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Possível contaminação provoca mortandade de crustáceos no rio Gongogi  

Pelo menos oito quilos de “curuca” foram encontrados à beira do rio; polícia civil abre investigação 

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 17 de março de 2021 às 05:15

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Acervo CORREIO
Moradores coletaram até três baldes de curuca no rio Gongogi por Acervo CORREIO

Pelo menos oito quilos de curuca - espécie de camarão de água doce, primo do pitú - foram encontrados à beira do Rio Gongogi, no trecho que passa no município de Dário Meira, no Centro-Sul da Bahia. Os crustáceos apareceram mortos em plena época de reprodução e levou moradores a suspeitarem de envenenamento. 

Eles apontaram que teria sido usado o veneno “barrage”, utilizado para matar carrapatos. A secretária de Agricultura, Recursos Hídricos e Meio Ambiente da cidade, Tânia Porto, prestou queixa na delegacia de polícia, na segunda-feira, para que fosse aberta uma investigação a fim de descobrir se existiu, de fato, crime ambiental e quem o teria cometido.  

Foi no último domingo (14) que as curucas começaram a aparecer mortas. “Estava tomando banho em casa, que fica de frente para o rio, e, de repente, vi o pessoal pegando peixe, que tava indo para fora da água. Deu a entender que alguém jogou veneno bem de cima da ponte, mas a gente não sabe quem foi”, relatou o morador Genaildo Rodrigues, 57, um dos motoristas da prefeitura.  

Acima no rio, existe um reservatório da Embasa e o morador ressalta que é uma das principais fontes de renda da região, principalmente para os pescadores.  

Uma outra moradora que não quis se identificar soube da situação por grupos de WhatsApp e disse que não é algo incomum da região. “As pessoas vêm fazendo para facilitar a forma de pegar as curucas. O descaso é muito triste e não é de hoje, falta um cuidado maior para evitar que esse tipo de coisa aconteça”, conta.  

Já Hélio Ribeiro, 36, dono de uma borracharia da cidade, especula que uma das causas possa até ser natural. “Aparentemente a gente não sabe do que foi o veneno e algumas pessoas falam que foi por causa do sol que pode ter acontecido isso, mas ninguém examinou a água ou os peixes, então ninguém tem informação concreta para falar para a população”, diz.  

Hélio ressaltou a importância do rio para Dário Meira: “Sem esse rio, a cidade nem existiria, porque é a fonte de água da gente, dos pescadores, é uma área turística e recebe muitos visitantes”. O rio Gongogi cruza cinco municípios: Gongogi, Nova Canaã, Iguaí, Itagibá e Aurelino Leal, desaguando no rio de Contas.  

Outro dariomeirense que pediu anonimato também presenciou a cena do final de semana. Ele aponta outras possibilidades para o caso. “Ou foi pescador que jogou algum tipo de veneno, só que não é hábito deles, porque sabe que agora é época de desova, ou alguma pessoa acampada na beira do rio ou até gente que deu banho em cavalo, que é proibido. O animal pode estar com o carrapaticida no corpo, vai espalhando a água e passa para a curuca”, explica.  

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O que dizem os órgãos responsáveis 

O CORREIO procurou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente da Bahia (SEMA). Ambos informaram que seria de responsabilidade do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). O superintendente do Ibama da Bahia, Rodrigo Alves, chegou a pontuar que a mortandade dos crustáceos possa ser pela seca. “A própria degradação da mata ciliar, na margem do rio, faz com que ele vá perdendo proteção. Ao que tudo indica, é decorrente não de uma poluição, mas da baixa qualidade do rio nesse período de seca, ele vai perdendo o volume de água que seria necessário para criar um ambiente propício para a sobrevivência dessa espécie, mas  quem vai apurar é o Inema”, adianta Alves. 

O Inema afirma que uma equipe foi enviada ao local segunda e não terá informações até que o relatório dos técnicos seja elaborado. O instituto vai avaliar se o nível de oxigênio da água está baixo, para apontar as possíveis causas do ocorrido. 

A secretária de agricultura de Dário Meira, Tânia Porto, garante que “está tomando todas as providências” para identificar as causas. “Até o momento, não se encontrou provas de quem foi, como foi, de onde veio, e estamos na luta. Então a gente não sabe exatamente o que foi, se foi envenenamento, se foi algo natural, se foi um agrotóxico que jogaram, mas estamos averiguando”. 

Ela confirma que equipe do Inema foi ao município e a amostra de água será analisada pela Coordenação emergencial do Inema de Salvador. “A única coisa que pude fazer até então foi ir na delegacia prestar queixa, mas não coloquei nem nome na denúncia, porque não tenho certeza do que foi, como foi e quem foi. Fui até o local e não vi nada demais”, conclui Porto. A secretária atesta que não há risco de contaminação da água usada por moradores, mas não deu mais detalhes. 

As prefeituras de Gongogi, Nova Canaã, Iguaí, Itagibá e Aurelino Leal não atenderam aos telefones. Em alguns casos, o número para contato do site consta como inexistente. A prefeitura de Ibicuí afirma que não houve impacto na cidade porque a água que abastece o município é do rio Novo.  

A delegacia de Dario Meira também não atendeu, mas a Polícia Civil da Bahia informou que, de fato, uma queixa foi prestada. “Uma representante da Secretaria do Meio Ambiente foi ouvida na unidade, que vai investigar o fato. Visto que estamos na fase inicial da apuração, não dispomos de mais informações”, disse o órgão, por meio de nota.  

Animal está em pico de reprodução O diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ibio-Ufba), Francisco Kelmo, explica que não é possível avaliar a causa da morte dos animais analisa a água. "Afirmar que os animais estejam morrendo por causa da baixa oxigenação sem ter medido o teor de oxigênio na água do rio, feito a análise química da água e sem prova do carrapaticida, afirmar qualquer coisa seria irreponsável. Mas uma coisa é fato: o animal está no mês onde atinge o pico de reprodução", esclare Kelmo. 

A união das curucas - de nome científico Macrobrachium sp - pode ser inclusive para fins reprodutivos, e nada ter a ver com envenenamento. Porém, não é comum. "Esses animais não gostam de viver agregados, já que o comportamento canibalistico é observado, onde os maiores comem os menores. Mas pode sim ter tido aglomeração para reproduzir. O gasto energético para sucesso reprodutivo, pode ter provocado o enfraquecimento dos adultos, tornando-os mais vulneráveis à captura pelos humanos. Geralmente, os animais adultos são agressivos e não é muito fácil se deixar capturar", acrescenta.  

O ambiente ideal para que esses crustáceos vivam adequadamente é ter a temperatura da água entre 24 e 29°C e o pH deve oscilar entre 6,5 a 7,8, de acordo com o diretor do Ibio. Além disso, a água deve ter elevado teor de oxigênio (+90%) e uma Demanda Química de Oxigênio (DBO) baixa. Para obter qualquer resposta, Kelmo argumenta que deve-se investigar a concentração de oxigênio, a DBO, a presença de nitratos e nitritos, bem como a presença de alguma substância nociva à vida dos animais. 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro