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Trançadeira da Barra morre após agressões; companheiro é suspeito

Daiane Jesus Santana ficou 25 dias internada e não resistiu

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 11 de junho de 2021 às 05:15

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Nascida e criada numa comunidade da Barra, a trançadeira Daiane Jesus Santana, 26 anos, era conhecida pela irreverência e por ser uma pessoa prestativa. Mas há pouco mais de um ano, quando passou a viver com um companheiro, ela mudou de comportamento e até deixou de falar com os vizinhos. Motivo: vinha sendo espancada, dopada, mantida em cárcere privado e estuprada. Lutou 25 dias pela sobrevivência no Hospital do Subúrbio, mas morreu na última segunda-feira (7) vítima de politraumatismo.  Segundo a Polícia Civil, a morte de Daiane foi em decorrência de violência doméstica e é investigada pela 1ª DH/Atlântico. Ela deu entrada no Hospital do Subúrbio no dia 13 de maio. “O crime ocorreu na Barra, onde ela estava residindo com o companheiro, suspeito do crime”, diz a nota da PC. Apesar de os moradores terem relatado ao CORREIO que o acusado tem moradia no Calabar e foi visto nesta terça (8) e quarta-feira (9) circulando pela Barra, inclusive perto da casa de Daiane, a polícia não sabe sobre o paradeiro dele.  Daiane era mãe de duas crianças, uma de sete e outra de um ano. Ela foi submetida a inúmeras violências por causa dos ciúmes do companheiro, mas, quando pensava em entregá-lo à polícia, lembrava das ameaças de morte. “Ela vivia para essas crianças. Onde ia, levava os meninos. O que vai ser deles agora? Além dos espancamentos, ele a estuprava, a trancava dentro de casa por ciúmes, dopava ela com remédios, fazia miséria com ela, mas nada podia fazer porque ele ameaçou matar os filhos dela”, contou uma prima de Daiane, que preferiu não revelar o nome.   Daiane passou 25 dias internadas, mas não resistiu à violêcnia doméstica (Foto: Divulgação) UTI Daiane morava numa comunidade da Rua do Clube Amazonas, que fica no fundo da agência do Banco do Brasil da Rua Miguel Burnier. Segundo a prima da trançadeira, por volta das 3h do dia 13 de maio, o filho mais velho de Daiane bateu na porta de uma tia para pedir ajuda para a mãe, que era mais uma vez espancada. Na hora, só havia duas mulheres, que tiveram medo de ir até a residência de Daiane naquela hora. Assim que amanheceu, elas foram à casa da trançadeira e a encontraram num estado deplorável.  “Ele já não estava mais lá, mas encontramos Daiane toda acabada. Ela estava caída no chão com o braço quebrado, dores fortes na costela e cabeça de tantos murros que levou, os lábios partidos, falando coisas sem noção, devido ao fato de ter sido dopada por remédios, certamente para não chamar a atenção dos vizinhos durante as agressões”, contou a prima da vítima. A trançadeira foi levada para a casa da mãe, em Itinga. De lá, foi socorrida para o Hospital do Subúrbio. Durante o tempo em que Daiane ficou internada no Subúrbio, a irmã dela, Gilmara de Jesus, fez um apelo nas redes sociais por justiça e deu detalhes sobre o estado de saúde da trançadeira. “Minha irmã se encontra na UTI entre a vida e a morte. Tentativa de feminicídio. Ele partiu o crânio dela e quatro costelas e o braço. Ele deu tanta porrada nela que deu coágulos de sangue por dentro. Devido às pancadas foi piorando e agora ela está com um tumor no tórax e outro na cabeça e o médico disse ela está nas mãos de Deus. Ele já deu a notícia que a qualquer momento pode vir a óbito por favor não vamos deixar isso em pune”, escreveu Gilmara.  Amarrada   Além de fazer tranças, Daiane fazia unhas e sobrancelhas a domicílio e bicos de faxineira, cozinheira e atendente numa pizzaria. “Ela era do corre. Não ficava parada. Tudo para dar o melhor para os dois filhos. Ela nunca deixa eles sozinhos ou com outras pessoas. Onde ia, levava os dois”, contou uma vizinha. Batalhadora, Daiane era também conhecida pelo jeito extrovertido de ser. “Uma pessoa muito alegre e comunicativa, mas que mudou assim que se envolveu com esse homem”, contou. O crime aconteceu numa comunidade onde a entrada é pela Rua Eduardo Diniz Gonçalves (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)  De acordo com os vizinhos, Daiane passou a sair menos de casa e nos raros momentos que era vista, sequer cumprimentava as pessoas, algumas delas que a viram crescer. “O medo que ela tinha dele era tanto, que certa vez alguém notou que o braço dela não mexia e a parou para perguntar. Ela respondeu que não sabia o porquê, mas que iria ao médico. Todo mundo já imaginava que ele andava batendo nela, por causa desses comportamentos. Nos últimos dias, ela estava sem trabalhar porque era trancada em casa com os filhos. Ele saiu e levava a chave”, contou a vizinha.  Mas as agressões contra Daiane começaram a vir à tona na vizinhança no início deste ano, quando os moradores ouviram os gritos de socorro da trançadeira. “Quando todo mundo chegou lá, ela estava amarrada numa cadeira e machucada e os meninos chorando. O pessoal ia bater nele, mas ela não deixou. Ela não disse o motivo, simplesmente não quis que ninguém tocasse nele, muito provavelmente por conta das ameaças aos filhos dela”, relatou. Certa vez, depois de uma briga do casal, o companheiro de Daiane entrou na casa pelo telhado. “Ele destelhou e entrou e mais uma vez bateu nela. A polícia foi chamada, mas ela não foi à frente com a denúncia”, disse uma outra vizinha da vítima.  Calabar De acordo com os moradores, ainda neste ano, Daiane tinha terminado o relacionamento com o companheiro. No entanto, ela a retirou da casa dela e a levou para o Calabar, onde ficou mais uma semana também em cárcere privado. “Depois eles voltaram a morar aqui. Logo depois houve essa última agressão que ela acabou morrendo”, contou uma moradora.  Eles relataram ainda logo após o espancamento que posteriormente levou a trançadeira à morte, o acusado foi para o Calabar, onde tem parentes e lá também agrediu uma mulher. Só que desta vez não teve ninguém para livrá-lo e a comunidade o surrou, a tal ponto, que ele precisou ser internado no Hospital Geral do Estado.  “Enquanto ela estava internada no Subúrbio, aquele monstro estava no HGE, pena que ele não ficou tão grave quanto ela. Quando a polícia foi no HGE, ele já não estava mais lá. Dizem que ele fugiu”, contou a moradora revoltada.