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Gil Santos
Publicado em 30 de julho de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Foram meses procurando trabalho até que Anderson Veloso Filho, 19 anos, finalmente conseguiu descolar uma vaga como vendedor no Mercado Modelo, no Comércio. Ele começou a trabalhar em janeiro, mas dois meses depois se viu novamente parado por conta da pandemia. Desde então, nesses 120 dias, fez alguns bicos como entregador, por isso, ele comemorou a reabertura do espaço a partir desta quinta-feira (30).>
“Não tem como não comemorar. É trabalho. Estava esse tempo todo parado, fazendo umas correrias como entregador, mas não é a mesma coisa de ter um dinheiro certo no final do mês. A gente sabe que o movimento vai ser fraco no começo, mas esperamos que as coisas melhorem com o tempo”, disse. Anderson estava trabalhando há apenas dois meses quando o mercado foi fechado (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Ele foi um dos 260 trabalhadores do Mercado Modelo que fizeram teste para covid-19 na quarta-feira (29). A testagem foi uma exigência da prefeitura para autorizar a reabertura do espaço. Seis profissionais de saúde se posicionaram no segundo piso do prédio com os equipamentos, e os permissionários e vendedores foram organizados em filas para fazer o exame. O resultado era liberado em até 1h.“Foi rápido mesmo. A moça pegou um aparelho, depois pegou meu dedo e deu um ‘tuque’, furou, pegou a gota de sangue, e me liberou”, contou Anderson.O espaço reabre a partir desta quinta, mas com algumas restrições. Serão permitidas apenas 290 pessoas ao mesmo tempo no Mercado, com limite de um cliente por boxe, e a máscara é de uso obrigatório para todos. Para evitar aglomerações, a saída e a entrada foram separadas, e o funcionamento será de segunda-feira a sábado, das 10h às 16h.>
O secretário municipal de Ordem Pública (Semop), Marcus Passos, contou que os lojistas terão que disponibilizar álcool em gel para quem visitar ou trabalhar no boxe.>
“Além da testagem, entramos com uma equipe de limpeza da Limpurb. Vamos distribuir 300 face shields, aquelas máscaras mais apropriadas, para os permissionários, e mais duas máscaras dessas tradicionais. Vamos colocar dois lavatórios, um na entrada e outro no acesso central para as pessoas higienizarem as mãos. Essas ações fazem parte das medidas e dos protocolos para a reabertura”, afirmou o secretário. A reinauguração oficial será realizada pelo prefeito ACM Neto. Marcus Passos acompanhou a aplicação dos testes (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Situação complicada Às vésperas da abertura, alguns stands ainda estavam com cheiro de mofo. A mãe da fisioterapeuta Priscila Costa, 30 anos, tem um boxe no mercado e a jovem estava fazendo a limpeza do espaço na quarta-feira. Ela contou que, apesar de abrir o local pelo menos uma vez por mês durante a pandemia, a falta de ventilação fez com que elas perdessem cerca de 300 peças de roupa.>
“Estão todas com mofo. É muito triste toda essa situação. Temos esse boxe há muitos anos, ele foi de meu pai e depois passou para a gente. Foi esse trabalho que permitiu a minha formatura e de minha irmã. Minha mãe empregava três pessoas aqui e todas foram dispensadas porque não tivemos como manter os empregos”, contou, enquanto separava as peças estragadas. Foram aplicados 260 testes para covid-19 nos trabalhadores do mercado (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Segundo a Associação dos Comerciantes do Mercado Modelo (Ascomm), antes da pandemia o local abrigava cerca de 260 permissionários e 300 funcionários. Nem todos voltarão a trabalhar. Os bares, por exemplo, vão permanecer fechados até que a segunda fase da retomada das atividades econômicas seja ativada. O presidente da Associação, Nelson Tupiniquim, contou que algumas pessoas passaram por sérias dificuldades.>
“Não conseguimos linha de crédito para socorrer os negócios e não recebemos ajuda. Esse período foi muito difícil. Alguns precisaram de cestas básicas, e foi uma situação muito complicada. Eu trabalho no Mercado Modelo há mais de 50 anos. Passei pelo sofrimento dos incêndios de 1969 e de 1984, e posso te garantir que nada se compara com o que vivemos em 2020”, afirmou.>
Nelson diz que 80% das pessoas que visitam Salvador vão ao Mercado Modelo, e que julho é um mês que serve para equilibrar as contas. “Janeiro e fevereiro são os meses mais movimentados, por conta do carnaval. Em seguida, vem julho por conta das férias escolares que acontecem no sul do país. O restante do ano o movimento é mais fraco. A pandemia atrapalhou tudo”, analisa. Público aguarda para fazer o teste (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Funcionários da Limpurb fizeram a desinfecção do local na terça-feira, e duas vezes na quarta, antes e depois da realização dos testes rápidos. Para o secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pablo Barrozo, a retomada das atividades do Mercado Modelo representa mais que uma questão econômica.>
“Esse espaço é importante para a história da nossa cidade e para o turismo. Ele é reconhecido no mundo todo. É uma estrutura linda que fica na Praça Cayru, praça que será entregue amanhã toda reformada. A reabertura é importantíssima para a retomada econômica de Salvador, um destino que emprega tanta gente na cadeira do turismo”, disse.>
Primeiro teste Para muitos dos trabalhadores do Mercado Modelo esse foi o primeiro teste que fizeram para covid-19 desde que a pandemia começou. A vendedora Ana Cláudia Alves, 47, trabalha há 15 anos no local. “Fazer essa testagem antes de reabrir foi uma boa ideia porque, assim, identifica quem está com a doença e evita que essa pessoa volte a trabalhar e passe para mais alguém”, disse. Ana Claúdia trabalha há 15 anos no Mercado Modelo (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) O ex-secretário de cultura e turismo de Salvador e atual presidente da Comissão Permanente de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Relações Internacionais da Câmara Municipal, Cláudio Tinoco (Republicanos), esteve no local na quarta-feira para acompanhar e fiscalizar os protocolos de segurança para a reinauguração.>
“Por mais que o Mercado Modelo esteja enquadrado como centro comercial e nessa fase um de reabertura, ele é um equipamento cultural e turístico. A gente sabe que a grande maioria de visitantes é turista, e como a cultura e o turismo serão as últimas fases de reabertura ele acaba sendo um símbolo. Foram muitos os incêndios, mas ele é tão importante para a história da cidade que sempre foi reconstruído, e isso demonstra a dimensão e a importância que tem o equipamento”, afirma. Prédio atual é de 1861 e sofreu um incêndio em 1984 (Foto: Divulgação) O Mercado Modelo foi criado em 1912 e funcionava em outro prédio do Comércio, mas depois de sofrer quatro incêndios (1917, 1922, 1943 e 1969) ele foi transferido, na década de 1970, para o atual edifício. O prédio novo é de 1861 e foi construído para servir como alfândega. Em 1984, o espaço passou por uma extensa reforma depois de enfrentar outro incêndio.>
O local também abriga bares e restaurantes, mas esses espaços ainda não estão autorizados a funcionar. Segundo o protocolo divulgado pela prefeitura, esses estabelecimentos só poderão reabrir quando a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para covid-19 permanecer cinco dias seguidos em 70% ou menos, e após 14 dias do início da primeira fase. Ela começou na sexta-feira (24), por isso, a expectativa é de que a segunda fase seja ativada apenas em meados de agosto.>
Confira as mudanças no funcionamento do Mercado Modelo:Serão permitidas apenas 290 pessoas ao mesmo tempo no local; Os boxes só podem receber um cliente de cada vez; A máscara é de uso obrigatório para funcionários e clientes; Vendedores terão que usar máscara com barreira física; Permissionários precisam ter álcool em gel à disposição de clientes e funcionários; Para evitar aglomerações, a saída e a entrada foram separadas; Haverá lavatório público para a higienização das mãos; Funcionamento de segunda-feira a sábado, das 10h às 16h; >