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Prédio que desabou na Federação seria inaugurado neste sábado (21)

Segundo moradores, inauguração contaria com festa 'paredão'

  • D
  • Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2023 às 13:03

. Crédito: Ana Albuquerque/CORREIO

O prédio no bairro da Federação, em Salvador, que desabou na terça-feira (17) seria inaugurado neste sábado (21), segundo moradores do entorno. A inauguração do residencial, localizado na Rua da Jurema, contaria com festa ‘paredão’. 

O dono da edificação, que tinha três andares, seria Davi ‘Rifeiro’, que já possuía outros imóveis alugados no bairro. “A pessoa que vendeu a casa a ele alertava o tempo todo que não tinha condições de fazer o que ele tava fazendo”, contou uma moradora, sem ter se identificado. 

Também morador do local, Cristiano dos Santos, 33 anos, teve sua casa atingida e destruída pelo prédio. Ele, que é pedreiro, disse que a obra era uma tragédia anunciada. “A gente tava falando a ele que tava errado isso aí. Mas ele disse que a gente tava com inveja”, contou Cristiano. 

De acordo com o morador, a construção já durava um ano. “Por último, quando ele reformou a casa, pegou a casa de baixo, começou a ‘descascar’ e tirou o reboco todo”, acrescentou Cristiano. “Ele fala que teve engenheiro aí. Quem tem prova?!”, indignou-se. 

A reportagem buscou formas de entrar em contato com Davi, mas não obteve sucesso. Durante a manhã desta quarta-feira (18), a Defesa Civil de Salvador (Codesal) realizou uma nova vistoria no local onde ocorreu o desabamento. Conforme o órgão, "ao todo, foram atingidos oito imóveis nas Ruas da Jurema e Santo Antonio, na Federação e não houve registro de vítimas. As partes em risco estão sendo demolidas pela Sedur. Outras edificações na área estão sob observação. Devido ao risco de desabamento, está sendo avaliada a interdição do único acesso de cerca de 20 famílias".

Acrescentou que, com o auxilio da Sempre, os moradores estão sendo cadastrados para encaminhamento ao auxílio social. Inicialmente 19 pessoas foram notificadas para evacuar suas casas".

Moradores lamentam perdas materiais e relembram terror 

Embora não tenha havido pessoas mortas ou gravemente feridas, quem teve sua casa atingida pelo desabamento sentiu fortemente a perda material. A família de Cristiano dos Santos, por exemplo, tinha acabado de comprar uma geladeira e um aparelho de som novos. “Foi R$ 5 mil. A gente não pagou nem a primeira parcela ainda”, queixou-se o pedreiro. 

Assim como outros moradores, ele, os irmãos e a avó saíram apenas com a roupa do corpo e alguns poucos pertences pessoais que conseguiram pegar antes do ocorrido. “Não dá nem pra ver a cor da casa. A única coisa que eu vejo é o portão, que caiu no meio da ladeira”, disse, indignado, Cristiano. “A sorte foi que eu tinha deixado meu filho com a mãe.” 

A dona de casa Rosenil da Silva, 56, disse ter escapado de uma tragédia por pouco. “Eu tava em casa com minha neta e meu filho e ouvi o pedreiro [da obra] gritando: ‘Tia, saia correndo, que o prédio tá caindo!’”, contou Rosenil. Foi só o tempo de tirar a sogra, que morava no mesmo edifício que ela, de dentro de casa. 

“Quando a gente chegou na casa da vizinha e entrou, o prédio caiu em cima de minha casa”, relembrou a mulher, que precisou deixar para trás seus bichinhos de estimação. “Se eu tivesse entrado pra pegar os passarinhos, o gato ou meu celular, teria caído em cima de mim”, lamentou-se ela, que teve que passar a noite na casa de uma vizinha. “Perdi tudo. Tá tudo no chão”, falou Rosenil, sem nem sequer seus documentos.  Rosenil da Silva saiu de casa só com a roupa do corpo, tendo que deixar para trás os bichinhos de estimação (Foto: Ana Albuquerque/CORREIO) Já Maria Auxiliadora Oliveira, 53, chegou a ficar presa, sozinha, em seu imóvel. Lá, vivenciou momentos de terror. “Quando eu fui tomar banho, caíram escombros, travando a porta. Aí, foi Deus que eu consegui sair”, rememorou a dona de casa, que sofreu arranhões e hematomas. Em seguida, novos escombros impediram que ela deixasse o local, parcialmente atingido. 

Nesse momento, apareceu um vizinho seu, o professor Aurélio Miranda, 49. “Foi nessa hora que eu saí. Foi muito triste. Até agora, eu tô tomando calmante”, revelou Maria Auxiliadora, ainda abalada. A moradora passou a noite em claro, na rua, à espera de uma solução e sem ter ideia do prejuízo financeiro que a espera. 

Para Aurélio, a situação poderia ter sido muito pior. “Não teve mortes porque foi durante o dia e as pessoas estão trabalhando. Se tivesse sido à noite, hoje vocês estariam comentando aqui uma tragédia”, desabafou o morador, a quem restou uma quantidade de pertences que mal enchia uma sacola plástica. Com ferimentos leves, Aurélio até precisou buscar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas já recebeu alta. 

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Responsável vai responder civil e criminalmente, diz coordenador da Sedur 

Segundo o coordenador de fiscalização da Sedur, Everaldo Freitas, a obra do prédio que desabou não tinha recebido licenciamento por parte da Sedur nem possuía responsável técnico, isto é, arquiteto ou engenheiro. “Era uma obra de grande porte, que precisava de um direcionamento técnico, principalmente nesse tipo de terreno, de encosta e numa área de difícil acesso”, explicou Everaldo. “O responsável vai responder civil e criminalmente.” 

Procurado pela reportagem, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA) afirmou que embargos e liberações de obras são de competência da prefeitura. "Fiscalizamos por denúncia, através do nosso portal e por zoneamento" respondeu o Crea, por meio de sua assessoria, tendo reiterado que a área em questão é de difícil acesso. "O Crea fiscaliza o exercício profissional; se a obra tem responsável técnico habilitado e ART (anotação de responsabilidade técnica emitida)", enfatizou.

Apesar das queixas feitas pelos moradores ao responsável, era necessário ter formalizado uma denúncia à prefeitura, o que não aconteceu. Para casos como esse, estão disponíveis o canal ‘Fala Salvador’, por meio do telefone 156, e as Prefeituras-bairro. 

Até o momento, nenhuma ocorrência foi registrada na Polícia Civil (PC). Mesmo assim, informou a PC, “o delegado titular já identificou os moradores afetados e orientou que registrassem conjuntamente uma ocorrência, para que sejam adotadas as providências de Polícia Judiciária sobre o fato”. 

Entre janeiro e dezembro de 2021, a Sedur realizou mais de 12 mil fiscalizações em construções na cidade. Essas fiscalizações resultaram em 1.951 ações fiscais, como notificações, autos de infração, embargos e interdições. No ano passado, o número foi superior a 9,5 mil fiscalizações, com 1.150 ações fiscais.