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Vinicius Harfush
Publicado em 2 de abril de 2020 às 09:00
- Atualizado há 2 anos
O isolamento domiciliar está completando quase duas semanas para a maioria dos soteropolitanos. E entre as atividades que deixaram de ser praticadas por conta da pandemia do novo coronavírus estão as idas às academias. Desde o decreto do prefeito ACM Neto, anunciado no dia 16 de março, esses espaços foram fechados na cidade. A saída para boa parte das pessoas foi recorrer aos espaços públicos para não perder o costume do exercício.
Na orla, quem antes não tinha o hábito de caminhar ou correr, agora adotou o local como uma extensão do seu isolamento. Como o estudante de Medicina João Victor Ramos, de 19 anos, que tem aproveitado para correr com o pai, Mário Ramos, de 47. “Tínhamos o hábito de nos exercitar e estávamos sentido falta disso”, explicou João, que antes costumava a frequentar uma academia de crossfit, enquanto o pai dava preferência ao exercício na esteira.
Quem também precisou se acostumar com a nova rotina foi a advogada Jamile Calheiros, 38. Segundo ela, as atividades físicas sempre fizeram parte da sua vida, tanto que há dez anos ela pratica corrida de forma regular. Mesmo que as ruas já fossem um espaço comum para ela, tem tomado alguns cuidados para correr na rua, e tem alternado com os exercícios no condomínio onde mora: “As ruas estão mais vazias e não tem como ir correr em grupo, então quando não vou para a rua eu faço cooper aqui mesmo”, contou.
Mesmo com o anúncio do fechamento das academias e da necessidade do isolamento, Jamile sempre acreditou que “daria seu jeito” para não perder a rotina que faz bem a sua saúde. No último domingo, às cinco horas da manhã, Jamile correu acompanhada de outros dois colegas do clube de corrida que faz parte, e lembra bem do cenário que viu: “As ruas estavam mais vazias, de carros e de gente. Mesmo quando corro em dia de semana, vou num horário que muita gente frequenta a orla, mas não está tendo mais”, afirmou. Essa sensação também foi sentida por João, que vê um movimento bem menor “em relação ao que eu costumava ver”, revelou.
Além da necessidade de driblar o sedentarismo, as pessoas que estão se aventurando nas ruas para se exercitar mantém uma rotina muito parecida. A começar pela distância. A maioria está mantendo um contato menor com a rua, então ao invés de praticarem a atividade na mesma intensidade que antes, têm aliviado. Esse é o caso de Sandra dos Santos, 43, e Sueli Rocha, 44, quem reduziram a quilometragem da corrida. “Ao invés dos 12 a 15 quilômetros que fazia, agora corro apenas cinco”, comentou Sueli, que é personal trainer e está completando as atividades com treinos em casa. Caminhada, corrida e ciclismo para driblar a falta das academias (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Sandra, que é cabeleireira, está sem trabalho durante o fechamento dos shoppings e salões, o que tornou a sua rotina, como ela mesmo definiu: “entediante”. Moradora do bairro de Piatã, ela abandonou o tradicional visual da orla e começou a correr na ruas perto de sua casa. Aos invés de manter os horários e distâncias de antes, corre na hora do almoço, quando há menos gente na rua. “Meu marido já tem mais de 60 anos, então preciso tomar todos esses cuidados. Costumava correr e depois emendar com um treino na academia, agora eu já corro e volto direto para casa”, revelou.
Ao chegar em casa, os cuidados também têm sido padronizados. Sapatos sempre do lado de fora e a roupa que acabou de ser usada em um cesto ou saco, além de ir imediatamente ao banho. Essas são atitudes que Sandra, Jamile e Sueli têm tomado sem falta toda vez que voltam da rua. Já João Victor, não esquece de deixar o frasco de álcool gel no carro, para se higienizar assim que acabar a corrida na orla do Jardim de Alah. “Eu também não toco em nenhuma barra ou corrimão que tenha na rua, a gente sai do carro e volta sem encostar em nada”, completou o estudante.
A tendência é que essa rotina se mantenha, afinal, ainda não há uma previsão de quando correr acompanhado de um grupo ou de seus amigos voltará a ser uma atividade corriqueira em Salvador. Até lá, essa fuga no isolamento parece ser mais um remédio do que uma quebra de protocolos para quem curte se exercitar.
Riscos Apesar da importância de manter o corpo em movimento, a médica infectologista e professora da Universidade Federal da Bahia, Jacy Andrade, chama atenção para um cuidado bastante importante. Mesmo ao ar livre, é preciso manter o isolamento social.
“Se você vai caminhar e encontra outras pessoas, fica perto, conversando, faz uma atividade em grupo, mesmo que ao ar livre, você está quebrando a regra do isolamento, que é bastante importante para que a gente consiga frear a curva de contágio”, explica ela.
Jacy explica ainda que é preciso manter distância de pelo menos dois metros de distância entre as pessoas. “A gente sabe que atividade física é bastante importante, mas estamos vivendo um momento que altera um pouco as nossas regras sociais e o isolamento é bastante importante”, destaca.
* Com orientação da subeditora Andreia Santana