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Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2022 às 05:00
Um pãozinho torrado, ovos bem mexidos ou simples cuscuz. O café da manhã tão tradicional na mesa de todo baiano tem sofrido adaptações devido à alta nos preços de alimentos nos últimos meses, sobretudo, da manteiga, item indispensável no dia a dia. O preço do produto encareceu 30,41% nos últimos 12 meses em Salvador, sendo possível encontrar um pote de 500g por R$ 37,04 - conforme pesquisa no Preço da Hora. O índice supera até mesmo a taxa de inflação geral acumulada no último ano, de 8,87%, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). >
O economista Guilherme Dietze, consultor econômico da Fecomércio-Ba, diz que múltiplos fatores constroem o cenário de alta para a manteiga, de modo igual para outros derivados do leite. Ele explica que o preço de commodities - produtos básicos a exemplo da soja, milho e trigo, que são componentes da ração animal - cresceram por conta da crise econômica na pandemia. Assim como devido à guerra da Ucrânia, visto que os dois países envolvidos são exportadores de insumos. O resultado do cenário culminou em baixa oferta dos grãos para alimentação dos bovinos. >
Dietze ressalta que, no Brasil, ainda houve período de estiagem no último ano. Com a seca, produtores precisaram complementar alimentação do pasto justamente com ração - já inflacionada pela baixa oferta e alta demanda global - fazendo com que o custo de produção do leite e derivados ficassem ainda mais caros. “O IBGE mostra redução na produção de leite e disparada de preço”, relaciona. >
Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a manteiga (1,49%) é um dos quatro produtos que compõem a cesta básica e tiveram aumento em setembro, na capital. Completam a lista a farinha de mandioca (1,59%), café em pó (0,49%) e arroz agulhinha (0,38%). Houve aumento no valor médio do quilo da manteiga em 14 das 17 capitais no último mês. As taxas variaram entre 0,19%, em Brasília, e 5,44%, em Campo Grande. >
Para o economista Gustavo Palmeira, do DIEESE, a menor oferta de leite no campo e consequente aumento do preço dos derivados está mais ligada à questão climática e período de entressafra do que ao contexto da Ucrânia, Segundo ele, existe a possibilidade de influência internacional, porém, é preciso confirmar que a ração utilizada para produção de leite é derivada de trigo - produto o qual Rússia e Ucrânia são grande produtores. >
O economista ainda relaciona o aumento do custo na produção de leite ao câmbio, que tornou mais cara a compra de insumos que dependem de matéria-prima importada, como os fertilizantes, suplementos minerais e medicamentos.>
Na mesa do café da manhã, o item não foi o único a amargar o aumento do preço. De acordo com o IBGE, a variação acumulada dos últimos 12 meses do leite longa vida chegou a 61,5% e a do café moído chegou a 46,49%. O pão francês foi o produto que teve o menor índice nesse período, com 19,67%. >
Adaptações Por conta dos preços, consumidores têm escolhido cortar o produto, trocá-lo pela margarina ou diminuir o consumo. A dona de casa Marlucia Omena, 77, conta que comia com frequência alimentos com manteiga, mas já pensava em cortar por questão de saúde em razão do colesterol. Com o aumento do preço, ela finalmente parou de comprar manteiga e foi adaptando as receitas. >
“Eu amava manteiga, comia pão com manteiga, bolacha com manteiga, era mortadela frita na manteiga, aipim, cuscuz, tudo tinha que ter manteiga. Hoje só como manteiga quando outra pessoa faz a comida. Em casa não uso manteiga de jeito nenhum. Até que me acostumei a comer pão com creme de ricota ou patê de frango, bolacha já não como mais e cuscuz agora é com leite”, ressalta. >
Para adaptação, a dica que o economista Antonio Carvalho dá é justamente reduzir o consumo - em caso de itens não essenciais - para alertar os fornecedores sobre a expectativa de preço dos consumidores. “É a forma que consumidor tem [protestar], quando para de comprar, o fornecedor percebe e entende que preço que está cobrando não está sendo aceito”, avalia. Já a nutricionista Barbara Dias Severo alerta que é importante estar atento ao consumo da margarina, que pode ocasionar o aumento das chances de ter derrame e infarto. E, embora a manteiga seja menos prejudicial à saúde, a substituição deve ser moderada em razão do produto ser rico em gorduras saturadas e colesterol. "O maior substituto da manteiga hoje é o óleo de coco, tem valor biológico muito melhor por ser fonte de gordura vegetal", indica.>
Após alta de 66%, preço do leite tem queda na capital Dados do DIEESE revelam que o preço do leite integral diminuiu em 16 capitais durante setembro, inclusive, em Salvador (2,15%). A queda vem após o acumulado dos últimos 12 meses marcar aumento de 66,15%. >
O economista Gustavo Palmeira, do DIEESE, explica que, como a produção de leite requer menos processos e tempo para venda, o ajuste do preço é mais rápido do que dos derivados, que passam por mais etapas de produção até chegar no consumidor final. É esperado, portanto, que o iogurte, manteiga e queijo também reduzam os valores, contanto que o cenário continue o mesmo para o leite. Queijo, iogurte, leite Fermentado, manteiga, creme de Leite, leite Condensado, requeijão e cream cheese são alguns dos derivados do leite Foto: reprodução Em consonância, o preço da cesta básica na cidade de Salvador foi a capital com a segunda cesta básica mais barata (R$ 560,31) entre as capitais pesquisadas pelo Departamento, a cidade apresentou variação negativa de -2,88%, em relação a agosto. Contudo, na variação acumulada ao longo do ano, a elevação foi de 8,12%.>
No mesmo mês, o trabalhador de Salvador remunerado pelo salário mínimo precisou trabalhar 101 horas e 43 minutos para adquirir a cesta básica. Em agosto, o tempo de trabalho necessário foi de 104 horas e 43 minutos, e, em setembro de 2021, de 95 horas e 46 minutos.*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>