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Sopro de solidariedade: músico doou mais de duas toneladas de alimentos em Salvador

Marco do Trompete sobrevive durante a pandemia fazendo homenagens e serenatas

  • D
  • Da Redação

Publicado em 5 de setembro de 2020 às 09:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Nara Gentil/ CORREIO

Cada nota soprada por Marco de Jesus Oliveira, o Marco do Trompete, dá o tom da sobrevivência e da solidariedade. Músico há 22 anos, ele é carioca, mas mora na capital baiana desde 2007. Faz de tudo, só não fica parado: além de músico da Timbalada, também faz eventos de todos os tipos - de casamentos a aniversários. Durante a pandemia, passou a arrecadar e até bancar alimentos do seu próprio bolso para ajudar a quem mais precisa.

Inquieto, Marco tocava para os seus vizinhos diariamente durante os dois primeiros meses da pandemia. Trazia um pouco de satisfação, mas lá dentro do peito ficava o temor e a angústia de ver a agenda vazia. Ele estava parado, mas as contas e a fome de um tantão de gente seguiam firmes e fortes. A Nação Zumbi diria que "a fome tem uma saúde de ferro e é forte como quem come". É verdade.

As coisas começaram a mudar no dia das Mães, quando ele decidiu sair de surpresa homenageando várias pessoas tocando do meio da rua mesmo. Fez uma serenata para a enteada, para amigas e teve uma resposta positiva até de quem não era o seu público principal: os vizinhos. Aplausos que deram uma ideia ao músico.

As homenagens viraram uma alternativa de renda. Hoje ele faz de três a quatro homenagens semanais pelo valor de R$ 200. O cliente entra em contato e ele sai com seu carro, trompete e repertório para fazer serenatas de cinco músicas, que duram entre 15 e 30 minutos, em homenagem a alguém."Faço de onde for possível. Da rua, de uma varanda, de dentro de um prédio. Normalmente as pessoas me contratam para homenagear pessoas idosas que estão confinadas dentro de casa e têm um aniversário ou algo do tipo", contou Marco, enquanto se preparava para fazer o serviço em Lauro de Freitas, nessa sexta-feira (4).O trabalho também foi um gatilho de solidariedade. Dias antes de fazer a surpresa para as mulheres no dia das Mães, ele recebeu de um conhecido cinco cestas básicas que planejava doar a amigos músicos.

"Só que eu conheço muita gente lá no Candeal onde rodo bastante e sabia que havia outras pessoas até com mais dificuldades que alguns conhecidos músicos", contou.

Junto ao seu serviço, também faz o apelo de conseguir alimentos para montar cestas básicas e doar para pessoas necessitadas, instituições de caridade ou, como aconteceu recentemente, à Associação dos Compositores da Bahia. O próprio músico faz a doação dos alimentos que arrecada (Foto: Divulgação) Nesses quatro meses de correria, já foram mais de 2 toneladas de alimentos doados. Ele faz quase tudo: arrecada, divulga, faz triagem, monta as cestas e distribui. No início, era ele e ele. Hoje conta com a ajuda dos amigos Armando Britto e Gilvan Nascimento. O trio providenciou até um galpão para armazenar as doações e organizar todo o volume de alimentos a serem doados. Cheio de orgulho, Gilvan fez até camisa para divulgar o "Trompete Amigo & Solidário" por onde passa.

"Eu já passei por dificuldades quando estava no Rio, que minha filha me pedia as coisas e eu não podia dar por ter trabalho atrasado. Hoje eu batalho por essas pessoas. Saio quase todos os dias, fico cansado demais, mas tenho que fazer alguma coisa porque a fome não espera", contou Marco.

Levada do trompete Não é comum ouvir de vários músicos sobre a satisfação de estar no palco. Ou o sonho de tocar para grandes plateias em grandes eventos. Marco do Trompete é um pouco diferente: seja no barzinho, no trio elétrico ou nos grandes palcos o que ele quer mesmo é estar na ativa.

Os dois meses em casa foram de uma grande tortura para o trompetista formado na Escola de Música Villa-Lobos, instituição pública vinculada à Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro. A pressão subiu, parou no médico e precisou fazer uma bateria de exames por estar com a agenda vazia.

"Eu quero estar tocando, levando meu som. Eu não fico pensando em troca ou nada disso. Me preocupo em pagar as contas e ser produtivo, somar aqui na minha residência com a minha esposa e ajudar outras pessoas. Não tenho essa fissura com o palco, quero é estar trabalhando", diz o artista.

Outro grande incômodo que passava pela cabeça do trompetista eram as pessoas que estavam necessitadas. "A gente via tanta coisa ruim e não tem como não pensar. É por isso que estou na rua e nesta batalha. Eu já passei por dificuldades quando estava no Rio, que minha filha me pedia as coisas e eu não podia dar por ter trabalho atrasado. Hoje eu batalho por essas pessoas". 

Soprando cada nota com o carinho de quem coloca o prato de comida numa mesa, Marco segue para cima e para baixo com seu trompete. Ele também arrecada materiais de limpeza e higiene pessoal. Todo o corre do artista de 48 anos está disponível no seu instagram @marcotrumpetc7. Para contratá-lo basta ligar no número (71) 98712-1638.