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Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2020 às 19:21
- Atualizado há 2 anos
(Foto: Ascom/UNEB) Após quase sete meses sem aulas, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) aprovou, em reunião do Conselho Universitário (Consu) nesta terça (6), a retomada das atividades de ensino da graduação presencial de forma remota. O novo calendário ainda não foi definido, mas o reitor da instituição, José Bites de Carvalho, trabalha com o retorno das aulas em até 3 semanas.
O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) ainda vai definir o calendário acadêmico para a retomada das aulas e como as disciplinas serão ofertadas, informou o reitor. O Consepe vai ser convocado nos próximos dias, segundo Carvalho.
“O retorno que estamos falando é do ensino da graduação dos cursos presenciais, estamos funcionando com a pós-graduação, EaD, atividades de pesquisa e extensão. Essa temática era um discussão na universidade, mas dependia de um posicionamento do Consu. Esperamos que em duas ou três semanas estejamos dando começo às atividades de aula remota”, afirma o reitor.
O estudante não será obrigado a se inscrever nas matérias ofertadas no período de atividades remotas da Uneb, mas o reitor espera que seja possível fazer com que os alunos cursem, pelo menos, uma disciplina. “As ideias ainda serão validadas pelo Consepe, mas devemos trabalhar com a matrícula em 2 a 3 componentes. Não pode ser nos moldes normais”, ressalta Carvalho.
Um plano conectividade foi implementado para que os estudantes que não possuem uma boa conexão com a internet ou os equipamentos necessários para realizar o estudo online possam receber o auxílio da universidade. “O plano inclui investimento em TI, bolsa para auxiliar na compra de equipamentos, entrega de internet para a comunidade acadêmica. Não podemos deixar ninguém de fora, temos muitos campi e nem todos os lugares têm a mesma qualidade de conexão”, afirma Carvalho.
Na manhã desta terça (6), o Consu avaliou as respostas dos questionários aplicados na comunidade acadêmica sobre a possibilidade de retorno das aulas. Segundo o reitor da Uneb, a pesquisa mostra que a maioria dos alunos, técnicos, professores e terceirizados da Uneb são favoráveis à retomada das atividades da graduação apesar das dificuldades.
Em julho, o semestre 2020.1 dos cursos de graduação na modalidade a distância ofertados pela instituição foi iniciado. As aulas da Uneb foram suspensas em 16 de março devido à pandemia do coronavírus.
Queixas dos alunos Antes do Consu aprovar a retomada das aulas da graduação na modalidade online, estudantes da Uneb, tanto os veteranos quanto os calouros que esperavam ingressar no curso dos sonhos, se questionavam sobre quando o limbo acadêmico gerado pela pandemia iria acabar.
O reitor da Uneb explicou que os meses entre a suspensão das aulas e uma decisão sobre a retomada da graduação presencial foi fruto de um processo para que a entidade pudesse avaliar da melhor forma o retorno das atividades remotamente.
“Isso foi importante porque somos multicampi e fizemos uma discussão com a comunidade. Entendo o lado dos alunos, mas esse foi o tempo que conseguimos para realizar esse processo com embasamento nas informações das diferentes realidades existentes na Uneb”, ressalta Carvalho.
Boa parte dos que passaram na Uneb em 2020 - pelo vestibular ou pelo Sisu - ainda não é aluno oficial da instituição já que as matrículas não ocorreram. Os calouros dos semestres das incertezas se reuniram em um grupo e criaram uma abaixo-assinado solicitando a matrícula online. O documento já possui 750 assinatura em 5 dias.
“Apenas os que passaram nas primeiras chamadas no vestibular e sisu para o semestre de 2020.1 conseguiram se matricular, mas não sabemos se eles possuem o número de matrícula. O restante está esperando um posicionamento da Uneb há meses, alguns há quase 7 meses”, comenta Vitória Santana, 20 anos, que foi aprovada no curso de medicina da Uneb em julho. Vitória ainda não conseguiu se matricular no curso de medicina da Uneb (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal) Os problemas com as matrículas dos calouros devem ser resolvidos ainda neste mês, garante o reitor. De acordo com ele, os dados dos estudantes que já entregaram os documentos de matrícula foram encaminhados para as secretarias dos cursos e estes alunos receberão o comprovante de matrícula. Segundo Carvalho, a ideia é que os calouros possam assistir às aulas online.
Os alunos que ainda não conseguiram se matricular também poderão oficializar o ingresso na instituição ainda em outubro. “Os que ainda não enviaram os documentos serão convocados. Tentamos fazer isso online, caso não seja possível, existirá uma estrutura segura para que o aluno possa realizar a matrícula presencialmente”, aponta o reitor, que também estuda a possibilidade de realizar a aferição da cotas de forma digital.
A caloura de medicina parou de estudar para outros vestibulares e, com a demora da Uneb para emitir um posicionamento sobre o caso, espera ansiosa o dia em que vai poder dizer que realmente é estudante na instituição. O futuro colega Fabrício Barbosa, 33, vai se mudar de Curitiba para Salvador com o seu marido. Ao saber da aprovação em medicina após quase 4 anos de cursinho, o casal decidiu que era hora de se mudar e, para isso, o esposo pediu demissão.
“A gente tinha acabado de financiar um apartamento em Curitiba pois imaginávamos que seria mais fácil passar lá. Como fui aprovado em Salvador, meu marido pediu exoneração de um concurso público e demissão de outro emprego com carteira assinada. Colocamos o apartamento à venda e estamos procurando um lugar para morar em Salvador”, conta Fabrício sobre os preparativos para a mudança em meio a tantas incertezas.
Além de ter que se organizar para iniciar uma nova vida em outra cidade, os estudantes ainda temiam perder a vaga na instituição já que a matrícula não foi efetivada. Todo esse processo só causa ansiedade. Calouro de Letras Vernáculas no Campus de Caetité, George Rodrigues, 20, conta que sente medo pela falta de informações por parte da Uneb.
“Como eu tinha passado, não me inscrevi em outros vestibulares, nem no Enem. Estou esperando a matrícula da Uneb. Tenho medo porque os vestibulares de 2021 estão chegando, mas nós ainda nem fomos matriculados. Receio que as nossa vagas sejam canceladas”, afirma George em meio a falta de informação.
Por não possuírem o número da matrícula os calouros da Uneb nem podem ir fazendo cursos para adquirir a carga horária complementar exigida para a formação na graduação. “Mesmo sem aulas, a matrícula seria importante para os calouros”, ressalta Vitória. Ela e Fabrício estão fazendo um curso extracurricular de semiologia médica com uma professora da Uneb, mas não vão poder utilizar as horas para complementar a carga horária do curso de medicina.
“Só fiquei sabendo do curso porque busquei meus colegas nas redes sociais. Essa atividade está sendo muito boa até para a minha saúde mental porque tenho o que fazer. Apesar de não saber se poderei aproveitar o curso como horas complementares já que só podemos apresentar esses créditos de quando já estamos na universidade, o que não acontece pois não temos matrícula”, aponta Fabrício. Calouro de medicina, Fabrício vai se mudar para Salvador para estudar na Uneb (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) Por ser um período atípico, até as atividades realizadas antes dos calouros terem a matrícula em mãos podem valer como horas complementares. “Eu defendo que o que o estudante fez em 2020 possa ser aproveitado com base nos componentes curriculares do seu curso, desde que seja possível comprovar a realização da atividade”, defende o reitor.
Queremos nos formar Enquanto outras universidades pública aderiram ao ensino remoto, a Uneb acabou de aprovar as atividades remotas. Sem aulas há quase sete meses, os veteranos da instituição estadual também se sentem lesados. Na última segunda-feira (5), estudantes dos cursos do Departamento de Ciências da Vida da Uneb protestaram contra a demora para que a entidade dê uma resposta sobre o semestre. Cerca de 20 alunos dos cursos de medicina, farmácia, enfermagem e nutrição foram até a frente do campus Salvador com cartazes delatando a situação.
Os formandos se sentem lesados pois estariam completando o curso, mas, com a pandemia, nem têm uma novo prazo para a formatura. Esse é o caso da estudante de farmácia Larissa Cardoso, 27. Ela planejava colar grau em meados de 2020 já que só precisava fazer mais duas matérias, o TCC e um estágio para acabar com os créditos exigidos para formatura. “Meses se passaram sem um posicionamento. Eu estou parada, mas as contas continuam chegando. Como eu sou do interior, tenho que pagar aluguel em Salvador para não ter aula”, diz Larissa. Sobre a espera, a estudante do 8º semestre e vice-presidente do Centro Acadêmico de medicina da Uneb, Carine Pacheco, 23, comenta: “o curso de medicina é de longa duração e é integral. Os alunos se dedicam 100% para a graduação durante anos e, agora, ficamos parados. Boa parte dos estudantes não são da capital e têm que se sustentar aqui, o que é difícil com esse período sem aulas”
Os estudantes mais antigos pediam que a universidade crie um semestre suplementar remoto não obrigatório para que os que podem e desejam adiantar a formatura possam o fazer
Estágio e internato Além de estarem sem aulas, os estudantes da Uneb também não puderam voltar para os estágio práticos, o que impede que os alunos dos cursos de medicina, farmácia, enfermagem, fisioterapia e odontologia possam atingir os 75% de carga horária dos estágios obrigatórios ou do internato e, assim, antecipar a formatura, conforme a Lei Nº 14.040, de 18 de agosto de 2020.
“Eu preciso fazer um estágio para poder ter a carga horária para antecipar minha formatura. Os campos já foram liberados, mas a universidade não se posicionou sobre a possibilidade dos seus alunos voltarem aos campos de prática”, reclama a estudante de farmácia.
Especificamente para os cursos de saúde, um outro receio é a perda dos campos de estágio. Sem os estudantes da Uneb, eles podem ser passados para alunos de outras instituições que já permitiram a retomada das aulas práticas de atendimento à saúde.
Os estudantes do 11º semestre de medicina voltaram ao internato nesta segunda-feira (5). A turma chegou a ingressar com uma ação civil pública e um mandado de segurança para a retomada da atividade. Mesmo com o retorno, a ação para a retomada do internado ainda corre na justiça, informa uma estudante de medicina.
Segundo a vice-presidente do Centro Acadêmico de medicina da Uneb, os mais novos, do 9º e 10º semestres, ainda não puderam retomar a atuação como internos, enquanto os alunos do 12º semestre puderam adiantar a formatura e se tornar médicos com base na Lei Nº 14.040.
O reitor da Uneb pontuou que o comitê de combate ao Covid-19 da instituição liberou o retorno dos estágios presenciais de saúde e do internato em setembro. “O grupo apresentou os critérios para liberar as atividades presenciais de estágio na área. Se tiver campo de estágio, defendo seguir o protocolo para que os estudantes possam desenvolver os estágio”, aponta Carvalho, que ressalta que os estudantes possuem todos os Equipamentos de proteção individual para atuar durante a pandemia.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela