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Salvador tem 83% dos leitos de UTI ocupados e colapso é esperado nesta semana

As vagas em enfermaria já chegaram a 70% de ocupação e prefeitura está em corrida para expansão de leitos

  • Foto do(a) author(a) Hilza Cordeiro
  • Hilza Cordeiro

Publicado em 18 de maio de 2020 às 19:04

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Igor Santos/Secom PMS

Usados por pacientes em quadros mais graves de covid-19, os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Salvador já estavam com 83% de ocupação neste domingo (17). De acordo com a prefeitura municipal, o colapso da rede hospitalar da capital está previsto para acontecer ainda nesta semana, na quinta-feira (21), quando será registrada falta de leitos. 

A estimativa foi feita com base em cálculos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-BA) em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Atualmente, dos 633 leitos totais destinados à covid-19 em Salvador, 477 estão ocupados, ou seja 75,3% do total. Deste quantitativo, 370 são de enfermaria e 70% deles estão em uso. Nestes dados são considerados os leitos disponíveis nas redes municipal, estadual e privada contratualizada. 

Ao todo, já são mais de 8,8 mil casos confirmados da doença na Bahia, sendo que Salvador é considerado o epicentro do estado, com 5,3 mil pessoas contaminadas, segundo o boletim da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) desta segunda-feira. Do começo da pandemia no estado até agora, 312 pessoas já perderam a vida por causa do coronavírus.

De acordo com o secretário de saúde da cidade, Léo Prates, a prefeitura está na corrida para a expansão do número de leitos. Já na próxima segunda-feira (25), o Hospital Sagrada Família, requisitado administrativamente pela prefeitura, deve entrar em operação exclusiva de covid-19 contando com 75 leitos, sendo 20 de UTI e 55 de enfermaria. Conforme explicou o prefeito ACM Neto, o espaço, localizado no Mont Serrat, será gerido pela Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) em convênio com a prefeitura.

Além da abertura de vagas nesta unidade, a gestão pretende lançar ainda nesta semana uma licitação para compra de 100 leitos de enfermaria para o hospital de campanha montado no Wet’n Wild, na Av. Paralela. No entanto, segundo o secretário, por causa da burocracia do processo, esses leitos só devem chegar, em média, 30 dias após o vencedor do edital ser anunciado. "A cada dia nos aproximamos de uma possibilidade de saturação do sistema de saúde. O colapso só não aconteceu antes porque ampliamos a quantidade de leitos, reforçamos as medidas de isolamento social e baixamos a taxa de transmissão, que já foi de 9,8% e agora está em 6,3%, sendo que a meta é reduzir para menos de 5%, até para podermos retomar gradualmente a normalidade", disse o prefeito em coletiva virtual nesta segunda.A Secretaria Municipal de Saúde também tem a intenção de ampliar as vagas através de contratos com os hospitais particulares Salvador, na Federação, e Prohope, em Cajazeiras, mas o prazo e o total de leitos ainda não foi informado.

Conforme dados da prefeitura, a ocupação da rede privada na capital já tinha chegado a 82% no domingo, o que aponta um risco de colapso também nos hospitais particulares. "Temos pacientes com plano de saúde procurando o serviço público, pois não encontram vagas em hospitais particulares", pontuou o prefeito.

Uma das poucas unidades de saúde com transparência nos números de internações pela doença, o Hospital Cárdio Pulmonar divulga diariamente a ocupação. Até a manhã desta segunda-feira, 23 pacientes estavam internados com sintomas respiratórios, sendo que 13 estão em UTI. Do total, sete já testaram positivo e 16 seguem como suspeitos. A unidade não informou quantos leitos destinou para a enfermidade.

Falta de leitos

Ainda conforme anunciado pelo prefeito ACM Neto, a taxa de internação em leitos de enfermaria tem sido de 15% dos casos confirmados, com tempo médio de permanência de 7 dias. Na estimativa da prefeitura, quando o sistema saturar na quinta-feira, faltarão pelo menos 15 leitos do tipo. Os casos de internação de pacientes graves têm sido de apenas 5% das pessoas contaminadas, mas elas permanecem mais tempo hospitalizadas, cerca de 10 dias. Também na quinta é prevista a falta de pelo menos 9 leitos de UTI.

Situação da Bahia

De todos os casos acumulados desde o monitoramento da doença no estado, 26% são considerados curados. Mas ainda há mais de 70% das pessoas com o vírus ativo no corpo, o que representa quase 6 mil pessoas. A ocupação dos leitos de UTI exclusivos de covid-19 na Bahia já passou da metade da capacidade disponível e chegou a 64%. Somando UTI e enfermaria, são 1.229 vagas exclusivas de atendimento à covid-19 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 646 possuem pacientes internados, o que representa uma taxa geral de ocupação de 53%.

No Hospital Santa Helena, que fica em Camaçari e atende a Região Metropolitana de Salvador (RMS), 83% dos leitos de UTI de covid-19 já estão ocupados e 60% dos leitos de enfermaria também. Cidades mais populosas da RMS, Lauro de Freitas e Camaçari somam 292 casos confirmados da doença.

Lockdown: cientistas recomendam quando atingir 80% de ocupação

O último boletim emitido pelo Comitê Científico do Nordeste, presidido pelo cientista Miguel Nicolelis, recomendou que o lockdown — medida extrema de bloqueio total de circulação de pessoas — seja decretado “quando os números de leitos hospitalares tenham superado 80% de ocupação e, ao mesmo tempo, a curva de casos e de óbitos seja ascendente”.

Como já explicado pelo prefeito ACM Neto, a adoção do bloqueio total na cidade depende de decisão do governo do estado, que tem poder de polícia para fazer cumprir o isolamento compulsório.

Perguntado pelo CORREIO se seguiria essa recomendação, o governador Rui Costa disse, na primeira semana de maio, que as intervenções que vêm sendo feitas nos municípios, como o fechamento do Centro de Ilhéus e agora a restrições localizadas em Salvador, são uma forma de agir para dispensar o lockdown no estado.

"Temos que agir agora. Não dá para esperar chegar com 100%, 90%. Isso foi o que outras cidades fizeram, esperaram chegar à beira do esgotamento para tomar providência e já se comprovou que o resultado disso é o caos, o colapso até no sistema funerário", comentou ele, citando o caso do estado do Pará, que já chegou ao nível de recolher corpos nas residências das pessoas.