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'O policial já foi com a arma na cabeça dele', diz mãe de rapaz confundido por reconhecimento facial

Jovem de 25 anos estava a caminho de consulta médica e foi abordado dentro de padaria

  • Foto do(a) author(a) Amanda Palma
  • Amanda Palma

Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 09:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

O sistema de reconhecimento facial implantado há pouco mais de um ano pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) já prendeu mais de 100 pessoas em Salvador e Feira de Santana. De acordo com a pasta, a ferramenta que identifica suspeitos vai aprendendo aos poucos à medida que reconhece e aprende com o rosto do baiano. Mas, desde que foi implantado, já houve casos de falso-positivos. Um desses casos aconteceu em setembro e afetou mãe e filho - um rapaz de 25 anos com necesidades especiais que foi confundido com uma pessoa procurada por assalto.

Confira depoimento na íntegra da mãe do jovem, que pediu para não ser identificada:

"Aconteceu no mês de setembro. Hoje, ele está tranquilo. Ele é especial, tem uma deficiência mental, mas é assistido por médicos especialistas, ele tem acompanhamento psiquiátrico.

No momento da abordagem, ele ficou parado, não esboçou reação nenhuma, nem a que os policiais exigiam que ele tivesse - colocar as mãos na cabeça. Ele ficou parado só me olhando. Um policial ficou com a arma na cabeça dele e ele só me olhava. Eu, como fiquei nervosa, também não tive reação. Depois de uns minutos, foi que eu percebi que eu tinha que entender o que estava acontecendo. E, pra eu entender, eu precisava que ele colocasse a mão na cabeça.

A gente estava indo para uma consulta médica no Santa Izabel. Eu entrei numa padaria para tomar café porque era muito cedo. Seguiram a gente do metrô. A padaeria tava muito cheia na hroa, era horário de pico, eu tinha pedido um lanche pra ele, não deu tempo nem de a gente pegar o lanche, já foi com arma na cebeça dele, outra nas costas. Em nenhum momento deram um bom dia, solicitaram a documentação para constatar se era a pesoa.

Eu não me referi ao sistema de reconhecimento, não condenei. Eu me referi aos PMS, à forma como eles abordaram. Minha revolta foi essa na época do acontecuido, porque assim como não aconteceu nada, poderia ter acontecido tudo por conta de uma abordagem displicente, até porque tinham vários, eram de oito a dez PMs.

Nada justifica dizer que os policias são novos e despreparados. Nada disso foi levado em consideração. Eu achei horrível a forma como tudo aconteceu. E todos os dias eu agradeço mil vezes por Deus ter me dado controle e ter dado a ele essa tranquilidade. Isso ajudou muito.

Lá mesmo, no ato da abordagem, eu me controlei e depois eu comecei a perguntar, falei que ele era especial: 'Eu sou acompanhante dele, ele tem 25 anos, não moro aqui, moro em Lauro de Freitas'. E foi aí que o policial do lado de fora entrou com uma imagem no celular que eu não vi, que eu tive a atitude de pegar a identidade do meu filho no bolso dele, apresentei e perguntei o que é que tava acontecendo. Aí foi que ele constatou que meu filho não era quem ele estava procurando, pediu desculpas ali no momento, falaram que tavam procurando duas pessoas por assalto e que meu filho foi reconhecido nas câmeras.

Eu disse: 'Como assim reconhecido? Foi reconhecido ou foi confundido, o que é muito diferente'.

Eu parti para minha consulta, já tava marcado mesmo, eles não me levaram para a delegacia nem nada. Mas, eu levei adiante. Fui pra casa, no outro dia eu fui na Polícia Civil, depois me mandaram nos Alflitos (quartel), fiz a ocorrência e mais uma vez me pediram milhões de desculpas, mas nada tira o constrangimento que a gente viveu e passou.

E ficou marcado, mas como meu filho já tem acompanhamento, eu sempre converso com ele que isso é comum, que ele não se exalte, que ele não corra, até porque ele não deve nada para a sociedade.

Dois meses depois, aconteceu com o filho de uma amiga minha, e eles mataram o menino de 15 anos. Não foi reconhecimento facial, mas foi uma abordagem da polícia, chegaram já atirando. Ele correu com medo, os colegas conseguiram se esconder, mas ele não e mataram ele com vários tiros na nuca. Minha amiga hoje chora, acabou a vida dela porque ele era filho único, enquanto eu dou graças a Deus por não ter acontecido nada com meu filho".