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'Pelo amor de Deus, não devemos nada', disse jovem antes de ser executado ao lado de amigo

Encapuzados a bordo de carros mataram cinco em São Cristóvão no fim de semana

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 11 de junho de 2018 às 15:50

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

“Cadê os caras?”, perguntou um dos homens encapuzados, ao desembarcar de um carro.

“Correram por quê?”, indagou outro, também de arma em punho.

“Eu não sei. Não sei por que correram”, respondeu um rapaz aos seus algozes.

“Pelo amor de Deus, não devemos nada”, repetia o outro jovem, até que a sua suplica também fora calada por balas que lhe atravessaram cabeça e tórax.

O diálogo foi descrito por uma testemunha que estava numa casa perto do local onde foram executados Evandro Silva Santos, 23 anos, e Eliomar da Cunha Rosa, 22, na noite de sábado (9), na localidade de Barro Duro, em São Cristóvão, periferia de Salvador.

Testemunhas relataram que os matadores chegaram em dois carros – um prata e um preto. Os veículos eram os mesmos que transportavam encapuzados responsáveis pelo assassinato de outras duas pessoas no bairro.

Uma delas ocorreu na mesma rua, quase na mesma hora: Uenderson Gabriel de Oliveira, 25, conhecido como Molejo, que tinha passagem pela polícia por tráfico, também estava com a namorada e também foi baleado na cabeça.

Já na madrugada de domingo, Genilson de Freitas Santana, 23, também foi vítima de disparos de arma de fogo na localidade de Conjunto Ceasa I.

No início da noite de sábado, em São Cristóvão, foi morto a tiros Samuel da Cruz Batista, 23, conhecido como John. Moradores contaram que desta vez os encapuzados estavam em um carro prata. No dia seguinte, algumas paredes de casas e estabelecimentos comerciais amanheceram com pichações em sinal de luto à morte de John.

No final de semana, 29 homicídios foram registrados em Salvador e Região Metropolitana. Foi o final de semana mais violento do ano até aqui.

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Barro Duro A matança em São Cristóvão começou por volta das 22h30, na região do Barro Duro. Testemunhas contaram ao CORREIO, nesta segunda-feira (11), que a primeira vítima dos encapuzados foi o rapaz identificado até agora como Molejo. Ele estava abraçado com a mulher, na localidade conhecida como Casinhas, quando os matadores desceram dos carros prata e preto.

“Arrancaram ele da mulher e atiraram. Ele era uma pessoa tranquila. Até então, não sabemos do envolvimento dele com a criminalidade. O que sei é que ele trabalhava carregando e descarregando mercadorias na Ceasa de Simões Filho”, disse um dos moradores. Ainda segundo ele, o tráfico de drogas é controlado na área pelo Bonde do Maluco (BDM).

Em seguida, os matadores foram à Rua Direta do Barro Duro, onde executaram Evandro e Eliomar. “Como aqui a gente não tem uma praça, a comunidade costuma ficar nas portas conversando. Evandro e Eliomar estavam com suas namoradas, quando eles desceram dos carros armados. Imediatamente houve uma correria, mas eles ficaram parados”, contou uma mulher.

Ela escutou parte da conversa dos bandidos com as vítimas.“Assistia televisão. Ouvi eles perguntarem pelas pessoas que correram e os rapazes disseram que não sabiam, e logo foram baleados. Foram muitos tiros. Fiquei em pânico”, relatou.Parentes As marcas da violência não ficou somente nos corpos dos três rapazes que sofreram perfurações na cabeça e tórax. Os disparos na Rua Direta do Barro Duro atravessaram portas. “Uma das balas atingiu a bicicleta do meu filho”, contou uma mulher.

O CORREIO localizou os parentes de Eliomar que moram a poucos metros da cena do crime. Ele trabalhava fazendo carga e descarga na Ceasa e deixou uma filha de dois anos. A vítima saiu de casa para encontrar um amigo que o emprestaria o carro para levar a filha para comer um pastel em Itapuã.

Inicialmente, a família de Eliomar concordou em dar entrevista ao CORREIO, mas desistiu devido ao medo – uma vizinha alertou que eles poderiam “falar demais” e que os assassinos “podem voltar para terminar o serviço”.

Ceasa  O rastro de sangue deixado pelos carros prata e preto emendou pela madrugada. Por volta de 0h30, os disparos acabaram com um forró que acontecia no quiosque do Conjunto Ceasa I, na localidade da Ceasa.“Quando a gente ouviu os tiros, todo mundo da festa correu. O rapaz estava atrás de um carro abandonado quando foi baleado a alguns metros do quiosque”, contou uma dona de casa, se referindo ao assassinato de Genilson.Ela disse ainda que a família do rapaz mora no local, mas que não comentam o caso. Parque São Cristóvão (Foto: Marina Silva/CORREIO) Pichações A quinta morte no bairro aconteceu na Rua Leste 4, região do Parque São Cristóvão. Uma comerciante contou ao CORREIO que o pintor Samuel da Cruz Batista, 23, o John, tinha saído de uma mercearia por volta das 17h50, quando os assassinos chegaram em um carro prata.“Eles estavam encapuzados e o carro tinha aqueles sinais de serviço de chaparia na lataria do fundo. Eles foram direto no rapaz e atiraram. Ainda tentaram levar para a UPA, mas o moço já estava morto”, contou a comerciante.Na manhã de domingo, pichações com inscrições de luto, como “Vai em Paz John”, “Luto John”, tomaram conta dos muros de casas, becos e estabelecimentos comerciais. “Não sabemos quem pôs, mas não estavam no sábado”, contou outro comerciante.

Algumas pichações estavam ao lado de outras demonstrações de luto, entre elas, uma que fazia referência à morte de Marcelo Batista dos Santos, o Marreno, morto pela polícia em setembro do ano passado. Marreno era um dos líderes da facção BDM.