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Felipe Aguiar
Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Um dos setores afetados pelo cancelamento do Carnaval 2021 foi o da reciclagem. Os cooperados têm os dias de folia como um momento para ganhar uma renda extra, mas este ano não tiveram essa chance.
Nelia Calhaus, cooperada da Cooperguary há 5 anos, conta que, no ano passado, eles conseguiram receber entre R$ 800 e R$ 1.000 durante os dias de festa. Mas, atualmente, um cooperado consegue menos de um salário mínimo por mês. “Na pandemia nossa renda diminuiu muito”, afirmou Nelia. A cooperativa Cooperguary, por exemplo, teve que reduzir seu quadro de funcionários, e 30 pessoas foram dispensadas.
Na tentativa de beneficiar essas e outras famílias, foi criado o Circuito Mar Reciclagem, parceria entre MAP Brasil, SOLOS e a Ambev. O projeto visa gerar cerca de R$ 100 mil para as cooperativas envolvidas. A Limpurb participa da ação. Com a iniciativa do Circuito, 30 famílias que estavam sem trabalho foram contratadas. Nelia explicou que a diária para trabalhar meio turno no projeto é no valor de R$150. “Essa renda significa muito”, diz a cooperada.
Márcia da Purificação, 49, que é cooperada da CAEC, também falou sobre a importância desta parceria. Ela afirmou que a ajuda é bem-vinda e que fez a diferença para ela e várias outras pessoas. Dona Márcia também comentou sobre a falta do Carnaval. “O recurso seria bom se tivesse Carnaval, os cooperados receberiam bem mais do que hoje”, contou a cooperada. Ela ainda explicou que o número atual de pessoas na cooperativa em que trabalha é bem menor do que o normal. "Nesta pandemia, nada está fácil”, concluiu.
A co-realizadora do projeto e sócia da SOLOS, Saville Alves, esclarece o processo de criação da ação. De acordo com ela, “o projeto foi pensado para transformar quatro bairros de Salvador em circuitos de reciclagem”, onde cada bairro foi destinado para uma cooperativa parceira diferente. Em cada um desses bairros existe uma central que é o local onde as pessoas podem levar seus resíduos. As cooperativas também têm à disposição triciclos e kombis que realizam as coletas nos estabelecimentos parceiros do projeto. Foto: Nara Gentil/ CORREIO Os materiais recolhidos em cada central são responsabilidade de cada cooperativa. “Ela (a cooperativa) faz a pesagem, triagem e comercialização”, explica Saville.“Quanto mais resíduo, melhor”, afirmou. A sócia da SOLOS explicou que a ação está garantindo um investimento direto de R$20 mil para cada uma das quatro cooperativas. De acordo com a co-realizadora, esse dinheiro é um capital para viabilizar tanto a execução do projeto como beneficiar os cooperados. Ela ainda contou que são cerca de 200 pessoas trabalhando nas quatro cooperativas. Saville declara que o projeto é uma “ ação de sensibilização” e que é necessário "incorporar essas pessoas que são invisibilizadas”.
Apesar da ação ter sido expandida nesta sexta-feira (19) para a população, nem todo mundo tem conhecimento do Circuito Mar Reciclagem. A massoterapeuta, Marli Carvalho, disse que não sabia do projeto, mas que achava importante para ajudar as pessoas que reciclavam no Carnaval e para a melhoria da praça. “A praça tá muito suja”, comentou. Marli trabalha na praça Ana Lúcia Magalhães há seis anos e disse que a higiene da mesma anda precária. Por conta da pandemia, ela parou de fazer massagens por questões de segurança. “Precisei me reinventar”, afirmou a massoterapeuta que agora vende, todo domingo, chips de banana da terra com a sua filha.
A ação acontece até o próximo domingo (28) e pretende retirar mais de 20 toneladas de materiais recicláveis. As centrais de coleta dos circuitos estão localizadas na Barra, Ondina, Rio Vermelho e Pituba. As cooperativas farão a coleta dos materiais gerados em bares, restaurantes, hotéis e condomínios, durante este período. Como declarou a co-realizadora do projeto, o Circuito busca a conscientização da população e incentiva a sua participação.
*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro