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Óleo que reapareceu nas praias também é venezuelano e aparenta ser o mesmo de 2019

Manchas apareceram em Piatã, Jaguaribe e Pituba. Para pesquisadores, possibilidade de ser novo derramamento é remota

  • Foto do(a) author(a) Hilza Cordeiro
  • Hilza Cordeiro

Publicado em 29 de junho de 2020 às 18:26

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Divulgação

As manchas de óleo que voltaram a aparecer nas praias de Salvador na última semana têm origem na bacia petrolífera venezuelana, mesma do desastre ambiental que ocorreu no ano passado. A conclusão, que saiu nesta segunda-feira (29), é do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Igeo/Ufba). 

O material encontrado em Piatã, Jaguaribe, Rio Vermelho e Pituba surgiu com uma aparência preservada, pouco desgastado pelo tempo e demais agentes, o que surpreendeu os pesquisadores, que acreditam que o óleo pode ter ficado preso no fundo do mar e está reaparecendo nas areias devido às mudanças climáticas com a chegada do inverno.

Diretora do Igeo, Olívia Oliveira conta que a análise das amostras coletadas nestas praias foram feitas em caráter emergencial, respeitando tanto o próprio protocolo de recolhimento quanto o de distanciamento dos pesquisadores envolvidos. 

A conclusão foi feita a partir de um procedimento chamado de geoquímica forense, com a identificação da presença de biomarcadores — popularmente apelidado de “DNA” do óleo, verificado a partir da detecção de organismos e identificação da era geológica em que estes viveram — e também da técnica de fingerprint, que, por sua vez, é uma espécie de “eletrocardiograma” capaz de revelar a quantidade e composição do material. 

O estudo mostrou que as amostras recolhidas não só têm origem venezuelana como também praticamente o mesmo quantitativo de compostos do óleo do derramamento de 2019.“Tem quase um ano do acidente, do óleo presente no mar e sabemos que os processos de intemperismo [decomposição] atuam fortemente. O óleo poderia não estar com a mesma quantidade de compostos, vulgarmente falando. As características levam a crer que foi o mesmo óleo, a possibilidade de ter sido outro vazamento existe, porém é remota”, adianta a diretora.É possível que parte do óleo do derramamento de 2019 tenha ficado preso nas superfícies irregulares do fundo do oceano e pode ter se preservado viscoso através de mecanismos geológicos ou químicos, o que blindou o óleo do desgaste, acrescenta Olívia.

Desde o episódio, considerado o maior desastre ambiental do litoral brasileiro, os pesquisadores já haviam alertado que parte do material atingiria as praias e outra parte se depositaria no mar. Em entrevista anterior ao CORREIO, Olívia Oliveira chegou a comentar que o fato era “um pesadelo longe de acabar”.

Relembre material encontrado semana passada

Uma pessoa que fazia exercícios físicos na região da orla de Piatã e Jaguaribe identificou, no início da tarde desta quinta-feira (25), a chegada de mais óleo nas praias. Ao receber fotos da situação no WhatsApp, o professor de jiu-jítsu e voluntário do grupo Guardiões do Litoral — coletivo que colaborou na limpeza de locais na tragédia ambiental do fim do ano passado —, Juvenal Lacerda foi até o local e confirmou a presença do material. 

Após a identificação, Limpurb, Instituto do Meio Ambiente (Inema) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) foram acionados para averiguar o local e tomar as providências. “A pessoa tirou a foto e mandou para a gente. Como eu moro em Piatã, fui correndo na praia para fazer os registros com aplicativo de monitoramento, informando data e geolocalização para dar veracidade às fotos. Assim que entrei em contato com a Limpurb, em 15 min eles chegaram e começaram a fazer a remoção”, relata Lacerda.

As manchas encontradas tinham entre 5cm e 20 cm, aspecto viscoso e foram vistas no intervalo entre Piatã e a praia da Terceira Ponte, em Jaguaribe. Segundo o voluntário, a maior concentração estava mesmo em Jaguaribe. O Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ibio/Ufba) também esteve no local e coletou amostras do óleo para estudo e uma tartaruga morta. A biópsia do animal concluiu que o óbito não foi causado por ingestão do material tóxico. 

De acordo com a Limpurb, 15 kg do óleo foram removidos do trecho entre as praias. O órgão disse que adotaria o mesmo procedimento feito anteriormente, armazenando o material e em seguida transferindo-o para uma empresa que seja capaz de aproveitá-lo e dar o destino final.