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Mario Bitencourt
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 09:48
- Atualizado há 2 anos
Sabe aqueles plásticos conhecidos popularmente como “filme” e que envolvem alimentos junto com um prato de isopor em mercados? Eles são feitos de um dos polímeros (derivado de petróleo) mais consumidos atualmente, o polietileno de baixa densidade, e que jogado na natureza leva cerca de 100 anos para se degradar.
Mas o uso desse plástico pode estar com os dias contatos. Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), campus de Itapetinga, desenvolveu “filmes” biodegradáveis e antimicrobianos que se degradam na natureza entre dois a três meses.
A autora da pesquisa é a estudante de mestrado Luana Dias, que é orientada pela professora doutora Cristiane Patrícia Oliveira. Luana já está em fase final do estudo, e sua dissertação de mestrado será defendida no final de fevereiro deste ano. Após isso, ela espera que alguma empresa se interesse comercialmente pelo seu trabalho.
O “filme” de Luana Dias é uma embalagem ativa antimicrobiana, a qual foi incorporada a enzima lisozima, que é natural e possui a característica de inibir o crescimento de micro-organismos.
Ela utiliza dois polímeros que formam o plástico: um natural, composto de quitosana, amido e gelatina, e o outro é feito com quitosana e álcool polivinílico, que não é natural, mas possui característica de biodegradabilidade.
Nos testes realizados para verificar o tempo que os plásticos levam para se decompor na natureza, Luana Dias constatou que a deterioração do “filme” composto de quitosana, amido e gelatina leva dois meses para desaparecer, enquanto o plástico produzido de álcool polivenilico com quitosana se decompõe em três meses.
Outros testes foram realizados para verificar e analisar as características dos “filmes” como de solubilidade, permeabilidade ao vapor d’água, propriedades mecânicas e percentual de transparência.
Também foram realizados testes de cor avaliada no espectro e de atividade antimicrobiana para verificar a formação de halos de inibição, que indica o quanto a enzima de lisozima (presente também nas lágrimas e na mucosa humana) expandiu sua ação. Nesse último aspecto, foi verificado pela pesquisadora que a expansão se deu de forma contínua.
“Eu analisei, no período de três dias, e todos os dias eu verificava esse aumento do halo de inibição. Então a enzima realmente migrou no meio de cultura. Provavelmente, em uma embalagem, ela estaria migrando para o alimento e fazendo o controle microbiológico. Lembrando que a contaminação acontece da superfície para dentro”, explicou Luana Dias.
A pesquisadora acrescentou ainda que esse tipo de embalagem no Brasil “seria uma inovação e também uma maneira de reduzir o nível de contaminação de alimentos, justamente, por estabelecer esse controle microbiológico”.
Como são produzidos os plásticos De acordo com a Associação Brasileira de Polímeros Brasil, os plásticos são produzidos por meio da nafta, obtida durante o refino do petróleo. A partir desta matéria prima têm-se os monômeros, que por polimerização formam os polímeros – uma macromolécula.
Esses polímeros quando formados por um único tipo de monômero são chamados homopolímeros e quando compostos de dois ou mais tipos de monômeros são chamados copolímeros.
Dividem-se em dois grandes grupos, termoplásticos e termofixos. Os termofixos são aqueles que sofrem reações químicas em sua moldagem as quais impedem uma nova fusão, portanto não são recicláveis.
Os termoplásticos não sofrem alterações químicas quando aquecidos e depois de resfriadas podem novamente passar pelo processo de fundição, podendo ser remoldados.
Segundo a Associação Brasileira de Embalagens (Abre), os plásticos representam 37,47% no valor total da produção de embalagens. Eles têm como vantagens o
seu baixo peso, baixo custo, elevada resistência mecânica e química, flexibilidade, possibilidade de aditivação e reciclabilidade.
Mas a maioria deles não são degradáveis na natureza e os que são levam mais de 100 anos para tal. Ainda assim, os polímeros proporcionam avanços tecnológicos, economia de energia e diversos outros benefícios para a sociedade por meio da produção de uma variedade de produtos.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), os polímeros mais consumidos atualmente são o Poli(etilenotereftalato) (usado para fabricar garrafas Pet); o Polietileno de alta densidade (PEAD); o Poli(cloreto de vinila) (PVC); o Polietileno de baixa densidade (PEBD/PELBD); o Polipropileno (PP); o Poliestireno (PS); Acrilonitrilaextireno/resina (ABS/SAN); e a Espuma Vinílica Acetinada (EVA).
Maior participação
Um estudo da Abre, divulgado em agosto de 2019, com dados do primeiro semestre do ano, e realizada pela Euromonitor, aponta que o valor bruto da produção física de embalagens atingiu o montante de R$ 75,3 bilhões em 2018, um aumento de 11,9% em relação aos R$ 67,3 bilhões alcançados em 2017.
Os plásticos representam a maior participação no valor da produção, correspondente a 41% do total, seguido pelo setor de embalagens de papel/cartão/papelão com 33%, metálicas com 17%, vidro com 4%, têxteis para embalagens com 3% e madeira com 2%.
A produção da indústria de embalagem apresentou crescimento de 4,9% no primeiro semestre de 2019. Com exceção de embalagens de madeira, todas as outras classes apresentaram crescimento, com destaque para embalagens de vidro e metal.
O Brasil ocupa a quarta posição de maior produtor de lixo plástico do mundo, de acordo com os dados divulgados em 2019 pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, sigla em inglês).
Na cidade de São Paulo, no dia 13 de janeiro, o prefeito Bruno Covas sancionou uma lei que proíbe o fornecimento de utensílios plásticos em estabelecimentos comerciais da cidade.
A Abiplast, em reação, declarou que “acredita que a vilanização e o banimento de materiais plásticos não constituem a maneira ideal de resolver os problemas causados pela má gestão de resíduos sólidos no Brasil e suas consequências para a natureza”.
“A própria ONU Meio Ambiente sugere que, caso não haja avaliações prévias, o banimento pode não ser a melhor solução para a questão. Na forma que tem sido feito, não gera no consumidor a consciência do consumo e o incentivo ao descarte correto”, diz um comunicado da entidade.
Para a Abiplast, “a melhor forma de lidar com o tema é por meio de uma visão sistêmica e de um diálogo propositivo, claro e objetivo, debatendo o consumo consciente e a economia circular, responsabilizando todos os atores envolvidos: Poder Público, indústria e sociedade, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).”
Leis de proibição – diz a associação – trazem insegurança jurídica, mexem com a competitividade e o planejamento financeiro das empresas, causando impacto nos investimentos, na geração de empregos e até mesmo na manutenção da atividade industrial.
“Sendo assim, a Abiplast enxerga como alternativa a regulamentação da disponibilidade de produtos em estabelecimentos comerciais, com legislações que versem sobre a não distribuição espontânea e voluntária; incentivo à coleta seletiva e à logística reversa, bem como realização de campanhas de educação ambiental entre os consumidores para o descarte correto”.