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Fernanda Santana
Publicado em 7 de junho de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Em Amargosa, a 240 quilômetros de Salvador, um trabalho deixou de existir há mais de um ano, com o cancelamento das festas juninas devido à pandemia. Era o de “corretor de imóveis de São João”, procurado por pessoas que, na maioria das vezes, já tinham emprego, mas aproveitavam o movimento na cidade para alugar suas casas e ganhar comissões em outros aluguéis. “Esse trabalho passou de geração em geração”, conta Vanessa Oliveira, 40 anos, empresária e, por ora, ex-corretora de São João.
O serviço de um corretor de imóveis de São João começava no fim de março, quando os primeiros visitantes iniciavam a busca por residências para passar as festas juninas no município. Entre os dias 19 e 26 de junho, uma casa ampla como a de Vanessa, com três quartos com suítes, duas salas, cozinha e garagem, não saía por menos de R$ 3 mil.
Hoje, não há nenhum aluguel no horizonte da empresário, algo atípico na sua carreira pré-pandêmica. A cidade está vazia e não haverá festa, o que não é atrativo aos negócios e os visitantes, embora necessário para conter a pandemia.“Eu já cheguei a alugar 20 casas, fora a minha, a de amigos e família”, conta Vanessa, corretora de ocasião das mais experientes na cidade.O São João era um momento de "renda extra" para Vanessa há 10 anos. Primeiro, ela passou a alugar a própria casa. Depois, a intermediar o aluguel de casa de amigos - serviço pelo qual cobra comissão. “O pessoal já me procurava nessa época do ano”, diz ela, herdeira da função que a mãe desempenha há 20 anos, e que tornou a família conhecida no ramo.“Uma coisa de boca a boca, confiança. Todo ano eu tirava férias do meu trabalho, alugava minha casa, e ia para casa de meu pai”, conta Vanessa, atingida duplamente pelos cancelamentos, já que também montava um quiosque na praça de festas.O mercado de aluguel em Amargosa é incentivado pela Prefeitura municipal desde a década de 90, época em que as festas locais ganham projeção, e é um dos mais afetados nas cidades baianas mais frequentadas por turistas no São João. “Como a rede hoteleira não tinha capacidade de receber todo mundo, sempre houve um incentivo para que as pessoas alugassem suas próprias casas”, explica o prefeito Julio Almeida. Algo similar, em escala menor, ao que ocorre durante o Carnaval de Salvador, quando moradores dos circuitos alugavam seus apartamentos e engordavam a poupança. Vanessa em frente a casa número 215 que alugava em Amargosa para turistas (Foto: Acervo Pessoal) Apesar do prejuízo, Julio diz que a rede turística não organizará nenhuma campanha para incentivar a ida de turistas. “Vamos enrijecer as medidas restritivas”, afirma
Somados os dois anos de pandemia sem São João na cidade, a perda foi de R$ 60 milhões - R$ 30 mi por ano. Lá, os visitantes costumam desembarcar desde o dia 19 de junho. Eram de 30 a 40 mil deles, anualmente, hospedados em hotéis, pousadas e em casas alugadas por temporada.
Em Amargosa, Cruz das Almas, Ibicuí, Santo Antônio de Jesus e Senhor do Bonfim, outros quatro pólos turísticos do São João, pelo menos R$ 85 milhões deixaram de circular na cidade por ano, segundo cálculos divulgados pelas próprias gestões municipais, separadamente. As festas de São João movimentavam, segundo a Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia, mais de R$ 550 milhões em todo o estado, e geravam 50 mil postos de trabalho."Com o dinheiro que a gente alugava nossas casa, a gente gastava na própria cidade, gerava renda, emprego", opina Natalício Santos Guerra, 41, outro corretor de São João há 12 anos e dono de um cerimonial de eventos.Sem festa junina, mais uma vez, uma rede baseada na economia do São João deixará de atuar. Tau, como é conhecido Natalício, alugava não só a própria casa, como a da sogra e de dois cunhados, e tinha parceria com pousadas, também afetadas pela pandemia. Também não recebeu proposta para aluguel neste ano. "Cada um tinha um propósito no Sao João, reformar a casa, construir um banheiro. Um era fazer uma varanda", relembra, saudoso.
Pousadas vazias
Como atendente de uma pousada em Cruz das Almas, no Recôncavo Baianao, Bárbara Santos, 38 anos, está acostumada a ouvir propostas que soam absurdas a quem não conhece a cidade durante o São João, mas que, para ela, são esperadas. Numa noite de 23 de junho do ano retrasado, última vez que as festas juninas aconteceram na Bahia, um hóspede sugeriu até dormir na área de serviço, quando soube que a pousada estava cheia. Só queria um lugar para deitar, nada mais, pois passaria os dias fora.“A gente já negou reserva nessa época. Com o coração partido, mas sem ter o que fazer”, relembra.A essa altura, ela e a cidade estariam em preparação para o trabalho pesado. Com o fim dos meses de abril e maio, meses em que as reservas são fechadas, as hospedarias estariam com expectativa de lotação máxima, inclusive na pousada onde Bárbara trabalha, onde há 19 quartos. No São João do passado, ela entrava no serviço às 6h, sem hora para acabar. Só assim conseguia atender o movimento iniciado no dia 20 de junho, que se estendia por oito dias.
Na zona rural chamada Toquinha, onde Bárbara mora, há expectativa para as fogueiras nas portas, e bandeirolas já foram equilibradas sobre as ruas, mas nada como antes. Os moradores não reconhecem essa Cruz das Almas vazia, mais uma vez, de São João.
“Algumas pessoas até ligaram para a gente, mas avisamos que não teria São João. O clima pede. A gente escuta o forrozinho e vem a vontade. Algumas”, conta Bárbara. A Prefeitura estima que, em época junina, R$ 30 milhões eram movimentados na economia local. Os turistas, tradicionalmente, eram os próprios baianos, que lotam as estradas para chegar até os destinos. O transporte intermunicipal na Bahia será suspenso entre os dias 20 e 27 de junho, para conter a propagação do coronavírus durante o São João, celebrado no dia 24 de junho. A partir do dia 13 de junho fica proibida a colocação de horários extras de ônibus para viagens intermunicipais, e a capacidade máxima dos ônibus passa a ser de 70%. Ficar em ônibus por longas jornadas, mesmo com uso de máscara pode facilitar a propagação do coronavírus, ressalta a infectologista Fernanda Grassi, infectologista da Fiocruz.
Mas, é preciso evitar, independentemente do meio de transporte, a ida a interiores, pois as taxas de contaminação estão elevadas na Bahia - com cinco mil novos casos por dia - e as variantes podem ser mais contagiosas. "Estamos com um número de casos de covid muito elevados. Ao tirem para outros locais, pessoas podem levar o vírus daqui para lugares com menor população, em lugares mais tranquilos. Não é um momento adequado por conta dessa alta circulação", reforça.CORREIO promove ações especiais no. São João
A relevância do São João para a economia das cidades do interior terá destaque na segunda edição do projeto São João no CORREIO, mais ampliada que a do ano passado e que será uma opção para este momento em que todos devem permanecer longe de aglomerações. “Essa economia ficou comprometida. Alguns setores seguem aquecidos, mas os artistas, por exemplo, estão sofrendo há dois anos”, lembra Marta Sousa, gerente de marketing do CORREIO. Em 2020, o projeto reuniu uma série de lives com artistas baianos do forró. Neste ano, além da música, o projeto promoverá ações em outros segmentos. Entre elas estão: o resgate da culinária tradicional, com receitas de cozinheiras do interior; o Momento Junino, com histórias que serão contadas por quem vive essa tradição; o espaço Que Saudade Que Eu Sinto, dedicado aos vídeos e fotos dos leitores com as suas memórias juninas; o Circuito das Lives, com todas as informações sobre as lives que vão acontecer durante os festejos; as reportagens especiais, com conteúdo exclusivo; o Esquenta Junino, um programa ao vivo no Instagram do CORREIO; e apresentações musicais. Além de ampliar o número de ações, o projeto também cresceu nas plataformas. Durante todo o mês de junho serão postados conteúdos e vídeos no Instagram, Facebook, Twitter, Tik Tok e YouTube. E uma página especial vai reunir as reportagens no site correio24horas.com.br. E quem quiser participar, já pode começar a postar fotos com a hashtag #SãoJoãonoCorreio2021.
“Teremos uma série de conteúdos valorizando a tradição e nossas raízes. Nossas equipes produzirão reportagens especiais, vídeos e interações ao vivo, além de interações em multiplataformas digitais”, informou Jorge Gauthier, chefe de reportagem do CORREIO e responsável pelas ações digitais.
O São João no Correio tem o apoio da e-Studio, ITS Brasil, Hotel Vila da Praia e Bluearts.