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Da Redação
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 07:44
- Atualizado há 2 anos
Milhares de trabalhadores da Ford estão reunidos na sede da montadora, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, na manhã desta terça-feira (12). Eles protestam pelo fechamento das fábrica em todo país, anunciadas pela marca nessa segunda (11).>
Antes das 6h eles já estavam reunidos ao redor de um mini trio elétrico estacionado na garagem da empresa em Camaçari. Lá, representantes dos sindicatos discursam. A garagem está cheia de funcionários vestidos com uma farda azul, da cor da empresa. Todos usam máscaras e se reúnem em grupos de quatro a cinco pessoas, tentando manter um distanciamento. No momento de chuva mais forte, por volta de 6h30, os manifestantes precisaram se aglomerar embaixo de toldos. (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Segundo Julio Bonfim, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Camaçari, são 8 mil trabalhadores diretos afetados e, com as empresas de auto-peças, o número pode chegar a 12 mil. Já a Ford foi mais modesta nos números: disse que apenas 5 mil trabalhadores serão demitidos em toda América do Sul. "Os trabalhadores rodoviários vão ficar sem emprego. O pessoal da limpeza da vigilância, do lanche vão ficar sem emprego. E a Ford tem a cara de pau de dizer que só são cinco mil trabalhadores afetados para amenizar a carnificina que está sendo feita", disse Bonfim. >
Bonfim comparou a situação a um funeral. "A ficha ainda não caiu. É como se fosse um parente nosso que morreu. A Ford não tem mais interesse no pais. É um problema do país. Nós vamos tentar negociar, mas vai ser muito difícil. O governador também tem que fazer o máximo para manter os nossos empregos. Não dá só para falar que tá negociando com a China. Esse é um discurso paliativo. É preciso uma ação mais forte. Essa decisão vai ter um impacto econômico forte no PIB da região metropolitana e de camaçari", concluiu.>
Reestruturação Se aqui na Bahia o fechamento do complexo em Camacari põe fim a 20 anos de história, nacionalmente, a Ford interrompe uma trajetória de um século. Em 1919, a montadora norte-americana inaugurava no centro de São Paulo uma fábrica para a produção do icônico Ford T, carinhosamente chamado pelos brasileiros de Bigode. >
No comunicado divulgado à imprensa, a Ford fez questão de ressaltar que vai parar de produzir no Brasil, mas continuará no mercado nacional, importando veículos como a nova picape Ranger, a Transit e outros modelos, além dos planos de lançar diversos novos veículos conectados e eletrificados. A empresa destacou que a pandemia de covid-19 ampliou a capacidade ociosa de suas fábricas e a queda nas vendas, que já persistia por alguns anos. >
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da empresa. “Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”, disse o executivo. >
Segundo o comunicado, a empresa “irá trabalhar imediatamente em estreita colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção”. Jim Farley destacou que a empresa fez o que podia para manter a produção no Brasil. “Além de reduzir custos em todos os aspectos do negócio, lançamos, na região, a Ranger Storm, o Territory e o Escape, e introduzimos serviços inovadores para nossos clientes”, disse. “Esses esforços melhoraram os resultados nos últimos quatro trimestres, entretanto a continuidade do ambiente econômico desfavorável e a pressão adicional causada pela pandemia deixaram claro que era necessário muito mais para criar um futuro sustentável e lucrativo, lamentou. >
Cenário econômico Em um comunicado enviado para a sua rede de concessionárias, a empresa falou sobre as dificuldades no cenário econômico brasileiro. O presidente da Ford na América do Sul, Lyle Watters, ressaltou que as dificuldades vinham sendo enfrentadas desde 2013. “Desde a crise econômica em 2013, a Ford América do Sul acumulou perdas significativas e nossa matriz tem auxiliado nossas necessidades de caixa, o que não é mais sustentável”, contou. >
Este cenário teria sido agravado pela situação cambial atual e pela pandemia do novo coronavírus. “A recente desvalorização das moedas na região aumentou os custos industriais além de níveis recuperáveis e a pandemia global ampliou os desafios, gerando uma capacidade ociosa ainda maior, com redução nas vendas de veículos na América do Sul, especialmente no Brasil”, destacou. >
Segundo Lyle Watters, a Ford teria tentado manter as unidades de produção em funcionamento de todas as maneiras possíveis. “Essa decisão foi tomada somente após perseguirmos intensamente parcerias e a venda de ativos. Não houve opções viáveis”, ressaltou. >
*com orientação da subchefe de reportagem Monique Lobo>