Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2020 às 11:52
- Atualizado há 2 anos
Poucos dias depois do americano George Floyd morrer durante uma abordagem policial, um vídeo mostrando o vendedor ambulante Weliton Luiz Maganha, de 30 anos, sendo agredido por policiais militares (PMs) chocou o Brasil. O que tem de comum entre os dois? A cor da pele.
No caso do brasileiro, a agressão ocorreu por parte de dois PMs próxima a um supermercado na cidade de Planatina, no Distrito Federal. Em entrevista ao Correio Braziliense, o jovem diz que deseja justiça.“Pensei que ia morrer”, disse.Weliton mora com a esposa e trabalha como vendedor de balas em ônibus. Ele conta que, na noite de segunda-feira (01), foi ao supermercado para fazer compras já que havia recebido a segunda parcela do auxílio-emergencial.
“Quando saí do mercado, dois policiais me abordaram no estacionamento. Até aí, tudo bem. Viram meus documentos e, do nada, um deles me deu um soco na coluna, e eu o questionei: 'O que é isso, senhor?'”, disse ao Correio Braziliense.
Uma testemunha filmou a abordagem, nela é possível ver que Weliton grita: “Eu não fiz nada de errado”. Mas, os policiais o repreendem: “Fala baixo!” e, em seguida, desferem, pelo menos, quatro golpes de cassetete nas costas da vítima.
“Quando caí no chão, jogaram spray de pimenta no meu rosto e me deram uma pedrada na cabeça”, afirmou o vendedor ambulante. Ele disse que sofreu lesões na clavícula e no crânio, além de diversas escoriações pelo corpo. A Polícia Militar do DF informou que os militares foram acionados para atender a uma chamada de perturbação da tranquilidade de ordem pública no local.
Sem passagens pela policia, a vítima não tem dúvidas: foi agredido por ser negro. “Tenho certeza de que se fosse um homem branco, não teriam agido assim. Não entendi nada e pensei: 'Será que estão com preconceito?' Algumas pessoas tentaram justificar falando que eu era morador de rua ou usuário de drogas, mas não é nada disso. Apenas fui comprar comida em um mercado”, desabafou.
Ontem, a vítima procurou o Hospital Regional de Planaltina, onde recebeu atentimento e foi orientado a voltar na próxima terça-feira para uma nova avaliação médica.
Suspeitos estão sob investigação Por meio de nota oficial, a Polícia Militar confirmou as agressões, informando que “o final da ação foi registrada conforme o vídeo”, mas argumentou que foi chamada após várias denúncias de perturbação e tranquilidade e da ordem pública.
A corporação ressaltou que “não há que se falar em atitude racista, mas de excesso na ação policial”, e que os policiais foram ouvidos, no devido processo disciplinar/criminal, pela Corregedoria da PM, para “verificar as circunstâncias do fato com o rigor que o caso requer”.
Nas redes sociais, a Polícia Militar de DF publicou que não compactua com desvios de conduta e reforçou que caso não se tratou de racismo. “Somos uma instituição bicentenária multiétnica e consciente da sua responsabilidade junto à sociedade. Os policiais do vídeo estão na Corregedoria e nada será impune aos rigores da lei”, diz o texto.
O secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, emitiu nota oficial, afirmando que atua em conjunto com o comando da PMDF para adotar “todas as providências legais de apuração dos fatos ocorridos”. “Está em curso a instauração de Inquérito Policial Militar. Deixamos claro, desde já, que as atitudes dos policiais em questão em nada correspondem às diretrizes de abordagem e conduta preconizadas pela corporação”, ressaltou o titular da pasta.
O caso também é investigado pela 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina). Agentes foram ao supermercado em busca das imagens das câmeras de segurança.