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Gil Santos
Publicado em 19 de outubro de 2019 às 05:35
- Atualizado há 2 anos
O avanço das manchas de óleo em direção a Baía de Todos-os-Santos e ao litoral sul da Bahia pode provocar uma tragédia ainda maior do que o vem sendo assistido nas últimas semanas. Isso porque essas regiões são mais ricas em recifes, corais e manguezais que o trecho norte do estado. O professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Miguel Accioly teme que o petróleo cru alcance os manguezais.
“Essas regiões são mais sensíveis. A presença desse petróleo nos manguezais ameaça a fauna e a flora, e o sustento de quem vive dessa atividade. Recolher as manchas da praia é mais fácil do que fazer isso nos corais, e é ainda mais difícil consegui fazer isso nos manguezais. Elas ficam presas nas raízes das árvores e vai liberando toxidade que ameaça a vida dos animais e também a nossa”, contou. Manchas encontradas na praia da Paciência, no Rio Vermelho (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O professor faz parte do comando unificado, grupo formado por pesquisadores e autoridades públicas e que acompanha a crise provocada por esse desastre ambiental. Ele cobrou mais agilidade e proatividade do poder público, e contou que o óleo já alcançou também o fundo do oceano, na região das marés, o que ameaça o habitat dos camarões, lagostas, polvos e de diversas espécies de peixes.
Segundo a Marinha, o óleo tocou a costa da Ilha de Itaparica, mas ainda não adentrou a Baía de Todos-os-Santos. “A única localidade oleada na baía é Vera Cruz, mas é interpretação se pode ser chamado de dentro ou na boca da baía”, afirmou. Petróleo cru encontrado nas raízes das árvores (Foto: Divulgação/ Defesa Civil de Camaçari) O diretor do Instituto de Biologia da Ufba, Francisco Kelmo, frisou que a região tem uma grande concentração de pescado e marisco e que isso pode afetar a economia porque famílias inteiras sobrevivem dessa atividade. Para ele, o ideal seria proteger a baía antes das manchas atingirem Vera Cruz.
“Já que está chegando, a estratégia seria fechar a entrada dos estuários para evitar que a mancha chegue na área de mangue, são muitas na região”, disse. Animais estão morrendo por conta do petróleo (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O professor Accioly frisou que o uso das barreiras de contenção tradicionais, usadas quando os navios estão sendo abastecidos, não resolve o problema porque a mancha passa por baixo.
“Aracaju tentou usar boias, mas elas não resistiram a força da maré e arrebentaram. Alagoas passou dias sem registrar a presença de óleo, e esta semana as manchas voltaram a aparecer em quantidade absurda. Enquanto não for identificada a causa desse problema a ameaça vai continuar”, afirmou. Retirar óleo de manguezais é mais complicado que fazer isso nas praias (Foto: Arquivo CORREIO) Pela manhã, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) fez uma reunião com representantes dos municípios atingidos pelas manchas. Foram dadas orientações e distribuída uma cartilha com informações sobre como proceder para recolher e armazenar o petróleo encontrado nas praias.