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Donaldson Gomes
Publicado em 2 de novembro de 2019 às 04:54
- Atualizado há 2 anos
O segredo para ter finanças equilibradas é o mesmo para o setor público, iniciativa privada e até mesmo quando se pensa na economia doméstica. Vive bem quem gasta menos do que ganha. E foi exatamente esta a receita que colocou Salvador no primeiro lugar entre as capitais no Índice de Gestão Fiscal da Firjan (IGFG), da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. O município também ocupa a primeira colocação entre as cidades baianas no mais respeitado índice de gestão municipal do Brasil. >
Desde 2013, quando se iniciou a série histórica do índice, até 2018, Salvador saltou da 23ª posição entre as capitais para o primeiro lugar. Entre os municípios baianos, a capital saiu da 11ª posição para o topo do ranking. >
O município conquistou a nota máxima em três dos quatro indicadores que compõem o IGFG. Salvador teve a maior pontuação possível em Autonomia, Gastos com Pessoal e Liquidez. No indicador Investimentos, a nota foi acima da média nacional, mas ainda abaixo do patamar que indica a boa gestão. >
A gestão soteropolitana está entre as 4% do país que obtiveram índices no IFGF acima de 0,8, o que caracteriza gestões de excelência. A capital baiana e Manaus são os únicos municípios de grande porte a integrarem o grupo das melhores gestões do país.“É importante destacar a evolução que Salvador vem tendo principalmente em relação à liquidez e aos investimentos. A liquidez mostra o bom planejamento financeiro e neste aspecto a cidade vem bem há alguns anos. Em relação aos investimentos, há um crescimento, porém ainda há muito o que melhorar”, avalia Nayara Freire, analista de Estudos Econômicos da Firjan. >
O indicador de liquidez calcula o volume de restos a pagar do ano anterior e compara com o volume de recursos disponíveis para dar conta das obrigações. Investimento mede o percentual de receitas destinados a melhorias. O indicador de Autonomia mede a capacidade das administrações de gerar com recursos próprios pelo menos 50% de suas receitas, enquanto Gastos com Pessoal mensura o cumprimento às regras da Lei de Responsabilidade Fiscal. >
“Um bom desempenho em relação a autonomia é uma característica das capitais, mas muitas delas tem tido problemas para controlar os gastos com pessoal e neste sentido Salvador também se destaca positivamente”, explica Nayara Freire. >
Para ela, a gestão municipal deve continuar ampliando os investimentos, a fim de oferecer melhores serviços para os cidadãos. >
Trabalho contínuo O prefeito de Salvador ACM Neto destaca a importância do resultado para a população. “Talvez poucas pessoas tenham noção da importância e da dimensão dos dados apresentados ontem pela Firjan, que tem esse hábito de avaliar a gestão fiscal das principais cidades do Brasil”, afirma. Ele lembrou que, quando assumiu a prefeitura, em 2013, a cidade ocupava a 13ª posição do ranking. “Nós estávamos disputando a lanterna. Fomos trabalhando e, já no ano passado, havíamos chegado à segunda posição. Nós sabemos o trabalho que foi feito para reposicionar Salvador e para que ela voltasse a ter credibilidade”. >
A administração municipal entendeu que, além das obrigações tradicionais da prefeitura, teria que se empenhar na melhoria das atividades econômicas, lembra o secretário municipal da Fazenda, Paulo Souto. >
Para ele, a tradição era de que essa não era uma atribuição da prefeitura. “Este resultado reflete o compromisso da atual gestão municipal, desde o primeiro dia do seu mandato, com o equilíbrio das contas públicas e a responsabilidade fiscal como condição básica e regra de ouro para a boa governança do município, o que se comprova claramente com o notável crescimento deste índice em Salvador, ano após ano, a partir de 2013”, disse.>
Regra de ouro O assessor da Secretaria Municipal da Fazenda, Umberto Costa, explica que desde o primeiro mandato do prefeito ACM Neto estabeleceu-se uma “regra de ouro”: o compromisso com o equilíbrio fiscal. Segundo ele, graças a esta decisão da gestão o destaque alcançado no IFGF em 2018 deve voltar a se repetir por mais alguns anos. Entre as medidas adotadas, ele cita o “realismo orçamentário”, que permitiu à administração atingir 99,7% da meta de arrecadação em 2018. >
“A trajetória que foi iniciada garante que haverá condições financeiras para atender às demandas da sociedade por muitos anos”, avalia. >
Umberto Costa lembra, por exemplo, que a lei permite a tomada de crédito em um volume correspondente a até 120% da receita corrente líquida, mas Salvador deve chegar a no máximo 36% deste percentual entre 2022 e 2024. No caso dos gastos com os serviços da dívida (que envolvem pagamento de juros e amortizações), a lei define 11,5%, mas o município chegará a no máximo 4,9%.>
Partilha e tipos de despesas são os desafios As dificuldades na gestão pública municipal passam tanto pela estrutura tributária do país, pela quantidade de despesas obrigatórios e por “bombas deixadas por gestões passadas”, avalia o especialista em Gestão Pública, Antonio Pimentel. Ex-prefeito de Governador Mangabeira e consultor em diversos municípios baianos, ele conhece na teoria e na prática as dificuldades enfrentadas pelos gestores municipais no Brasil. >
“Aqui na Bahia, você tem 10 municípios que concentram quase 50% do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços). Isso traz uma dificuldade muito grande”, avalia. Do lado da despesa, a legislação estabelece 25% de gastos com educação, 15% com saúde, 7% com as câmaras de vereadores e 1% com o Pasep. “Quase metade do orçamento fica para as despesas obrigatórias”, diz. >
Para completar o cenário, lembra, em muitos municípios existe uma “cultura de empreguismo”, o que cria elevados gastos trabalhistas e, muitas vezes, passivos para novas gestões. “A todo este quadro, some-se um aumento médio de despesas de 5% ao ano e de receitas bem abaixo disso”, afirma. >
Antonio Pimentel diz que o caminho traçado por Salvador, “apesar de difícil no início”, é o único possível a longo prazo. “ACM Neto (prefeito) está no caminho certo. Vem desenvolvendo um trabalho de corte de despesas e aumento das receitas”, ressalta. >
Três em cada quatro municípios brasileiros apresentam gestão fiscal em dificuldades ou crítica. E um terço das cidades do país não se sustenta, já que a receita gerada localmente não é suficiente para custear a Câmara de Vereadores e a estrutura administrativa da prefeitura, de acordo com a edição 2019 do Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF). >
O índice faz referência a 2018 e avalia as contas de 5.337 municípios de todo o país, que concentram 97,8% da população brasileira, com base em dados oficiais. >