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Laura Fernades
Publicado em 30 de abril de 2018 às 13:46
- Atualizado há 2 anos
Basta aparecer um verdinho no prato da criança, para ela afirmar convicta: “Não quero! Não gosto!”. “Mas você já provou?”, perguntam os pais. “Não”, responde aquele ‘serumaninho’ com a cara mais tranquila do mundo. Quem convive com criança sabe que essa cena fica cada vez mais corriqueira e chega um momento em que os filhos, cheios de vontade, passam a questionar tudo ao seu redor.
Inclusive aquela comida que os adultos ‘teimam’ em ‘impor’ no cardápio. Abobrinha? Nem pensar. Cenoura e alface? Onde já se viu... Sobra até para a pontinha de tempero que fica naturalmente escondida mas que, de repente, aparece no prato e cai no desgosto dos pequenos que reclamam ofendidos (apesar de comerem todo dia sem perceber). Como, então, criar um hábito alimentar saudável na infância?
O caminho é simples e começa com o ato de não alimentar o chilique da criança que teima em não comer. Pelo menos é isso o que defende a nutricionista carioca Gabriela Kapim, 39 anos, apresentadora do programa Socorro! Meu Filho Come Mal, do GNT. “É um movimento comportamental, não tem nada com nutrição”, reforça Kapim, que lança na Livraria Saraiva do Salvador Shopping, dia 9 de maio, às 19h, o livro Socorro! Meu Filho Come Mal: Receitas Para Pais e Filhos (LeYa | 192 páginas | R$ 54,90).
“Se você dá atenção ao chilique, a criança vai achar que o chilique é mais importante que a comida”, alerta Kapim, que cuida dos dois filhos, Sofia, 12, e Antonio, 10, da mesma forma que cuida das crianças do programa. “Eu digo: não quer comer? Problema é seu que não vai ficar forte. O melhor que posso te dar é um prato com cinco cores e não um pacote de biscoito. Quer o pacote? Sinto muito”, diz com seu jeitão despachado e cativante.
Ter jogo de cintura é a primeira dica de Kapim que, com doçura e firmeza, virou “ameaça nacional” ao ser convocada por diferentes pais para ajudar na mudança dos hábitos alimentares dos filhos.“Ó, vou chamar a Kapim!” virou código para convencer os pequenos. Acontece que, durante o processo, a nutricionista observou que muitos pais queriam que os filhos se alimentassem bem, mas não davam o exemplo dentro de casa.
“Muitos pais não percebem que estão fazendo mal, porque foram educados desse jeito, foram educados por uma indústria alimentícia. Uns por certa ignorância e desatenção no assunto; outros por preguiça, porque dá trabalho, porque é mais fácil abrir um pacote de biscoito”, compara Kapim, que estreou, em março, o programa Socorro! Meus Pais Comem Mal, focado na raiz do problema. Gabriela Kapim com o livro que lança na Livraria Saraiva do Salvador Shopping, dia 9 de maio, às 19h Seletivo Mas, e quando os pais seguem à risca todas as orientações e, mesmo assim, os filhos fazem bico para frutas e verduras? Estudiosos apontam que existe uma fase na vida da criança, geralmente entre 3 e 5 anos, em que é normal desafiar o comando dos pais e passar a dizer não para muitos alimentos que até já faziam parte do cardápio.
“Eu e meu marido tentamos ser o exemplo, mas nem sempre a gente consegue”, conta a psicóloga baiana e mestre em saúde pública, Julia Costa, 41 anos, que enfrentou essa fase com os dois filhos: Lia, 16 anos, e Gabriel, 5 anos. Mesmo tentando dar o exemplo em casa, com alimentos orgânicos e integrais para todos, Julia e o marido enfrentaram a fase geniosa.
“Meu mais novo, por exemplo, está passando por uma fase bastante seletiva. Sei que muitas mães passam por isso, mas o que tento fazer é sempre ter em casa muitas opções de frutas, saladas, arroz integral...”, enumera Julia, que acredita que a tal rebeldia pode ser não só uma questão de paladar sensível, de falta de limites e do hábito da casa, mas também da paciência do adulto em oferecer outras coisas para a criança.
Parece que deu certo com a mais velha, Lia, que sempre comeu bem até que, com 4 anos, começou a ficar seletiva. “Até 10 anos, ela reduziu bastante a quantidade de frutas e verduras que comia. Mas depois, na adolescência, ela mudou, talvez observando os nossos hábitos, e voltou a comer de forma mais saudável. Agora, aos 16 anos, virou vegetariana”, conta Julia.
Bagunça e afeto O que fazer, então, quando surge o comportamento desafiador da criança que não quer comer de jeito nenhum?Existem várias dicas e uma delas é fugir do biscoto e dos alimentos industrializados “fáceis” só para acalmar o coração dos adultos, porque “pelo menos a criança está comendo alguma coisa”.Outra dica, é incluir as crianças no preparo da refeição, para que se interessem mais pelos alimentos.Levar a turminha para o mercado também está entre as sugestões. “Só se fala em comida saudável na hora de comer, aí fica chato. Precisamos falar de comida saudável na hora da bagunça, do mercado”, convida Kapim.
Entender que a relação com a comida é uma relação complexa também está entre as dicas, como lembra a psicóloga Julia Costa: “Às vezes, a comida está no lugar de alguma falta emocional. Existem muitos transtornos psicológicos ligados à alimentação. A comida não é só comida, não é só se nutrir. Ela ocupa um lugar: a gente se reúne em torno da comida com a família e os amigos. Ela tem outro simbolismo. A comida é algo muito maior na nossa cultura, nas nossas vidas”.
Receitas para fazer com os pequenos Espaguete de cenoura com gengibre e frango (Por Gabriela Kapim) Ingredientes 2 filés de peito de frango 1 limão 4 cenouras 2 colheres de sobremesa de azeite de oliva extravirgem 1 dente de alho 1 pedaço de 2 cm de gengibre Preparo Corte o frango em cubos e tempere com suco do limão. Rale as cenouras em forma de espaguete. Aqueça uma frigideira grande e coloque azeite, alho picado e, em seguida, o frango. Deixe-o dourar. Rale o gengibre, adicione na frigideira e, depois, o espaguete de cenoura. Refogue rapidamente e sirva quente. Mix de cogumelos (Por Gabriela Kapim) Ingredientes 2 xíc. de chá de cogumelo shiitake 2 xíc. de chá de cogumelo shimeji 2 xíc. de chá de cogumelo paris 1 colher de sopa de azeite de oliva extravirgem ¼ de xícara de chá de molho de soja 5 gotas de óleo de gergelim 1 punhado de salsinha Preparo Pique os cogumelos e a salsinha. Numa frigideira pequena, adicione o azeite e refogue todos os cogumelos. Acrescente o molho de soja e deixe-o secar. Quando os cogumelos estiverem macios, adicione o óleo de gergelim e a salsinha. Quer ajuda para criar um hábito alimentar saudável nas crianças? Veja as dicas
1. Evite os produtos industrializados Fuja dos biscotos, salgadinhos e outros alimentos industrializados que são mais “fáceis”. EVite essa desculpa de que “pelo menos a criança está comendo alguma coisa”
2. Leve as crianças para o mercado Evite mostrar a importância da comida saudável só na hora de comer. Tente fazer isso com os pequenos também no momento da “bagunça das compras”, de fazer mercado
3. Inclua os pequenos no preparo da refeição Convidar as crianças para participar do preparo da comida faz com que elas se interessem mais pelos alimentos e passem a comer melhor
4. Tenha sempre cinco cores no prato O mantra difundido pela nutricionista Gabriela Kapim convida as crianças a elegerem sempre alimentos saudáveis como alface, brócolis, cenoura e beterraba para compor o prato
5. Deixe a criança fazer um pouco de bagunça Segundo a gerente de nutrição da Nestlé Brasil, Juliana Lofrese, é importante dar liberdade para as crianças conhecerem os alimentos. Tocar, cheirar, sentir sua textura e dar o tempo para que sintam desejo de prova-lo é um grande estímulo