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Quase 40 famílias indígenas estão ilhadas devido às chuvas no oeste da Bahia

Em pelo menos quatro municípios, povos estão com dificuldades de locomoção por conta de estradas obstruídas

  • D
  • Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2022 às 05:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Luciene Oliveira/Divulgação

As chuvas começaram a dar trégua no sul, sudoeste e centro-sul da Bahia nos primeiros dias do ano. Mas, no oeste do estado, alagamentos de estradas e pontes danificadas, têm dificultado a vida de quem mora em aldeias indígenas. Pelo menos em quatro municípios da região (Angical, Cotegipe, Santa Rita de Cássia e Serra do Ramalho), um total de 37 famílias estão ilhadas, sem acesso aos centros das cidades. 

Na divisa de Angical e Cotegipe, às margens do Rio Grande, as aldeias Atikum Benfica e Atikum Cágados, estão sem acesso ao centro do município e enfrentam falta de água e alimentos. “Nossa situação é complicada porque não temos mais acesso a nenhuma das cidades depois que todas as pontes quebraram. Estamos ilhados”, explica Luciene Oliveira, presidente da Associação da Comunidade Indígena Nova Atikum. 

Sobre a escassez de mantimentos, Luciene afirma que muitas famílias acabaram captando a água da chuva, mas que nem todos possuem reservatórios suficientes. Sem água tratada, os indígenas acabam se arriscando e consomem a água do rio, que apresenta muitos resíduos de lama.  O alto nível da água impede que a comunidade vá buscar mantimentos no centro de Angical(Foto: Luciene Oliveira) “Estamos com essa falta de água e os alimentos, de quem comprou, já estão no fim. O que tínhamos plantado na roça da margem do rio, a água destruiu”, diz Luciene. São 22 famílias ilhadas, a maioria residindo no município de Cotegipe. Dessas, 14 residem na comunidade de Benfica, cinco na de Cágados, duas em Barriguda e uma em Cupins. 

Segundo o prefeito de Angical, Emerson Mariani, cerca de seis mil pessoas estão ilhadas na zona rural do município, desde que o nível do Riacho Redenção subiu, no sábado de Natal (25). O número representa quase a metade do total de moradores da cidade, que é de 13 mil habitantes. Como a força da água derrubou muitas das pontes que ligam a zona rural, Emerson afirma que 90% das estradas vicinais foram comprometidas no último mês. 

“Nós providenciamos um ônibus escolar e um barco para fazerem o tráfego dos moradores ilhados, mas a situação está bem complicada”, diz o prefeito. A região está sob alerta laranja de chuvas intensas, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) desde segunda-feira (3). 

Outras quatro famílias da etnia Atikum estão sofrendo com os alagamentos no município Santa Rita de Cássia, no extremo-oeste. A água invadiu a parte da aldeia mais próxima do Rio Preto e destruiu plantações. “Essas famílias têm cerca de 56 pessoas, que perderam plantios de feijão e mandioca, por exemplo”, afirma Adelson Atikum. A aldeia fica localizada na fazenda Sobradinho, conhecida como Jenipapeiro.

O CORREIO tentou entrar em contato com as prefeituras de Santa Rita de Cássia e Cotegipe para ter mais informações sobre a situação dos indígenas, mas não obteve retorno. A cidade também está sob o alerta e apresenta previsão de mais chuva durante toda a semana. Também no oeste da Bahia, a cerca de 260 quilômetros de Angical, o município Serra do Ramalho, que está sob alerta laranja do Inmet, também possui povos ilhados. 

Pankaru

Na aldeia Vargem Alegre, onde residem indígenas da etnia Pankaru, a estrada que liga a zona rural ao centro da cidade ficou alagada depois da forte chuva que ocorreu no domingo (2). O cacique Edmilson Pankaru conta que um morador da aldeia que foi até o município de carroça não conseguiu voltar depois do temporal: “As famílias não têm mais condição de trafegarem com carro pequeno depois que a água cortou a estrada”. 

A obstrução da via é preocupante porque as regiões começam a enfrentar falta de mantimentos, como água e alimentos. Segundo o cacique, o cotidiano da aldeia não costuma ser fácil e, com os alagamentos, acabou piorando: “Nossa sobrevivência aqui é muito difícil, faltam recursos. Conseguimos água através de um poço muito fraco e não conseguimos plantar na seca. Por um lado agradecemos a chuva, mas por outro, piorou nossa situação”. 

São 11 famílias ilhadas na aldeia, que fica em Serra do Ramalho, segundo o cacique. A Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado (Sudec) solicitou ao Corpo de Bombeiros da Bahia, na segunda-feira (3), dois mil litros de água potável para os indígenas localizados tanto em Serra do Ramalho, como em Angical. O temporal que atingiu Serra do Ramalho no domingo (2) aumentou o nível da água que obstrui a estrada (Foto: Edimilson Pankaru) A reportagem tentou entrar em contato com a prefeitura de Serra do Ramalho, mas não obteve retorno. O CORREIO também pediu informações à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia, mas não teve resposta. 

Itambé

No centro-sul da Bahia, no município de Itambé, uma indígena de 49 anos foi socorrida de helicóptero e encaminhada para atendimento médico de urgência, depois que o marcapasso que ela utiliza apresentou problemas. O resgate foi feito na tarde de domingo (2) pelo Grupamento Aéreo da Polícia Militar da Bahia (Graer). 

Sem condições viáveis de acesso terrestre à aldeia, por conta das fortes chuvas, a aeronave precisou ser utilizada para prestar socorro. A paciente foi encaminhada para um hospital de Itapetinga.

Realidade difícil

“Quando as chuvas alagaram as aldeias indígenas e nós entramos dentro das casas, encontramos situações de miséria que não esperávamos. Vimos realidades que não sabíamos que aconteciam no nosso território”. A fala é de Thyara Pataxó, integrante da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (Ajipe). 

Na segunda quinzena de dezembro, cerca de três mil indígenas também ficaram ilhados, dessa vez na região de Porto Seguro, no sul do estado. Thyara foi uma das voluntárias que arrecadou e doou mantimentos a esses povos e viu de perto a realidade de dificuldades que muitos deles enfrentam. A miséria foi intensificada com os alagamentos. 

Quando uma ponte de madeira foi derrubada pela tempestade, 14 aldeias da etnia Pataxó ficaram isoladas por cerca de uma semana. Entre as aldeias estavam Boca da Mata, que concentra boa parte dos anciãos do povo. A região, conhecida como Costa do Descobrimento, tem um valor simbólico de resistência para o povo. Thyara conta que a ponte só foi reconstruída porque moradores da região e entidades voluntárias fizeram uma vaquinha para arrecadar dinheiro.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.