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Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2022 às 13:22
Eleito presidente do Vitória em 2019, Paulo Carneiro foi afastado da função em 2 de setembro, quando o Conselho Deliberativo do clube aprovou, em reunião extraordinária, parecer da Comissão de Ética que recomendava o afastamento do dirigente, motivado por indícios de gestão temerária.
O então vice-presidente Luiz Henrique Vianna assumiu o posto até iniciar, em 28 de outubro, uma sequência de pedidos de afastamento. Presidente do Conselho Deliberativo, Fábio Mota acumula as funções desde então.
Os indícios de gestão temerária que pesam contra Paulo Carneiro incluem o adiantamento de remuneração pessoal durante a pandemia e a ausência de contrato com uma empresa (Magnum) que recebeu R$ 3,5 milhões do Vitória.
A destituição ou não de Paulo Carneiro do cargo de presidente do Vitória será deliberada sábado (21), a partir das 8h, no Barradão, em Assembleia Geral Extraordinária, convocada pelo Conselho Deliberativo com o objetivo de definir a situação do ex-dirigente rubro-negro. Durante a assembleia, Paulo Carneiro ou seu advogado terá direito de falar por até 15 minutos em observância à ampla defesa.
O CORREIO teve acesso ao relatório de gestão feito por Paulo Carneiro. Nele, o ex-dirigente se defende e explica diversas decisões tomadas. A negociação do atacante Jordy Caicedo e a antecipação salarial durante a pandemia estão entre os assuntos abordados no documento. Você confere alguns a seguir.
Jordy Caicedo e Magnum
"Após a chegada do atleta no Clube, os empresários que iriam bancar o negócio se recusaram a prosseguir. Estas reuniões tiveram participação de Fábio Mota e cia. Desesperado com a repercussão de um atleta internacional chegar para assinar contrato e ser devolvido, busquei socorro com um empresário que também atua no ramo do futebol, obtendo um valor de três milhões de reais, depositados na conta do Clube, com a cessão de parte de direitos econômicos de alguns jogadores da base. Posteriormente, verificada a impossibilidade da cessão, estes contratos foram substituídos por outros, mantidas as obrigações originais, tudo com conhecimento de Fábio Mota e dos 'cardeais'.
A respeito do contrato da Magnum e Gold Sport, a despeito das observações já traçadas, basta apenas considerar que este tipo de investimento é altamente incerto. Por exemplo, Luan – grande esperança do Clube - continua lesionado até hoje, enquanto Diego Rosa, na época ilustre desconhecido, teve o seu destino agraciado. Quando o negócio foi formalizado com a Magnum, Diego Rosa era um ilustre desconhecido, tanto que, dois anos antes 70% dos direitos econômicos do jogador foram cedidos ao Grêmio por quinhentos mil reais e o empréstimo de Wallace. E, agora, 15% por três milhões representa gestão temerária? Só se eu tivesse bola de cristal.
Em resumo, a negociação que envolveu o atleta Jordy Caycedo foi no total de um milhão e quinhentos mil dólares, tal como encaminhada ao Universidad Católica e por ela livremente aceita conforme “aceite” formal enviado a nós pelo clube equatoriano. A dúvida maldosamente criada pelo parecer do Conselho Fiscal resulta do fato de que parte do valor – 670 mil dólares americanos -, por acordo com o Universidad Católica, e por questões operacionais, fora transferido mediante um outro negócio jurídico em nome de Hernam Gabriel Banato empresário do atleta. A matéria apresenta mero somatório de valores, porque duas parcelas de 415 mil dólares devidas ao Universidad Catolica, acrescidas de uma de 670 mil dólares em nome de Herman Banato, representam exatamente o valor de um milhão e quinhentos mil dólares. Se o Universidad Catolica jamais discutiu esta formatação e nunca reclamou de diferenças no pagamento é porque fora realizada com o aval dela, o que é óbvio. (...)
A indicação de prejuízo em torno de 4 milhões de reais na negociação de Jordy Caicedo é fantasiosa, já que acordo formalizado com o jogador, e arquivado na FIFA e no Clube, indica um débito atual de cerca de trezentos mil dólares americanos a serem pagos em 20 parcelas fixas. Mas o Clube ficou sem o atleta. Verdade, mas por uma grave falha JURÍDICA do Diretor Jurídico da época, que autorizou a redução na remuneração dos atletas e funcionários do Clube, de 25%, inclusive de Caicedo. Esta redução, por se tratar de contrato internacional – o que o Diretor Jurídico devia saber - não fora considerada pela FIFA. Por isso, o Vitória perdeu o atleta. (...)".
Acúmulo de funções
"O acúmulo de funções se deu porque o Vitória S/A não dispunha de atividade, assumindo, eu mesmo, as funções de presidente, até para evitar as remunerações que vinham sendo direcionadas aos presidentes anteriores. Os atos de regularização e atualização foram preparados pelo Diretor do Departamento Jurídico que não viu, na época, qualquer irregularidade. E não deve ter consequência, porque Fábio Mota se encontra acumulando duas funções. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. E a razão primordial da acumulação se deu para que eu pudesse me apresentar como dirigente da S/A na tentativa de atrair investidores para reativar o Vitória S/A".
Cartão corporativo
"No tocante ao uso do cartão corporativo, na minha defesa pedi acesso aos extratos - não me deram. Requeri que fosse feito um exame minucioso no âmbito do Clube, com a oitiva das testemunhas que arrolei, porque, muitas vezes, o meu cartão, em face de problemas internos, era utilizado por outros funcionários, em realização de despesas urgentes e inadiáveis. Era preciso que se identificassem as despesas minhas e as do Clube para que eu pudesse me manifestar. NÃO FIZERAM NADA! Pedi uma investigação, pelo Clube, das notas fiscais apresentadas e de solicitação das empresas constantes das faturas para que fosse identificado seu uso, para que ficassem esclarecidas as razões da sua utilização por outros funcionários e em que fora utilizado. NADA FIZERAM!!!!".
Adiantamentos salariais
"Em relação a este ponto, em reunião realizada com Alexi Portela, Fábio Mota, Luiz Henrique e Adhemar Lemos, e diante de observação por mim posta em relação aos valores remuneratórios do presidente do Conselho Diretor previstos estatutariamente, todos eles concordaram em acrescer um valor, mediante retirada mensal do Vitória S/A, já que estava atuando também como Presidente e arrumando a sociedade para buscar investidores. Todos concordando, fora solicitado a Dr. Dilson, então Diretor Jurídico, que lavrasse uma ata contemplando o acordo formalizado, que, por ordem de alguém, inseriu na ata que essa remuneração adicional somente seria possível após o Vitória SA recepcionar os ativos de futebol e de marca e recuperasse sua atividade econômica.
Todos sabiam que isso jamais fora discutido e nem fazia sentido uma discussão desta, com base em um evento futuro e absolutamente incerto, mormente em face da situação caótica do Clube naquele momento. Quando percebi a cilada, já havia feito retiradas para posterior ajuste na contabilidade do Vitória S/A. Daí o tal adiantamento indicado no valor de R$ 64.745,29, à época. Mas não era apenas esse o valor e eu jamais faria adiantamentos nessas importâncias, senão resguardado pelo acordo que havia sido ajustado na reunião. Isso é óbvio, senhores!
Indignado com a situação, e detentor de remuneração não recebida no Clube, o Vice-Presidente cedeu o crédito que lhe pertencia para que eu compensasse o valor contabilmente, o que foi feito, sem qualquer prejuízo para o Vitória. E estes tais “adiantamentos” são, agora, de forma desavergonhada ditos como injustificáveis, inclusive por aqueles que haviam concordado com o acréscimo mensal.
E o recebimento em nome de minha filha se deu por motivos pessoais, sem que isso significasse que ela estava exercendo atividade no Clube. Apenas uma indicação minha para onde deveriam ser direcionados os recursos acordados com os “chefes políticos” do Vitória. O próprio parecer do Conselho afirma que esta situação fora contornada posteriormente com a emissão de notas fiscais por empresa em meu nome e a Comissão de Ética viu o fato como mera irregularidade".