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Daniel Aloísio
Publicado em 8 de abril de 2020 às 09:00
- Atualizado há 2 anos
Comidas típicas, bebidas quentes, roupas charmosas e muito forró. Esses são só alguns dos elementos que, tradicionalmente, entram na vida do nordestino no mês de junho, nos festejos de São João. No entanto, este ano, a festa está com a sua realização ameaçada devido à disseminação do novo coronavírus. >
“No meu trabalho, há pelo menos 30 famílias que dependem do São João. Agora imagine as milhares de famílias nordestinas que precisam dessa festa. Não são só os músicos e bandas. Tem a agricultura, as bebidas típicas, as roupas, viagens, fogos. A gente está falando de pessoas que dependem da festa para sobreviver. Se cancelar o São João, vai matar muita gente”, disse o cantor Del Feliz. >
Na Bahia, 12 cidades já cancelaram a festa: Amargosa, Ibicuí, Senhor do Bonfim, Irecê, Miguel Calmon, Seabra, Itaberaba, Piritiba, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, Conceição do Almeida e Vitória da Conquista. Já em Campina Grande, na Paraíba, a festa foi adiada para outubro. >
O CORREIO conversou com pelo menos seis empresários e forrozeiros sobre o assunto. Todos são unânimes em defender o adiamento dos festejos juninos, mas são contra o cancelamento. >
“A palavra de ordem deve ser adiamento. Cancelar não pode ser a primeira opção. Se faria em junho, por que não pode ser em agosto ou setembro? Os recursos que seriam usados agora, serão usados depois. Tantas prefeituras já têm o hábito de fazer São João e São Pedro fora de época”, defendeu Adelmário Coelho. “O que a gente ganha no São João é normalmente o que nos sustenta nos outros meses, quando a procura por shows de forró é menor”, completou o artista.Desde que a tradição dos festejos juninos começou, não há relatos de que tenha havido um ano sequer que a festa não tenha sido realizada no mês tradicional. “A gente espera os 11 meses para que chegue junho, que é quando a gente tem uma amplitude de shows. Mas se tratando de saúde, a gente só chama por Deus e pede para que todos fiquem bem”, disse Jó Miranda, que já fez até 29 shows no período junino, enquanto nos outros meses encara cerca de 10 apresentações. >
Se para os cantores famosos os impactos econômicos serão sentidos, para as bandas menores, aquelas que dependem quase que exclusivamente do São João, a situação é mais difícil ainda. >
“Nós fazemos 4 a 5 shows, no máximo, durante os meses normais. No São João, viajamos o interior, tocamos sempre em algumas cidades, como Ouriçangas e Irará. Fazemos cerca de 20 shows”, disse Antônio Jorge, conhecido como Super Tom. Ele é vocalista da Zé de Tonha, uma banda de forró que começou nos barzinhos de Salvador há 18 anos e, desde o ano passado, começou a fazer exclusivamente shows maiores. >
Esse não é o caso da Cavaleiros do Forró, uma banda potiguar de expressão nacional que faz uma média de 35 shows no período junino. Diferente de outros forrozeiros, o grupo possui uma média alta de shows nos outros meses, cerca de 20. Mesmo assim, a ausência do São João representa a perca de 35% do faturamento anual dos artistas. >
“É uma doença nova, não podemos diminuir os cuidados, mas acho precipitado qualquer cancelamento de São João. Já tivemos que cancelar 48 shows entre março e início de maio. Mas, o povo precisará ter direito ao lazer, é um direito constitucional. Sou um eterno otimista e acredito que o Nordeste dará exemplo na taxa mínima de mortalidade, e que conseguiremos fazer a maior festa do mundo, que é a festa junina. Confiamos em Deus e nos cientistas”, disse Alex Padang, empresário da banda. >
Outro grupo que também será afetado é o tradicional Trio Nordestino, que surgiu em Salvador em 1958 e hoje é comandado pelos herdeiros musicais dos fundadores. Os três músicos principais da banda, Luiz Mario, Beto Sousa e Jonas Santana, hoje vivem no Rio de Janeiro, mas no período junino, devido à quantidade de shows, se mudam para o Nordeste. >
“A gente ia lançar um CD em maio, os meninos já iam chegar no final de abril. Tínhamos uma agenda bacana, cerca de 60% dos nossos shows eram na Bahia, mas essa pandemia chegou com força. Cerca de R$ 800 mil reais vão deixar de entrar com o cancelamento do São João. Um dinheiro que ia ser destinado para as nossas despesas e pagamento de 19 funcionários”, disse Coroneto, neto de um dos fundadores do grupo e empresário da banda. >
Procurado, o governador Rui Costa informou que ainda não há uma decisão sobre o assunto. "É muito pouco provável ter condições de realizar qualquer festividade em junho. Prefiro não anunciar a decisão definitiva agora. Vamos aguardar como se comportará essa situação na Bahia e no Brasil. Vamos aguardar o final do mês para definir", disse. >
Confira uma média de quantos shows cada banda entrevistada costuma fazer no São João e quanto dinheiro deixará de ser arrecadado pelos grupos: >
Cavaleiros do Forró Shows no São João: 35 Shows em outros meses: 20 Quanto deixa de ser arrecadado se o evento for cancelado: 35% do faturamento anual. >
Del Feliz Shows no São João: 30 Shows nos outros meses: 5 Quanto deixa de ser arrecadado se o evento for cancelado: R$ 1,5 milhão >
Trio Nordestino Shows no São João: 25 Shows nos outros meses: 7 Quanto deixa de ser arrecadado se o evento for cancelado: R$ 800 mil >
Zé de Tonha Shows no São João: 20 Shows nos outros meses: 5 Quanto deixa de ser arrecadado se o evento for cancelado: R$ 300 mil >
Jó Miranda Shows no São João: 29 Shows nos outros meses: 10 Quanto deixa de ser arrecadado se o evento for cancelado: Não divulgou >
Adelmário Coelho Shows no São João: 30 Shows nos outros meses: 5 Quanto deixa de ser arrecadado se o evento for cancelado: Não divulgou. >
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>