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Gabriela Cruz
Publicado em 24 de março de 2019 às 10:27
- Atualizado há 2 anos
Seis mulheres desfilaram atitude. Trinta levaram à passarela looks dos anos 70, 80 e 90. Cinco discutiram segurança, Direito, sexo e empreendedorismo. Com a QuantA ao vivo no Teatro Eva Herz (Salvador Shopping), na última quarta-feira (20), a noite foi, sem dúvida, feminina. E plural. Altas e baixas, gordas e magras, negras e brancas, cis e trans: elas brilharam no Mulheres de 40, projeto do CORREIO com oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e apoio de Vinci Airports, Sesi, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia. Confira.
Cecília Fatal Vestido longo e vermelhão como o batom. Cabelo em penteado de festa. A cineasta Cecília Amado, 43, optou por um look de tapete vermelho para contrastar com seu dia-a-dia no trabalho. “Coordenei equipes com mais de 100 técnicos, na maioria homens. Sempre trabalhei de jeans, tênis e camiseta. Era necessário para não ‘comprometer minha credibilidade’, não me ‘arriscar’ ao assédio”, explica a diretora de Capitães da Areia, versão cinematográfica da obra literária do avô. Antes, ela trabalhou por cinco anos da TV Globo como assistente de direção de novelas. Aos 40, passou a se sentir mais livre. E diz que isso fez toda a diferença: “Quando a gente tem liberdade para ser o que é, a gente rejuvenesce”. Depois dos 40 tive um momento de redescoberta de minha juventude. E isso se chocou um pouco com a imagem que eu tinha. Cecília Amado, cineasta Foto: Renato Santana/CORREIO Revolucionária Ariane
Num país em que a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos e que 90% delas recorrem à prostituição (dados da Associação Nacional de Transexuais e Travestis do Brasil - Antra), ver Ariane Senna, 27, desfilar, poderosa ao som de Beyoncé (I was here), é daquelas coisas que fazem acreditar no futuro. Para a primeira mulher trans psicóloga da Bahia, ser mulher é resistência. “É ser a esperança do mundo, revolução”, diz ela, que foi expulsa de casa e se prostituiu dos 13 aos 17 anos. “Hoje faço mestrado em estudos étnicos e africanos na Ufba”, conta. Ela subiu ao palco com roupas “de mulher bem- sucedida”. “É isso que estou batalhando para ser”. Já é, Ariane. E isso é só o início."Sonho em ter uma casa própria, uma família, com cachorros, bichos e alguém também, obviamente", diz Ariane Senna, primeira mulher trans formada em Psicologia na Bahia e mestranda na Ufba Foto: Renato Santana/CORREIO Pin up Piti
Quem viu a pin up bater um cabelão no palco não imagina, mas um dos primeiros momentos empoderados da produtora Piti Canella - que tem no currículo Gilberto Gil e a cerimônia de encerramento dos jogos Paraolímpicos do Rio 2016 - foi, justamente, mandar cortar bem as madeixas. “Desde os 7 anos eu ia pro salão. Aos 13, minha mãe me deixou sozinha e quando voltou, estava curto e cacheado”, lembra. De tanto passar vontade, prometeu: “De mim, nunca ninguém ouviria censura. Quer fazer loucuras, me peça conselho”, conta. Encheu o corpo de tatuagens - temporárias, criadas pela tatuadora Luana Dórea -, e botou o decotão no palco ao som de Um Amor de Verão, do Rádio Taxi.O realizar é mais feminino que masculino. A gente é proibida de tantas coisas que quando ninguém proíbe, a gente sai fazendo, diz Piti Canella, produtora Foto: Renato Santana/CORREIO Ovelha Negra Rose
Rose Lima, 54, lembra da mãe tentando domar seus cabelos rebeldes com produtos e neros. Adiantou nada. Quando começou a tocar Ovelha Negra, de Rita Lee, ela passeou pelo palco ostentando o cabelo, todo cacheado. Diretora artística do Teatro Castro Alves há cerca de 13 anos, ela lembra que tudo começou na Faculdade de Arquitetura. “Lá comecei a ver que podia gostar de Le Corbusier, mas também de Gaudí”. Para Rose, passar dos 40 marcou a concretização da força de realizar. Ela escolheu cada detalhe do look e optou por um vestido de Mônica Anjos, arrematado por um colar da Areia Inutensílios com os seguintes dizeres: “Só abaixo a cabeça pra enxergar meu coração. Só a ele presto reverência”. Ser mulher é ter fertilidade em todos os sentidos. E depois dos 40 você já pegou muito do mundo se sente capaz de realizar, diz Rose Lima, diretora artística do Teatro Castro Alves Foto: Renato Santana/CORREIO Ana Macho Femme
Na primeira vez que desfilou, Ana Dumas o fez totalmente de seu jeito: só com roupas de acervo, misturando peças masculinas e femininas e acompanhada de seu inseparável carrinho multimídia. “Nasci menina numa época e num lugar onde ser mulher era sonhar com marido e filhos, cuidar da casa, cuidar da família, ver a vida passar”, narrou ela, que era chamada de macho femme (mulher, em francês) pela mãe. O turbante e a camisa do cantor David Bowie, dialogam com suas raízes. “Um pela minha relação com a questão da raça. A outra porque Bowie foi fundamental para mim. No interior, em Prado, ele já era uma referência que apontava pra um caminho sem fronteiras”, lembra ela.Trago uma questão de mulheres que não são tão ‘femininas’. Para discutir e parar de achar que o padrão de mulher é um só, diz Ana Dumas, Ideias-Jocker Foto: Renato Santana/CORREIO Cósmica Adriana
Para a terapeuta ocupacional Adriana Balaguer, 45, os 40 anos marcaram o nascimento de seu primeiro filho, Matheus. “Me tornar mãe foi me conectar com essa selvageria feminina”, conta ela, que tentou um parto domiciliar, com piscina na sala, gatas passeando e amigas amparando. “Senti intensamente as dores do parto, de 11 horas da noite até 9h30 da manhã. Foi como se eu tivesse numa caverna no meio do mato, conectada comigo mesma. Mas ele não queria nascer, então fui pro hospital e tive que fazer cesária”, lembra Adriana. No palco, ao som de Cósmica, cantada por Baby do Brasil, ela desfilou com um look que exibia parte de suas 24 tatuagens, cabelo multicolorido e look hippie.Ser mulher é força de luta, de mudança, de vida, é víscera, selvageria, força e intuição. É a força do amor, diz Adriana Balaguer, Terapeuta Ocupacional Foto: Renato Santana/CORREIO
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Identidade fashion
Flash mob - Tanto quem circulava pelo Salvador Shopping quanto quem estava no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura) na última quarta-feira levou um susto. Ao som da trilha sonora da artista performática Ana Dumas - e seu carrinho -, 30 modelos surgiram desfilando looks inspirados nas décadas de 70, 80 e 90, montados a partir de peças das lojas Blu K, Bobstore, Cambodja, Cantão, Costa Leste, Elementais, Ellus, IO, Lança Perfume, Lez a Lez, Live!, Luigi Bertholli, Oh, Boy!, Program Plus, Sacada, Santa Oportunidade, Shoulder, Siberian, TVZ, Villanik e Youcom. O desfile foi assinado pelo produtor de moda Fagner Bispo, com beleza de Dino Neto e equipe. “Quis mostrar as principais caraterísticas de cada década no que se refere a moda. E o mais legal na construção dessa história é poder ver que ela sempre vai visitar seu passado”.
Conceito - A ideia do desfile surgiu para mostrar, através da moda, as mudanças no comportamento das mu- lheres ao longo destas três décadas. O CORREIO nasceu em 1978, época marcada por movimentos que defendiam a liberdade, como o Hippie, o Tropicalismo e o Disco, e que usaram a moda como forma de expressão. As décadas de 80 e 90 também foram de grande expressividade, principalmente para as mulheres, que refletiram no modo de vestir anseios como a busca pela igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.
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Estilos - Os 30 looks foram divididos em seis blocos: hippie, disco, flúor, yuppie, grunge e minimalista, inspirados em alguns dos principais estilos das três décadas escolhidas. O primeiro refletiu a necessidade de livre expressão, o segundo trouxe a vibe das boates no fim dos anos 70 - com destaque para o black power das modelos. Tão forte há duas temporadas - e presença garantida nos looks até o ano que vem - o flúor reinou animadíssimo em seu bloco, assim como a pegada escritório veio firme com seus terninhos e saias lápis. Já grunges dividiram atenção com as minimalistas, provando que a moda hoje está mais eclética do que nunca.
Asterisco - O desfile coletivo trouxe roupas de 21 lojas do Salvador Shopping. Já os acessórios, como bolsas e brincos, foram custonizados por Fagner Bispo com o nome do CORREIO e o asterisco que faz parte de sua logo. A ideia foi marcar a ação como parte das comemorações dos 40 anos do jornal.
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Mulheres: mães ou não, solteiras ou casadas, cis ou trans, acima dos 40 ou chegando lá. Foi com o bate-papo “Mulheres de 40 - Baianas Retadas e o Universo da Representatividade Feminina” que a coluna QuantA, do CORREIO, assinada pela jornalista Flavia Azevedo, foi realizada pela primeira vez ao vivo, nesta quarta-feira (20), no Teatro Eva Herz, em Salvador. Foto: Arisson Marinho/CORREIO A gente só aprende a levantar quando tá caindo. Hoje, consigo olhar com sororidade, pois experimentei isso, diz Major Denice Santiago, Idealizadora e comandante da Ronda Maria da Penha*** Desde criança a gente aprende a não se tocar, a não aprender o que é prazer. Isso afasta a gente da realidade, diz Satta Prem, Terapeuta tântrica***Muitas mulheres têm se desencantado com relacionamento hétero porque estão altamente cansadas. Antes, elas cuidavam dos filhos e os homens iam trabalhar. Agora, elas continuam cuidando dos filhos, mas também vão trabalhar. Eles não se conscientizam que precisam dividir o trabalho doméstico, diz Mariana Régis***Digo sempre que até 2006 a gente não tinha violência doméstica neste país, ninguém falava nisso. A partir da Lei Maria da Penha, a gente começou a botar um nome nisso que minha mãe, minha avó e minha tataravó viveram. Assim como em 2015 botaram o nome feminicídio, diz Major Denice ***Hoje, para você ter um parceiro, sendo baiana de acarajé, é uma luta. A gente sai muito cedo pra comprar materiais, coloca nos pontos de distribuição, geralmente às 17h, e a jornada vai até 0h, 1h da manhã, diz Elaine Assis***Acho que todas já fingimos orgasmo. A gente não faz sexo para curtir aquilo, faz para chegar a um destino. Para acontecer algo com duas pessoas, primeiro é preciso acontecer individualmente. Entendendo os caminhos que levam pra esses prazeres, a gente guia melhor o outro, diz Satta Prem*** Algumas coisas seriam mais bem solucionadas se a mulher procurasse uma advogada antes de casar, pra saber da partilha de bens. Muita mulher topa casar com separação total e, enquanto ela se dedica aos filhos e à casa, o homem compra bens. Quando separa, a mulher fica até sem ter onde morar, diz Mariana Régis***Eu tive o privilégio de ter uma mãe feminista. Ela dizia pra eu trabalhar, ter minha casa, meu carro e só depois procurar homem. Já tô no quarto casamento, indo pro sexto, diz Major Denice ***