Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Ivan Dias Marques
Publicado em 23 de julho de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Se no Brasil a lenda diz que todo menino quando nasce já recebe uma bola de presente, na Bahia, a redonda aos poucos vai ganhando a companhia de um par de luvas. A metáfora é para brincar com o fato de que o boxe se transforma em um esporte de gerações no estado. O mais novo representante dessa história de luvas, ringues, jabs e diretos certeiros com grande potencial e que já é destaque é o jovem Keno Machado, de 19 anos recém-completados. Mais novo de três irmãos e criado pela mãe Maria de Fátima na cidade de Conceição do Almeida, a 160km de Salvador e próxima a Sapeaçu, onde nasceu, Keno será um dos representantes brasileiros no Pan-Americano de Lima, que começa sexta-feira (26), em Lima, no Peru. E para que a Bahia seja, mais uma vez, protagonista no esporte, é preciso que o bastão seja passado. Pugilista baiano mostra técnica durante combate (Foto: CBBoxe/Divulgação) O soteropolitano Robson Conceição ganhou uma medalha de prata no Pan de Guadalajara-2011 antes de se tornar o primeiro medalhista de ouro olímpico do boxe brasileiro, nos Jogos do Rio-2016. Depois, trocou a versão amadora da modalidade pelo boxe profissional. Keno surge como revelação.
“No primeiro contato dele comigo, ainda não fazia parte da seleção, foi quando eu ganhei a medalha nos Jogos Olímpicos da Juventude. De lá para cá, a gente vem se falando. Na minha última luta na Classificatória (das Américas), ele mandou um vídeo me motivando“, conta Keno, por telefone, de São Paulo, onde treina e cursa Educação Física, com a timidez e fala mansa típicos de quem ainda se acostuma a dar entrevistas. Robson é o mais recente grande sucesso produzido na Bahia. Antes dele, vieram os campeões mundiais Acelino 'Popó' Freitas e Valdemir Sertão, além de Luiz Dórea – que hoje tem relevância como treinador -, Adriana Araújo (bronze nos Jogos de Londres-2012), Éverton Lopes (campeão mundial amador), Pedro Lima e Robenílson de Jesus. Embora o destino sonhado por Keno seja tão grandioso quanto o de alguns desses, o caminho é diferente. Aos 13 anos, ele deixou Conceição do Almeida para treinar em São Paulo. “Meu irmão (Jeremias) fazia parte de um projeto social de boxe, aí eu comecei a fazer parte também. Então me chamaram para vir pra São Paulo e eu vim”, conta. Quando volta à sua cidade, de férias, faz questão de ajudar os garotos que, assim como ele, veem no boxe uma saída.
O início da caminhada também é distinto, o que, notadamente, cria uma expectativa. Nenhum dos citados acima conquistou o que o jovem baiano alcançou em 2018, em Buenos Aires. Ao vencer o argelino Farid Douibi na final, Keno se tornou o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha de ouro no boxe nos Jogos Olímpicos da Juventude. Foi o bastante para chegar à seleção brasileira adulta e se tornar atleta do Exército, como boa parte dos esportistas de alto rendimento que possuem resultados consistentes. Para se ter uma ideia, Keno ainda figura no ranking brasileiro juvenil, como líder do peso até 75kg. No Pan, vai disputar a categoria até 81kg. Keno com a medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2018 (Foto: CBBoxe/Divulgação) 'O intocável' A medalha de ouro é difícil. Para chegar lá, fatalmente, o baiano terá pelo caminho um quase imbatível. O cubano Julio Cesar La Cruz, de 29 anos, é tetracampeão mundial amador consecutivo, campeão olímpico no Rio-2016 e bicampeão pan-americano e centro-americano. A única derrota dele em grandes eventos foi em Londres-2012, quando caiu nas quartas de final, vejam só, para um brasileiro, Yamaguchi Falcão. Keno e La Cruz se enfrentaram em abril, na Classificatória das Américas, competição em que ambos garantiram a vaga em Lima. Na semifinal, o cubano, conhecido como ‘O intocável’, venceu por decisão unânime e o baiano ficou com o bronze. “Julio é um grande adversário. Foi uma boa luta. Viemos trabalhando forte de lá pra cá, estamos preparados para ele e para outros. A equipe de treinadores desenvolveu ações táticas e técnicas para enfrentá-lo”, garante o baiano.