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Preso em operação participou de assalto a lotérica de Águas Claras

Crime foi em setembro e deixou dois clientes e dois seguranças feridos; suspeito morreu

  • Foto do(a) author(a) Yasmin Garrido
  • Yasmin Garrido

Publicado em 21 de novembro de 2018 às 20:49

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Almiro Lopes/CORREIO

Uma ação conjunta das polícias Federal, Civil e Militar desarticulou, nesta quarta-feira (21), uma quadrilha especializada em roubos a carros-fortes em Salvador. Ao todo, foram cumpridos 10 dos 15 mandados de prisão temporária, sendo que um dos acusados reagiu à prisão e acabou morrendo.

Denominada como Operação Yasaí, em referência a um dos primeiros locais de atuação do grupo, a investigação teve início primeiro com a Polícia Civil e, só a partir de julho deste ano, houve cooperação da Polícia Federal (PF).

De acordo com o delegado Marcelo Sansão, diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil (Draco), a quadrilha é formada pela união de três grupos e os presos são acusados de participar de outros quatro casos relacionados ao transporte de valores na capital baiana: G. Barbosa do Cabula (em fevereiro), Shopping Itaigara (março), Bompreço do Salvador Norte Shopping (agosto) e uma agência lotérica, em Águas Claras (setembro).

Ainda segundo Marcelo Sansão, outros grupos permanecem sob monitoramento da polícia. Na ação conjunta desta quarta-feira, as polícias Civil e Militar cumpriram quatro dos sete mandados sob responsabilidade do estado, enquanto outros oito foram cumpridos pela PF. Também foram apreendidos dois carros e um revólver. 

Os presos pelo estado foram: Carlos Alberto Sales Bispo, de 64 anos, que já acumulava três passagens pela polícia por roubo qualificado, Wenderson Rodrigues Ramos, 34, Emmanuel Amorim Diger Gonçalves Sobrinho, 43, e Altalice Santos de Jesus, 49. Todos foram apresentados na sede do Draco, em Salvador. O quinto mandado seria de Fabiano de Jesus Ramos, de 20 anos, conhecido como Picolé, Bico ou Wando, morador de Valéria, que foi baleado durante confronto com a Polícia Militar, chegou a ser socorrido, mas não resistiu.

O delegado Marcelo Sansão declarou que Fabiano é um dos homens que aparecem nas imagens do assalto a Lotérica de Águas Claras, que aconteceu no dia 19 de setembro. Na ação, o suspeito usava uma camisa branca e um boné vermelho. No mesmo caso, cinco pessoas foram feridas e um homem morreu.

O grupo Na apresentação de parte da quadrilha, que aconteceu nesta quarta-feira, na sede do Draco, todos os acusados juraram inocência. Altalice, apontada pelo delegado como a responsável por dar suporte e fazer todo o acompanhamento do grupo, disse que nunca se envolveu com nenhum tipo de crime. “Eu não devo nada. Sou empregada doméstica e trabalhadora. Além disso, recebo a ajuda de minha mãe, que me entrega parte da pensão deixada por meu pai”, disse ela, que é moradora do bairro de Pero Vaz. 

Já Carlos Alberto, o único que tem passagens pela polícia, disse ao CORREIO que “o tempo de crimes ficou no passado”. “Há mais de 10 anos que eu trabalho na construção civil e vivo sem fazer nada de errado”, falou ele, que se declarou microempreendedor. O tempo inteiro de costas, Wenderson foi o único do grupo que se recusou a falar com a imprensa.

Emmanuel Gonçalves contou como foi abordado pelos policiais nesta quarta-feira. “Era 5 horas da manhã e eu estava dormindo quando eles chegaram em minha casa, que fica na Soledade. Eu não tenho nem passagem pela delegacia de meu bairro, imagine cometer esse tipo de crime que estão me acusando”, declarou.

A Polícia Federal cumpriu 6 mandados durante a Operação Yasaí, parte deles dentro do Presídio de Salvador. No entanto, não foram divulgados os nomes dos presos na ação. Tanto a PF, quanto as polícias Civil e Militar não divulgaram os valores roubados pela quadrilha para não incentivar práticas semelhantes.

Segurança x fragilidade Apenas em 2018, foram registrados 19 casos de ataque a carros-fortes na Bahia – um aumento de 137,5% se comparado com 2016, quando foram oito casos –, sendo 11 na modalidade ‘calçada’, em Salvador, quando os bandidos agem enquanto os veículos são abastecidos ou descarregados, além de oito no interior. Com isso, a Bahia ocupa o topo da lista dos estados com mais crimes relacionados a transporte de valores.

O delegado Marcelo Sansão, diretor do Draco, afirmou que o grupo, que aproveitava o momento da transferência dos malotes para roubar os carros-fortes, também tem envolvimento em outros delitos contra o patrimônio. Ainda segundo ele, apesar de os casos de assalto a bancos e caixas eletrônicos terem reduzido no estado, “as quadrilhas estão migrando para a modalidade calçada”.

Marcelo atribuiu a mudança ao que ele chama de “fragilidade na legislação”. Segundo o delegado, “as empresas responsáveis pelo transporte de valores não podem, por lei, utilizar armamento pesado, tendo direito apenas ao uso de revólver calibres 38 e 12”. Ele destacou também que os bandidos têm acesso a “armas maiores”. 

Em razão disso, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia firmou parceria com a Associação Brasileira de Transporte de Valores (ABTV) para possibilitar o compartilhamento de rotas dos carros-fortes. Segundo o presidente da entidade, Ruben Schechter, desde o início dos trabalhos, em setembro, já aconteceram seis reuniões, o que levou a prisões em “Bom Jesus da Lapa e região”, além da “apreensão de uma metralhadora antiaérea e de diversos fuzis” e dos resultados da Operação Yasaí.

O presidente da ABTV também contou ao CORREIO que, nos últimos 5 anos, foram investidos meio bilhão de reais “em tecnologia e intensificação dos treinamentos das equipes pelas [empresas] associadas à associação”. O montante foi aplicado desde a capacitação de vigilantes à ações de inteligência que mapearam a atuação das quadrilhas.

O delegado Marcelo Sansão ressaltou, ainda, que, a partir do trabalho de cooperação entre a SSP e as empresas de segurança, os números de ataque a carros-fortes no estado devem cair a partir de agora. Em 2017, foram 11 registros no estado, que ocupou a quarta posição no ranking nacional.

*Com supervisão da editora Monique Lôbo.