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Gabriel Amorim
Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 19:09
- Atualizado há 2 anos
Uma cidade conectada e que ofereça internet na rua, prontuários digitais na rede de saúde e fichas online dos alunos da rede de educação. Bueiros que enviam informações sobre a capacidade de escoamento, sensores para informar a qualidade da água e armazenamento de dados da prefeitura na nuvem. Todas essas soluções poderão virar realidade em breve, quando Salvador se tornar a primeira capital inteligente. >
O primeiro passo para iniciar o Plano Diretor de Tecnologias da Cidade Inteligente (PDTCI) foi dado na manhã desta segunda-feira (27), com uma apresentação completa do projeto, que deve ter duração de 10 meses, para secretários, subsecretários e funcionários da equipe da prefeitura.>
As atividades foram conduzidas pela empresa Spin Engenharia, contratada para realizar a elaboração do PDTCI. A programação inclui as oficinas iniciais de diagnóstico de como está a realidade de cada órgão da administração municipal. Estiveram presentes na abertura o prefeito ACM Neto, o secretário de gestão Thiago Dantas e o presidente da Companhia de Governança Eletrônica de Salvador (Cogel), Alberto Braga, um dos responsáveis pela implementação do novo projeto. >
“A ideia desse primeiro evento é alinhar os conceitos e a visão de todos sobre o plano, para que a gente tenha o engajamento de toda a Prefeitura. Salvador vem investindo fortemente em tecnologia e queremos levar isso para um outro patamar. Transformação digital é o que vai possibilitar que a prefeitura possa cada vez mais prestar um serviço de maior qualidade para os cidadãos e devolver aquilo que mais esperamos que a gestão municipal faça em termos de serviços públicos municipais”, avaliou Dantas. >
Na programação, além da apresentação dos passos que serão dados até a conclusão do plano, estão oficinas e workshops realizados pela empresa responsável, com gestores e funcionários da prefeitura. Neste primeiro dia, seis oficinas estão previstas para acontecerem no turno da tarde. Durante toda fase de diagnóstico, que deve durar até março, outras oficinas, reuniões e visitas técnicas devem acontecer nos órgãos da prefeitura para que o plano seja elaborado de acordo com a realidade da cidade.>
“Esse plano vai nos permitir ter uma visão de médio e longo prazo do que Salvador pretende fazer para se tornar uma cidade inteligente. Aqui é uma cidade de prestação de serviços, que precisa investir muito em tecnologia; Essa precisa ser uma pauta diária. Esse é o primeiro passo, é necessário o envolvimento de todos”, destacou o prefeito ACM Neto sobre a importância da elaboração do documento.>
Já Alberto Braga destacou que a tecnologia é um meio para melhorar a qualidade de vida do cidadão. "As pessoas querem, cada vez mais serviços mais rápidos e mais eficiente. A cidade inteligente permite que o cidadão esteja conectado e o serviço seja oportunizado a ele”, avaliou.>
Planejamento Para Salvador se tornar uma cidade inteligente é preciso, primeiro, entender como ela acontece sem todas as inovações. É que o conceito desse tipo de cidade é algo bastante novo e que ainda vem mudando.>
“As tecnologias não evoluem no tempo de forma constante, elas estão crescendo cada vez mais rápido e tomando nosso dia a dia em serviços cotidianos. Essa velocidade começa a partir da inovação. Não existe um modelo único de cidade inteligente que seja aplicável a todas as cidades. Tudo é fruto de um trabalho que vem desde o diagnóstico até a realização de metas que sejam possíveis de serem aplicadas”, explica Vitor Antunes, representante da empresa Spin, que vai elaborar o plano. >
Em todo o mundo, os parâmetros que definem uma cidade inteligente são bastante recentes. Normas internacionais foram elaboradas apenas em maio e dezembro do último ano: as normas ISO 37122 e ISO 37123. A mais recente estabelece parâmetros da chamada cidade resiliente e trata de questões como formas de evitar impactos de enchentes, por exemplo. Salvador será a primeira cidade do mundo a considerar esses indicadores na elaboração de seu plano. >
Iniciados nesta segunda, os trabalhos do Consórcio Salvador Smart City devem ser concluídos até outubro, com a elaboração do plano. Esta primeira etapa recebeu um investimento de R$ 4,5 milhões. Já a implementação dos projetos terá uma aplicação de cerca de R$ 55,5 milhões com recursos captados junto à Cooperação Andina de Fomento (CAF).>
O investimento vai permitir que a capital tenha uma nova estrutura de conectividade urbana para se tornar mais eficiente e econômica na gestão pública. O PDTCI tem como base o conceito de "Internet das Coisas", no qual a conectividade permite a comunicação entre os objetos da cidade e os usuários para a transmissão de dados em rede. Com a iniciativa, vão ser realizados diagnósticos multissetoriais e estipuladas metas de curto a longo prazos.>
Realidade Se o plano vai indicar caminhos e formas para que a capital baiana se modernizar cada vez mais, alguns pontos da cidade já trabalham usando aparatos tecnológicos que podem ser ainda mais atualizados depois da conclusão dos trabalhos.>
“Hoje dificilmente seríamos pegos de surpresa. Monitoramos tudo relacionado ao clima em nossa cidade, através da tecnologia”, pontua Sosthenes Macêdo, diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal) >
A Codesal, que já conta com 51 pluviômetros, 11 sistemas de alerta e alarme e duas estações meteorológicas, espera se modernizar ainda mais com a chegada do plano. “O que é interessante nessa área é que, o que hoje é novidade, amanhã já está ultrapassado. Sempre buscamos melhorar, com certeza o plano pode trazer inovações, tecnologias que hoje ainda nem temos conhecimento”, espera Macedo. >
Inteligência Na hora de entender o que é uma cidade inteligente, um caminho é pensar no próprio cotidiano de um cidadão comum. Segundo o Instituto da Cidade Inteligente (ICI), por definição é aquela que "emprega de sistemas de tecnologia da informação na integração da operação, serviços e infraestrutura urbanos com o objetivo de disponibilizar os serviços todo o tempo, a toda a população, com maior eficiência, a custos moderados e fazendo uso dos recursos naturais de uma forma sustentável".>
O professor universitário Sérgio Rivero faz uma análogia ainda mais clara. “Da mesma maneira que pessoalmente, para a gestão da nossa vida, absorvemos vários aplicativos, é isso que a cidade inteligente faz ao pensar a cidade como uma grande empresa”, explica o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unijorge.>
O professor destaca que transformar a cidade em inteligente acaba impactando em diversos aspectos da rotina do município. São, principalmente, três pontos de destaque: melhoria da comunicação interna nos órgãos municipais; democratização e melhoria da relação sociedade e esfera pública; e ampliação da cidadania.>
“Toda empresa tem problemas de comunicação. Se você pensar a cidade, a prefeitura, como uma grande empresa pública, novas tecnologias podem ser implementadas para melhorar esse processo interno. A cidade inteligente também melhora a relação da cidade com o cidadão que tem um controle e acesso maior à cidade onde mora, através da tecnologia. Tornar Salvador uma cidade inteligente é torná-la um grande objeto funcional e otimizado”, pontua.>
Sérgio dá, ainda, um exemplo prático de algo que já acontece ao redor do mundo e que poderia ser bastante benéfico para um local de vocação turística, como a capital baiana. “Imagine um aplicativo que usa sua localização de GPS para dizer onde estão os pontos turísticos mais próximos para visitar. Isso já acontece em Buenos Aires”, exemplifica.>
Onde o PDCTI vai atuar: As metas e projetos que vão compor o Plano Diretor de Tecnologias da Cidade Inteligente (PDTCI) ainda serão definidas depois que a fase de diagnóstico for concluída, em março. Algumas ações, no entanto, já estão sendo vislumbradas, em algumas áreas específicas.>
Infraestrutura física da cidade - sensores para informar a qualidade da água.Sensores e atuação remota - Bueiros que enviam informações sobre a capacidade de escoamento Telecomunicações - Rede de infovia, que permita conexão de internet na rua para taxistas e turistas Armazenamento e processamento de dados - sensores para informar a qualidade da água e armazenamento de dados da prefeitura na nuvem. Controle de operações e aplicações >
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier >