores, segundo dados do Censo 2010, do IBGE. A alteração foi anunciada pelos Correios na manhã desta terça-feira (9) e é a primeira leva de uma série de mudanças nos CEPs da capital. Ainda não há data para as próximas.
De acordo com a assessoria dos Correios, a medida foi devido à lei municipal nº 9.278, aprovada no ano passado e que criou 163 bairros na cidade – antes, eram apenas 32. Assim, a empresa iniciou uma “ampla atualização do Sistema de Diretório Nacional de Endereços (DNE)”, que resultou no ajuste de ruas e trechos para outros bairros e CEPs alterados.
Só Cajazeiras foi oficialmente dividida entre 13 bairros – além de todas as homônimas, há ainda locais como Jaguaripe I e Fazenda Grande I, II, III e IV. Ao todo, 1.302 CEPs foram atualizados, entre todos os 1.913 existentes no antigo bairro de Cajazeiras. As mudanças foram concluídas em setembro.
Moradores Foi o caso da montadora Elma Cândido, 67 anos. Desde que chegou de São Paulo (SP), em 1992, ela mora no Caminho 13 de Cajazeiras XI. No entanto, já um mês, descobriu que o CEP que sempre informava a pessoas e serviços tinha mudado. A filha estava para receber um documento vindo da capital paulista, mas a encomenda foi devolvida. “O pessoal da empresa ligou para ela e mandou pelo ‘Zap’ (Whatsapp), aí deu tudo certo. Mas ninguém falou nada, simplesmente mudaram. Eu nem sei o CEP novo ainda, meu filho que sabe”, admite ela, que vive com os dois filhos e três netos. Agora, ela diz que está mais atenta: já sabe que, se alguma encomenda não chegar, é provável que esse seja o motivo. As contas de água e luz, por outro lado, têm chegado certinho – no dia e sem nenhum problema. “Quando é conta, vem tudo certo. Se fosse outra coisa, não chegava. Mas água e luz batem certo”, diz, aos risos.
Por outro lado, a aposentada Angelina Bispo, 61, não recebeu a conta de água deste mês até agora. A previsão era para ter chegado nos primeiros dias de outubro, já que o vencimento é para esta quarta-feira (10). Quando foi comparar os boletos de energia e água, porém, foi que percebeu a diferença. A aposentada Angelina Bispo não tem conseguido receber alguns boletos (Foto: Roberto Abreu/Arquivo CORREIO) No último de água, de setembro, o CEP era um – e ainda dizia ser da Fazenda Grande IV. No de energia, deste mês, o CEP era outro, com o nome da Fazenda Grande II. “Eu já tinha uma dificuldade para minhas faturas chegarem aqui, porque dizem que o prédio é novo. Só chegam contas de água e luz, mas não de cartão de crédito, que tenho que mandar para a casa de minha mãe, na Santa Cruz. Agora, vem isso”, diz ela, que conta que está até pensando em se mudar do bairro.
A vigilante Cristiane Nascimento, 33, não sabe precisar quando percebeu a mudança do CEP de Cajazeiras VIII, há alguns meses. Foi avisada, na verdade, pela atendente de uma loja, quando tentava fazer um cartão e precisou apresentar um comprovante de residência. Cristiane descobriu quando foi pedir um cartão de crédito (Foto: Roberto Abreu/Arquivo CORREIO) Moradora da mesma rua desde que nasceu, começou a perceber que, no final de 2017, as correspondências começaram a não chegar – somente contas de água e luz acertam o destino. “Hoje mesmo fui pagar o cartão. Tive que ir lá na loja”, conta ela, que, até hoje, não sabe dizer o novo CEP de cabeça.
Há três meses, estava para receber um cartão, que demoraria cerca de 20 dias para ser entregue. Isso não aconteceu. Algum tempo depois, a empresa informou que ela receberia novamente em até oito dias. “Até hoje, não recebi e não sei depois o que aconteceu”.
Ela acredita, porém, que a maior parte dos vizinhos sequer imagine que a mudança de CEPs ocorreu. “O pessoal da rua mesmo... Acho que ninguém sabe”, admite.
Ao CORREIO, a Coelba informou que não é afetada pelas mudanças porque não usa os Correios para a entrega das correspondências - a conta de luz é calculada a partir da leitura do medidor de cada casa e entregue no local.
É o caso da cuidadora de idosos Delza Pereira, 61, que mora em Cajazeiras IX. Como ela só costuma receber correspondências de água e luz, não viu nenhuma diferença. “Meus recibos chegam normalmente, bem antes de vencer. Mas só olhando para ver se mudou alguma coisa”.
Como ficar sabendo Quem quiser saber se o seu CEP mudou já pode consultar o novo número no site dos Correios na internet (www.correios.com.br). Através da assessoria, a empresa destacou que, “como a alteração do DNE resultou em inclusões, alterações e exclusões de logradouros, é importante a população estar atenta para obter o novo CEP de seu endereço, caso ocorra alteração”.
Ainda de acordo com os Correios, as alterações já estão sendo comunicadas através de mala direta postal aos moradores dos bairros afetados, sendo entregues pelo próprio carteiro que atende o logradouro. O impacto, segundo a empresa, chegou apenas à equipe do Centro de Distribuição Domiciliar de Cajazeiras, que deve continuar realizando a distribuição dos objetos postais normalmente até a consolidação da informação pelos clientes.
Se alguém deixar de receber uma encomenda ou correspondência, os Correios informam que os objetos "receberão a identificação de Mal Endereçados, inserção do CEP correto e serão recolocados no fluxo postal de distribuição ao destinatário". A empresa garante que nenhum cliente será prejudicado com a mudança.