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Rumo ao abate, jumentos morrem de fome e sede na Bahia: 'lugar horrível'

Chineses responderão por crime ambiental; Polícia Civil e MP-BA acompanham

  • Foto do(a) author(a) Mario Bitencourt
  • Mario Bitencourt

Publicado em 5 de setembro de 2018 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: ONG SOS Animais/Divulgação
. por Foto: ONG SOS Animais/Divulgação

À esquerda, animais debilitados em curral; ao lado, um dos mortos ao lado de riacho (Foto: ONG SOS Animais/Divulgação) Um caso explícito de maus-tratos que já resultou na morte de um número indefinido de jumentos – fala-se até em centenas – tem causado perplexidade em Itapetinga, cidade do Sudoeste da Bahia conhecida pela forte atuação na pecuária.

Cerca de 2 mil desses animais, oriundos de vários estados do Nordeste, chegaram ao município nos últimos dois meses para serem abatidos num frigorífico local que, segundo a Polícia Civil, possui autorização para realizar o serviço.

Os responsáveis pelos animais são dois chineses que a polícia preferiu, por enquanto, não divulgar os nomes para não prejudicar as investigações, mas é certo que vão responder por crime ambiental por deixar os animais com fome e sede.

A falta de alimentação e água, inclusive, é a principal razão para a morte dos animais, que chegam em carretas ao local, já debilitados. Muitos deles são fêmeas prenhas, que por sua vez, estão perdendo as crias.

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Imagens em fotos e vídeos feitas pela ong SOS Animais, que atua na defesa dos direitos dos animais em Itapetinga, mostram jumentos mortos e feridos em diversas partes do corpo – alguns deles, inclusive, mutilados.

Os animais mortos estão sendo amontoados uns por cima dos outros num terreno localizado atrás do Frigorífico Sudoeste, onde ocorrem os abates. Um vídeo gravado no último domingo (2) mostra um animal ainda com vida por baixo de carcaças.

AS IMAGENS SÃO FORTES

O jumento ainda tenta se levantar, mas não consegue devido ao peso que está por cima. Outros são jogados num riacho que deságua no Rio Catolé, utilizado para atividades pela comunidade itapetinguense e da região.

Situação preocupante A Polícia Civil, por meio do delegado Antonio Roberto Júnior, coordenador da 21ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin), em Itapetinga, informou que esteve no local e que foi feita uma perícia para constatar os problemas.“Realmente, a situação lá é muito preocupante. Visualmente, vimos uns 15 animais mortos, mas só a perícia é que vai nos dizer com certeza quantos são, bem como apontar se foram vítimas de maus-tratos”, disse o delegado.Roberto Júnior informou que os chineses responsáveis pelos abates, com o auxílio de um intérprete, negaram que estariam cometendo maus-tratos. Depois de ouvidos, os asiáticos foram liberados.

Não ficou claro, disse o delegado, se eles aproveitam a carne ou o couro dos animais. Na China o apelo maior pelos jumentos é pelo couro, onde há uma substância de muito interesse da indústria farmacêutica chinesa, por ser supostamente afrodisíaca.“Estão trazendo animais que eram usados para tração em propriedades e estão matando. A situação deles é a pior possível. Um absurdo o que está acontecendo aqui nesse lugar”, disse a ambientalista Solange Oliveira, da SOS Animais.“Estimamos que mais de 300 animais já tenham morrido de fome e de sede”, calculou ela.

A fazenda, de nove hectares, onde estão os animais, “não possui locais de sombra, o que deixa os jumentos mais estressados ao chegarem de viagem”.

“Eles já chegam com fome e com sede, ficam num lugar quente, adoecem e morrem. Alguns deles são enterrados pela metade, estão em decomposição, outros no riacho boiando. Está um lugar horrível”, disse Solange.

MP-BA acompanha O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), que instaurou inquérito para apurar o caso. Nessa terça-feira (4), o promotor Gean Carlos Leão enviou ofícios à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, à Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e à Delegacia de Polícia local para saber as providências.

O promotor requisitou à secretaria que inspecione a propriedade rural Fazenda Barra da Nega para verificar eventual licenciamento da área destinada ao confinamento e o suposto dano ambiental acarretado pela morte dos animais e destinação inadequada das carcaças.

Foi requisitado à Adab que inspecione a fazenda e o frigorífico Sudoeste para averiguar as condições sanitárias dos animais, identificando eventuais irregularidades. À Delegacia, o promotor solicita que seja encaminhada cópia do Boletim de Ocorrência em que foram registrados os maus-tratos a que estariam submetidos os jumentos na Fazenda Barra da Nega.

Providências A Prefeitura de Itapetinga informou que a Vigilância Sanitária Municipal esteve na sexta-feira na área onde estavam confinados os jumentos que seriam abatidos, e que junto com a Adab e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente “inspecionou a área e fez intervenções importantes para a saúde pública e para o bem estar dos animais”.

“Preocupada com possíveis infecções causadas pela decomposição dos animais mortos, a prefeitura disponibilizou máquinas para fazer a limpeza do Rio Catolé e das valas naturais de águas pluviais, retirou carcaças dos bichos e os enterrou em valas cobertas com cal, como ditam as regras sanitárias. Para proteger os animais vivos, a administração municipal levou comida e água em carros pipa”, diz a nota enviada ao CORREIO.“Ao final, assim como a Adab, a Secretaria de Meio Ambiente emitiu auto de infração e multa à empresa responsável pelo frete e confinamento dos animais antes de irem ao abate”, completa.“A Prefeitura de Itapetinga repudia toda e qualquer ação de maus-tratos a animais ou que possa por em risco a saúde da população e segue atenta às questões do município, pronta para tomar as providências cabíveis ao poder público, visando o bem estar do povo”, afirma a nota.

A Adab em Itapetinga informou que se reunirá nesta quarta-feira (5) com o MP-BA para tratar das providências tomadas no local, mas não deu detalhes de quais seriam.

O Frigorífico Sudoeste, por sua vez, declarou que apenas está realizando o abate dos animais e que trabalha em conformidade com as normas sanitárias do Ministério da Agricultura.