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Ana Pereira
Publicado em 30 de janeiro de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Naquela badalada passagem da escritora americana Angela Davis pelo Brasil em 2019, entre muitas outras coisas, ela chamou atenção para o trabalho de Lélia Gonzalez (1935-1994), que nesta segunda-feira (1) completa 86 anos de nascimento: “Eu sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês aprenderão comigo”, declarou a filósofa e ex-Pantera Negra.
Nestes quase dois anos, o debate fundamental proposto pela antropóloga, tradutora e professora mineira sobre racismo e feminismo parecem ter furado a bolha do universo acadêmico e da militância. Ela está lá citada no documentário Amarelo, de Emicida (Netflix). E no especial Falas Negras, da Globo, exibido em dezembro, que reuniu as principais ideias de vários pensadores negros –do Brasil e do exterior. E é sempre referência nas articulação das novos nomes importantes do debate, com a devida reverberação nas redes sociais.
Estudiosas da obra de Lélia, as professoras Flávia Rios (UFF) e Márcia Lima (USP) trazem uma grande contribuição na divulgação do pensamento da autora na coletânea Por Um Feminismo Afro-Latino-Americano (Zahar), que reúne ensaios, intervenções públicas e diálogos travados por ela com diferentes interlocutores – Folha de S.Paulo, O Pasquim, Movimento Negro Unificado (MNU). Alguns dos textos são inéditos e foram traduzidos para a publicação.
“Esta é a primeira vez que Lélia é publicada por uma editora de grande circulação, o que aumenta muito a acessibilidade” afirma Flávia, que assinou o perfil biográfico Lélia Gonzalez (2010/Summus), em parceria com Alex Ratts. O conjunto reflete uma autora “polifônica”, que fala da academia, da militância, da esfera pública, e sobretudo do dia a dia de uma mulher negra.
Lélia foi fundadoras do PT e do MNU, participou dos debates da Constituinte Nacional e criou entidades culturais como a Escola de Samba Quilombo. Nos anos 70 e 80, defendeu a discriminalização do aborto e a criminalização do racismo.
“Ela tinha um repertório muito amplo e uma forma muito acessível de se expressar, principalmente nas intervenções públicas”, destaca Flávia, citando áreas de interesse de Lélia como a filosofia, antropologia, comunicação e a psicanálise. Alguns textos se aproximam da crônica, para denunciar temas pesados como a violência policial e a persistência do racismo e do sexismo na cultura nacional.
Mas é o esforço de Lélia em dialogar com a América Latina, destaca Flávia, é uma das mais importantes singularidades de sua obra. “Numa época em que a maioria dos pesquisadores se voltava para os Estados Unidos ou Europa, ela viajou, leu os autores latinos e propôs o conceito de Amefricanidade, incluindo também os indígenas”, resume. A Bahia é um grande fulcro nesse sentido de emergência da identi- dade a partir do cultural. A Bahia, como diria o Gil, deu a régua e o com - passo Lélia Gonzalez, em entrevista ao Jornal do MNU, no ano de 1991 FICHA
Livro: Por um Feminismo Afro-Latino- americano
Organizadoras: Flavia Rios e Márcia Lima
Editora: Zahar
Preço: R$ 60 (375 páginas)
Documentário reúne entrevistas e imagens de arquivo
O documentário Em Busca de Lélia (2017), de Beatriz Santos Vieira, feito no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), retrata a história . Gravado na Bahia e no Rio de Janeiro, o filme reúne entrevistas, performances, e imagens históricas de Lélia e em manifestações.Entre os entrevistados estão Eliane de Almeida, sobrinha de Lélia e escultora; Rubens Rufino, filho de Lélia e economista; Januário Garcia, fotógrafo documentarista e militante do movimento negro; Conceição Evaristo, escritora; Kabengele Munanga, antropólogo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e Matheus Aleluia, cantor e compositor, entre outros.
Fevereiros é lançado em DVD
Religiosidade Maria Bethânia está no time dos artistas que seguem lançando os álbuns físicos e DVDs para seu público fiel. Para eles, a Biscoito Fino lança em DVD o documentário Fevereiros (R$ 57), que registrou a homenagem da escola de samba Mangueira à cantora no Carnaval campeão de 2016. O diretor Marcio Debellian amplia o recorte do samba enredo - que falava da religiosidade de Bethânia - acompanhando-a a Santo Amaro da Purificação, onde ela fala de vários aspectos importantes de sua trajetória, Por exemplo, as festas do 2 de Fevereiro, que participava com regularidade. O filme conta com depoimentos de Caetano Veloso, Chico Buarque, Mabel Velloso e integrantes da Mangueira. Já foi exibido em dezenas de festivais em vários países e estreou nos cinemas em 2019.