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Produtores baianos voltam a colher algodão

Trabalho foi interrompido pela greve dos caminhoneiros; safra deve ser a maior em 7 anos

  • Foto do(a) author(a) Georgina Maynart
  • Georgina Maynart

Publicado em 7 de junho de 2018 às 06:05

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: (foto: Georgina Maynart)

Depois de alguns dias com as operações interrompidas, os produtores de algodão da Bahia voltaram a colher a fibra nos campos do Oeste do estado. As operações chegaram a ser suspensas por quase duas semanas devido à paralisação dos caminhoneiros, que impedia a chegada do diesel nas fazendas. Praticamente 100% das máquinas agrícolas funcionam a base deste combustível.

Os agricultores têm prazo até setembro para colher tudo o que plantaram. Até lá, toda a produção deve ser retirada do campo por causa do vazio sanitário do algodão, período em que todas as plantas vivas devem ser eliminadas do campo. O vazio sanitário é uma medida de Defesa Agropecuária que tenta prevenir e combater a propagação de pragas nas lavouras, principalmente o Bicudo, a mais frequente no algodoeiro. O produtor que não cumprir a portaria da Agência de Defesa Agropecuária (ADAB) e a lei de Defesa Sanitária Vegetal paga multa.

Vão ser 4 meses de trabalho intenso no campo, já que os cotonicultores esperam colher mais de 465 mil toneladas de algodão. Para isso as colhedeiras vão percorrer os 263,7 mil hectares plantados, uma área 32,5% maior do que a da safra passada. Os números geram expectativa positiva entre os agricultores que devem obter a maior safra dos últimos 7 anos. Entre 2011 e 2017 vários fatores prejudicaram as safras, desde a falta de chuva até a redução na área plantada por causa das crises no mercado internacional.

Bahia

A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do Brasil e responde por mais de 26% da produção nacional. No Oeste baiano as plantações se espalham por vários municípios, principalmente São Desidério, Formosa do Rio Preto, Luis Eduardo Magalhães, Barreiras e Riachão das Neves.

Outro fator que vem animando os produtores baianos é o preço do algodão no mercado internacional, já que dois dos maiores produtores, Estados Unidos e China, estão enfrentando problemas de qualidade na produção da pluma.

Diante deste cenário promissor, a área plantada na Bahia deve ser expandida no próximo ano. Segundo Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (ABAPA), a área cultivada deve chegar a 300 mil hectares em 2019, e a 400 mil hectares em 2020.

Incluindo as fases do plantio, manejo, colheita, beneficiamento, transporte e comercialização, a produção de algodão constitui uma das maiores cadeias produtivas do País. Na Bahia gera 40 mil empregos segundo a ABAPA. “Essa é a importância que o algodão tem, principalmente pelo número de empregos que ele traz, queremos aumentar este número”, afirma Busato.

As oportunidades de emprego envolvem desde o trabalho direto no campo, até atividades afins ou complementares. André Reginaldo tem 36 anos e há 3  trabalha como vigilante em fazendas de algodão do município de Luis Eduardo Magalhães. O irmão exerce a mesma função em outra fazenda, e outros 8 parentes trabalham diretamente no campo como auxiliares de produção, manutenção ou dirigindo máquinas. “Se eu não tivesse oportunidade de trabalho aqui eu teria que ir para Brasília, ficaria longe da família”, diz.

Até o consumidor

Ainda em forma de caroço, o algodão serve para alimentar o gado, virar farelo, óleo ou biodiesel. O óleo pode ser usado no preparo de alimentos, cosméticos ou remédios. Já a pluma é enviada para as agroindústrias têxteis para ser transformada em fio. 60% da produção ficam nas indústrias de fiação do Nordeste. Os outros 40% são exportados para países asiáticos, principalmente Indonésia, Turquia, Bangladesh e Paquistão.

Isso por que apesar de ser o segundo maior produtor de algodão do Brasil, sendo superado apenas pelo Mato Grosso, o Oeste da Bahia ainda não possui indústria fabricante de tecido de algodão. Segundo os produtores, problemas estruturais e logísticos impedem a instalação deste tipo de indústria na região, que ainda sofre constantes quedas de energia e enfrenta gargalos no transporte.

“Não temos indústria de tecido em função da energia elétrica, que é um dos problemas. Outra questão é de logística, porque você tem que que ter competitividade. Um terceiro fator é a parte tributária, que encarece bastante a produção. Eu acho que nesta parte ainda temos que avançar muito mais”, aponta Júlio Busato.