Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carmen Vasconcelos
Publicado em 14 de junho de 2020 às 08:44
- Atualizado há 2 anos
“Perdi minha mãe por falta de atendimento, pela omissão dos órgãos públicos”. A fala do jovem Rithelle Vicente Silva Bezerra, 27 anos, é o resumo da indignação de uma família que chora a morte da comerciária Rosilda Vicente da Silva, 45, em Feira de Santana (108 quilômetros de Salvador), na última sexta-feira (12). Ela tinha suspeita da covid-19, fez o teste, mas a família ainda não recebeu o resultado. No mesmo dia da morte da moradora do bairro Feira 9, o município confirmava, através de boletim, 110 novos casos da doença na cidade e seis mortes.>
Há uma semana, quando Rose, como era conhecida, deu entrada numa policlínica municipal da Rua Nova, com sintomas de febre, ninguém cogitou que ela podia ser mais uma vítima da covid-19. “Eles nos mandaram de volta para casa, com uma receita de antigripal. Ninguém falou ou desconfiou da covid”, conta o Rithelle.>
Três dias depois, o quadro se agravou e a família levou Rose para uma policlínica no bairro Feira X, onde suspeitaram da covid-19, mas também não fizeram o teste para detectar a doença. A colocaram no oxigênio pela primeira vez e sugeriram isolamento para paciente. No entanto, ela recebeu alta e foi novamente encaminhada para casa, dessa vez com a promessa que a Secretaria de Saúde local procuraria a família para realizar as medidas de contenção necessárias.>
No dia 11, a família decidiu que não esperaria mais e encaminharam Rosilda para um hospital particular, onde foram aconselhados a levarem a paciente para uma emergência. A família então encaminhou Rose para o Hospital Clériston Andrade e, novamente ela foi colocada no oxigênio e pediram para aguardar que a regulação encaminhasse Rose para a Unidade de Terapia Intensiva. Só lá que ela foi testada para a covid-19. Sem o suporte necessário, a comerciária não resistiu. Ela morreu sem saber o diagnóstico. O resultado do teste da covid-19 ainda não saiu.>
O filho conta que funcionários da Secretaria de Saúde do município falaram que ele e a irmã seriam testados para a covid-19 também. Mas, como não foram procurados, decidiram fazer o teste por conta própria, em um laboratório particular.>
“Não pude sequer me despedir de minha mãe. Minha irmã de 14 anos era muito apegada a ela e sequer nos possibilitaram um acompanhamento psicológico, que ajudasse nesse momento”, disse Rithelle, que segue em isolamento, com a irmã, em quartos separados e longe do resto da família. Ele tem febre. Nenhum dos filhos participou do enterro, que foi realizado no sábado (13), no Cemitério Jardim Celestial, com a participação de dez pessoas, entre amigos e familiares. Embora fosse uma pessoa sem histórico de problemas de saúde, o quadro da comerciária se complicou rapidamente durante a semana (foto: arquivo pessoal) De acordo com o sobrinho Murilo Silva, Rose não tinha nenhuma doença pré-existente, era saudável e praticava atividade física rotineiramente. “Minha tia era uma pessoa cheia de vida, jovem, alegre, amada por todos”, completou. Segundo ele, a família está em choque, mas buscará os meios legais que possibilitem que outras famílias a não passem por isso.>
Procurada, a prefeitura de Feira de Santana informou, através da assessoria de comunicação, que a Secretaria de Saúde do município apurada o caso e as circunstâncias da morte da comerciária.>
De acordo com boletim divulgado pela prefeitura de Feira de Santana, de 6 de março a 12 de junho o município contabiliza 1.416 casos da covid-19 e um total de 28 mortes. Do total de casos, 489 pacientes já estão recuperados. >
Os bairros SIM e Tomba continuam sendo as localidades que mais registram casos da covid-19 em Feira de Santana. A Prefeitura, através da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, divulgou a relação atualizada de casos da Covid-19 por bairros e localidades nesta sexta-feira, 12. O SIM continua sendo o que registra maior número de casos: 81. Em seguida aparece o Tomba com 54 casos confirmados e na sequência o bairro Papagaio, com 41 registros. >