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Publicado em 5 de abril de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
“Nasci padre e vou morrer padre”. Foi assim que, há 13 anos, o padre José de Souza Pinto, conhecido como Padre Pinto, definiu sua relação com a Igreja e defendeu sua permanência na Paróquia da Lapinha, em Salvador. Ele era o paróco de lá há 30 anos, quase o mesmo tempo de sacerdócio, à época, mas uma celebração irreverente na Festa de Reis chamou um pouco mais a atenção: o padre levou os rituais de candomblé para a igreja e celebrou a missa vestido de Oxum. Causou um verdadeiro rebuliço.>
Polêmico, irreverente, religioso e artista com uma série de exposições de quadros - inclusive em homenagem a Antônio Conselheiro, em Canudos -, Padre Pinto cumpriu sua missão no final da tarde desta quinta-feira (4). Aos 72 anos recém-completados e quatro décadas e meia de sacerdócio, o religioso morreu, no Hospital Jorge Valente, na capital baiana, onde estava internado desde anteontem.>
A informação foi confirmada à noite pela Arquidiocese de Salvador, mas não se sabia, ainda, qual a causa da morte. Em novembro do ano passado, Padre Pinto havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC).>
O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Kriger, lamentou a morte do religioso e, em nota, disse que “expressa sua unidade com os Vocacionistas, cumprimenta os familiares do Padre Pinto e reza por esse sacerdote que dedicou vários anos de sua vida aos trabalhos pastorais nesta Arquidiocese, especialmente na Lapinha, onde revitalizou a Festa de Reis”.>
Nos últimos anos, o padre, que era artista plástico e bailarino por formação, vivia na Casa de Retiro Sagrada Família, vizinha à Paróquia de São Caetano da Divina Providência, em Salvador, junto com outros padres da congregação vocacionista.>
Era justamente dessa congregação que Padre Pinto disse não abrir mão, em 2006, quando acabou afastado da Paróquia da Lapinha após a celebração de Reis daquele ano. A performance não tinha pegado bem entre os mais conservadores e dividia opiniões dos fiéis.>
Embora o episódio tenha ganhado repercussão nacional e um grupo de fiéis tenha pedido sua saída da paróquia, Padre Pinto costumava agradar à maioria dos frequentadores da Lapinha. Em 1997, por exemplo, montou um presépio na igreja e colocou os Reis Magos numa réplica da Fobica, o primeiro trio elétrico.“Só quem pode julgá-lo é Deus. Para a comunidade, não tem padre melhor”, disse, em 2006, o construtor aposentado Michael Depa, 65, um dos fiéis.Quando completou 30 anos de sacerdócio, em 3 de maio de 2003, Padre Pinto afirmou ao CORREIO que se surpreendia quando batizava os filhos de alguém que tinha sido batizado por ele: “Foram 30 anos que eu nem vi passar. Parece que foram somente três”. Àquela altura, havia celebrado 10.955 missas, 4.060 batismos, 336 crismas e 1.948 casamentos.>
Em 2001, em uma entrevista às vésperas de sua já consolidada Festa de Reis, Padre Pinto falou sobre a ligação entre a festa religiosa e profana. “Encaramos a festa popular como extensão, visto que estão presentes a solidariedade, fraternidade e alegria de viver. Aqui na igreja, as pessoas recebem a luz divina, para ser emanada lá fora”, disse ao CORREIO.>