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Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2021 às 12:04
- Atualizado há 2 anos
A preocupação com a crescente escalada de violência contra jornalistas em todo o estado da Bahia é um sentimento compartilhado por todos os profissionais do setor, o que requer ações mais enérgicas por parte das autoridades governamentais e do Poder Judiciário a fim de solucionar esse grave problema que tem atingido toda a nossa categoria.
Faz-se necessário, portanto, a apuração, investigação, justiça e proteção aos jornalistas atingidos por ameaças, agressões, perseguições, assédio moral, assassinatos e crescentes ataques milicianos durante o exercício da profissão em nosso estado. Tais crimes não atingem apenas a vida profissional, mas também pessoal e familiar dos jornalistas. Cria seqüelas físicas e emocionais graves.
É papel do jornalista questionar, mostrar os dois lados da notícia e denunciar as mazelas da sociedade, sem ser punido por exercer seu ofício com ética.
Como afirma o presidente nacional da Associação Brasileira de imprensa, Pagê: "A democracia pressupõe o direito de crítica e é a obrigação das autoridades a garantia do exercício desse direito. É preciso dar um basta nesse comportamento criminoso, cujo crescimento nos últimos três anos tem sido alarmantes na Bahia, desde a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro, em 2019.
Podemos enumerar vários casos de agressão a jornalistas:
- Como o da repórter Driele Veiga, da TV Aratu, chamada de "idiota" pelo presidente da República depois de ser questionado sobre a postagem da foto com a mensagem "CPF Cancelado" em meio a tantas mortes por covid no Brasil ,em 26 de abril 2021, durante evento de entrega de parte da duplicação da BR-101, entre Feira de Santana (BA) e a divisa com o estado de Sergipe .
- A fotógrafa Paula Fróes, do Jornal Correio, agredida verbalmente em 14 de março 2021 durante cobertura de manifestação contra as medidas de distanciamento. Enquanto registrava imagens do evento, a repórter foi chamada de "palhaça" e "vagabunda", entre outras ofensas, e foi cercada pelos manifestantes, simpatizantes ao governo de Bolsonaro, que queriam o fim do distanciamento social.
- As perseguições e ameaças contra o repórter Bruno Wendel, do Correio, após publicação de reportagem envolvendo um policial militar suspeito de participação miliciana em extorsões e assassinatos no dia 16 de maio de 2021. Uma ligação telefônica com ameaça de morte e uma manifestação assinada pela 59ª Companhia Independente de Polícia Militar (Vila de Abrantes) foram dirigidas ao repórter, classificando as informações da matéria como inverídicas, mentirosas e sem credibilidade.
As intimidações, perseguições e ameaças de morte à jornalista Milmara Nogueira e sua família, por denunciar, desde 2018, o crescimento de organizações criminosas oriundas do eixo Rio/São Paulo na Bahia e em todos os estados do nordeste e ações milicianas de grupos de extermínio no setor imobiliário, grilagem de terras, expulsão de moradores de aluguel e proprietários de suas residências.
- O assassinato do produtor da Record, TV Itapoan, José Bonfim Pitangueira, morto com 11 tiros, a caminho do trabalho na manhã do dia 09 de abril de 2021.
- A violência contra o radialista e jornalista Davi Alves, da Rádio Alvorada FM, no município de Jeremoabo/BA, em setembro de 2020, agredido física e verbalmente quando realizava matéria sobre o uso de material da administração municipal, em obra particular, sendo agredido por funcionários e pelo secretário de Infraestrutura, João Batista Andrade, durante gestão do prefeito Derisvaldo dos Santos (PP).
- O crime cometido contra o radialista Weverton Rabelo Fróes, conhecido como Toninho Locutor, de 32 anos, no dia 4 de abril deste ano, morto a tiros em frente à casa onde morava, em Planaltino, centro sul da Bahia, na região de Fazenda Guariba, zona rural da cidade.
- A morte do jornalista e radialista Geolino Lopes Xavier, de 44 anos, conhecido como Gel Lopes, morto a tiros, no centro de Teixeira de Freitas, extremo-sul da Bahia, no dia 27 de fevereiro de 2014, por homens não identificados.
- A impunidade dos assassinos do jornalista Manoel Leal de Oliveira, ocorrido em 14 de janeiro de 1998. Três pessoas foram acusadas pelo assassinato. Apenas o ex-policial Mozart Brasil foi condenado , em setembro de 2003, a 18 anos de prisão.
Também alertamos e viemos denunciar sobre a urgência em combater o crescimento acelerado de grupos milicianos em território baiano, com ações de fiscalização das atuações das polícias e corregedorias das polícias.
Só este ano foram presos cerca de 20 integrantes das forças de segurança, associados com crimes, fato constatado através de estatísticas, por órgãos diversos, em contato com jornalistas e pesquisadores da Segurança Pública no Estado.
No último dia 5 de maio, a Polícia Militar prendeu três ex-agentes penitenciários, suspeitos da tentativa de seqüestro a um empresário de Cruz das Almas, cidade da região do Recôncavo Baiano.
No dia 17 de abril, um ex-policial civil foi preso por envolvimento com uma quadrilha de traficantes da Boca do Rio, em Salvador/BA. Ainda no mês de abril, dois policiais civis foram presos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais – Gaeco, por associação com plantadores de maconha, na região da Chapada Diamantina.
Em fevereiro deste ano, sete policiais militares e um policial civil foram presos por integrar uma milícia que praticava diversos crimes de homicídio e intimidação coletiva, em municípios no sul e sudoeste da Bahia, como Vitória da Conquista, Teixeira de Freitas, Porto Seguro, Itabuna, Ilhéus e Itacaré.
Por fim, reivindicamos ações enérgicas e acompanhamento minucioso sobre as investigações nos episódios de tortura e morte dos jovens Bruno e Yan Barros, tio e sobrinho, respectivamente, entregues a supostos "traficantes" e assassinados no dia 26 de abril, depois de supostamente terem furtado carne, no supermercado Atakarejo, no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador/BA.
Protocolamos na tarde do dia 25/05/2021, uma Carta de Reivindicações, nas comissões de Direitos Humanos e Segurança Pública, e a de Constituiçao e Justiça da Assembleia Legislativa do Estado – Alba, da Bahia. Estamos aguardando pronunciamneto dos senhores deputados. Reafirmamos, portanto, o nosso apoio a esta luta, árdua e democrática, nos colocando à disposição para buscar soluções. Assim como acreditamos que unidos podemos encontrar um caminho de segurança, solidariedade, união e justiça para todos os baianos.
Fabio Costa Pinto, jornalista, sócio efetivo da Associação Brasileira de Imprensa – ABI e Representante na Bahia. Filiado a FENAJ e ao Sinjorba.