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Da Redação
Publicado em 2 de março de 2023 às 14:26
- Atualizado há 2 anos
A rotina dos baianos resgatados em condições análogas a escravidão era de muita violência. Um dos funcionários da vinícola de Caxias do Sul relata que os gaúchos não apanhavam e nem eram vítimas dos "empréstimos superfaturados". Só quem vinha da Bahia.
"Eles apanhavam bastante. Qualquer coisa que estivesse errada, apanhava. Nós do Sul não apanhávamos", revelou, em entrevista ao Uol, o funcionário que não quis se identificar. "Me encontrei com um deles. Ele estava bastante machucado, com os olhos inchados."
O caso foi divulgado na última sexta-feira (24). Após o resgate, os trabalhadores contaram para aos policiais que foram contratados para trabalhar em vinícolas, colhendo uvas em Caxias do Sul. Foi garantido ao grupo salário de R$ 3 mil, acomodação e alimentação. Na chegada, contudo, encontraram condições desumanas.
De acordo com os relatos, os trabalhadores foram colocados em um alojamento em condições precárias, mal iluminado e com ventilação escassa. Durante as refeições, recebiam alimentação estragada. Os salários era pagos com atraso, e as vítimas contaram que eram coagidas a permanecer no local, sob pena de pagamento de multa por quebra do contrato de trabalho.
Havia longas jornadas de serviço e também castigos físicos, narraram as vítimas. Uma arma de choque e um spray de pimenta foram apreendidos no local. A PRF divulgou um vídeo nas redes sociais do momento em que os trabalhadores foram resgatados. Uma das vítimas descreveu as condições em que vivia.
Bastante conhecidas no mercado, as três vinícolas para quem os trabalhadores prestavam serviços terceirizados de colheita - Aurora, Garibaldi e Salton - se disseram surpreendidas com o resgate e afirmaram que não compactuam com as práticas flagradas pela PRF.
A gente saia 4h e ia para as fazendas trabalhar catando uva. Voltava 22h, 23h. O carro largava a gente lá, para ficar esperando [ele voltar], e tratavam a gente como se fôssemos bicho. Pegavam a quentinhas com a comida azeda e davam para a gente comer. Diziam: ‘vocês têm que comer isso mesmo, porque baiano bom é baiano morto’. A gente é pai de família, trabalha, contou uma das vítimas, sob forte indignação
Outro trabalhador contou ao agentes rodoviários federais que direitos básicos eram ignorados. “Não respeitavam quando a gente ficava doente e tratavam a gente que nem cachorro. Viemos para trabalhar e nos matar, porque a gente saia cedo e voltava bem tarde”, desabafou.