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'O presidente tem preocupação com inquéritos no STF', diz Moro

Demissão do diretor-geral da PF também motivou saída do ministro

  • D
  • Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2020 às 11:59

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: PR/Divulgação

O agora ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que se demitiu por conta de interferência política do presidente Jair Bolsonaro no comando da Polícia Federal (PF). Ele também disse que Bolsonaro afirmou “ter preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF)”.

O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi demitido nesta sexta-feira (24), com exoneração publicada no Diário Oficial - Moro também negou ter assinado esse documento, apesar de seu nome constar no DO. 

Moro afirmou que poderia substituir o comando da PF, mas "precisava de um motivo". “Teria que ser uma falha grave”, diz.

Segundo ele, Bolsonaro queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF. "Não tenho condições de persistir aqui, sem condições de trabalho", continuou. "Não são aceitáveis indicações políticas." Moro falou em "violação de uma promessa que me foi feita inicialmente de que eu teria uma carta branca". "Haveria abalo na credibilidade do governo com a lei."

“O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. E realmente não é o papel da Polícia Federal", afirmou. "Imagine isso durante a Lava Jato".

Moro falou com a imprensa após Bolsonaro formalizar o desligamento de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal – o ministro frisou que não assinou a exoneração do colega. O ex-juiz federal da Lava Jato lembrou que, em novembro de 2018, logo após as eleições presidenciais, Jair Bolsonaro lhe disse que ele teria “carta branca” para comandar a pasta, o que acabou não ocorrendo. “Ele (Moro) vai abrir mão da carreira dele. É um soldado que está indo à guerra sem medo de morrer”, disse o presidente na ocasião.

De acordo com Moro, a partir do segundo semestre do ano passado, “passou a haver uma insistência do presidente com a troca do comando da Polícia Federal”.

Desde que abandonou 22 anos de magistratura para entrar no governo, Sérgio Moro tem acumulado uma série de derrotas. O pacote anticrime formulado por ele, por exemplo, foi desidratado pelo Congresso. Recentemente, Bolsonaro também tentou esvaziar dividir o Ministério da Justiça, retirando de Moro a parte reservada ao combate à criminalidade, justamente uma das áreas que apresentava melhor resultado até aqui. O plano do presidente era entregar a área que cuida da Polícia Federal para o ex-deputado Alberto Fraga  (DEM), amigo pessoal de Bolsonaro.

Segundo Moro, ao aceitar o convite para comandar a Justiça, nunca houve a condição para que ele depois assumisse uma cadeira no Supremo. “O compromisso (ao assumir ministério) era aprofundar combate à corrupção”, afirmou.

“Busquei ao máximo evitar que isso (a minha saída) acontecesse, mas foi inevitável”, disse Moro. “Não foi por minha opção.”

Sucessão. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), já articula para emplacar o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, no lugar de Moro. Crítico do ex-juiz, Ibaneis disse ao Estado que Torres, que é amigo de Bolsonaro, seria um ministro “100 vezes melhor” que o ex-magistrado.