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Terreiro de umbanda denuncia ameaças após tentativa de invasão na Bahia

Câmeras de segurança flagraram momento em que um homem tenta invadir local na noite do último sábado (23)

  • D
  • Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2022 às 22:26

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Arquivo Pessoal
Altar do Terreiro Canzuá Preto Velho de Angola por Foto: Arquivo Pessoal

Uma festa em celebração a Xangô, no final de semana, foi interrompida por um episódio de intolerância religiosa e violência em Tapiramutá, no centro-norte da Bahia. O caso aconteceu na noite do último sábado (23), no terreiro Canzuá Preto Velho de Angola. O ritual religioso foi pausado depois que um homem surgiu socando e chutando o portão do terreiro. O rapaz, que mora na região, também insultou e fez ofensas contra os integrantes durante o ataque.

Câmeras de segurança flagraram o momento em que o indivíduo tenta invadir o espaço. Com a confusão, a ialorixá Develyn Almeida Santos - conhecida como Develyn de Oxum - e alguns de seus filhos de santo precisaram sair para controlar a situação e entender o que estava acontecendo.

"Ele falou que ia entrar, que ia quebrar tudo, que essa religião é do Satanás e que iria acabar com tudo. Ele ameaçou a gente de morte, disse que se a gente continuasse com o ritual e com o terreiro ele iria matar todo mundo", contou a Ialorixá. "Dentro do terreiro tinham crianças, adolescentes e pessoas idosas. Todo mundo ficou aflito e aterrorizado", disse a Mãe de Santo.[[galeria]]

Do lado de fora, os membros do terreiro tentaram argumentar com o homem, mas não tiveram sucesso. "Ele estava nervoso e começou a nos insultar, me chamou de macumbeira, de vagabunda, de sem o que fazer, me esculhambou e esculhambou todos os meus filhos de santo", disse Develyn.

Os rituais e festas são frequentes no terreiro e, segundo a mãe de santo, tudo sempre é feito mediante ofícios entregues à prefeitura de Tapiramutá e à Polícia Militar solicitando autorização.

Essa não é a primeira vez que o terreiro é alvo de preconceito. A ialorixá desabafa que a pequena cidade, de cerca de 16 mil habitantes, não está acostumada com religiões de matriz africana, devido a um baixo número de terreiros no município, e é frequente os casos de perseguição contra seus praticantes.

"A maioria das pessoas que fazem perseguição são evangélicas. Já tentaram até fazer baixo assinado para fechar o terreiro. Quando passo, ouço insultos e piadas de vizinhos: 'Vai começar o brega?', 'A baixaria já vai começar'", relata."A gente sempre passa por esses ataques, principalmente, por parte de alguns vizinhos ou filhos de vizinhos", declarou.Apesar disso, esta foi a primeira vez que houve um caso explicito com ameaças de morte e ataques no portão do terreiro. Develyn conta que só não chegou a ocorrer agressões físicas, porque a esposa do rapaz que os insultava chegou no momento e o conteve. 

"Eles estavam vindo de alguma festa que teve nas ruas aqui de cima.  A mãe dele é vizinha aqui de casa e ela veio me pedir desculpa dizendo que ele estava bêbado, que não estava em sua condição normal, mas, segundo a esposa dele, ele estava em sua plena sã consciência e veio de fato já pra fazer isso", contou, acrescentando que ouviu de outros vizinhos que o rapaz já planejava ataques contra o terreiro.

A ialorixá compareceu, na manhã desta terça-feira (26), na Delegacia Territorial (DT) de Miguel Calmon para prestar queixa. O caso foi registrado como injúria racial com motivação por intolerância religiosa.