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Da Redação
Publicado em 21 de abril de 2021 às 18:26
- Atualizado há um ano
A região Litoral Sul, capitaneada por Ilhéus e Itabuna, foi por muito tempo o sustentáculo da economia baiana. Base da lavoura cacaueira, que até lhe emprestava o nome, era a grande fonte de alimentação das finanças públicas do Estado. Tal a sua importância – e o peso – que, naquela época, o acompanhamento diário da cotação do cacau na bolsa de Nova York constituía elemento suficiente para saber se o Estado iria, naquele mês, pagar a folha dos seus funcionários. Na década de 1980 a praga da “vassoura-de-bruxa” – importada propositadamente, segundo algumas versões – trouxe a desgraça para a pujante região cacaueira. Felizmente o Estado já contava então com nova base econômico-fiscal – a industrialização recém-estabelecida na região metropolitana de Salvador – para abastecer o seu Tesouro. Mas o Litoral Sul entrou em uma crise sem fim, com o perda das lavouras gerando não apenas o empobrecimento dos proprietários rurais, mas também o desemprego grassando nas fazendas, a migração dos trabalhadores para os centros urbanos que pudessem oferecer alguma perspectiva de sobrevivência – Porto Seguro tornou-se então uma opção de destino – assim como uma grande devastação ambiental, com a Mata Atlântica sendo derrubada para a conversão da lavoura em pecuária ou sua substituição pelo café e outros cultivos que não conviviam com a prática da “cabruca”, o plantio sob a floresta. Desde então os esforços para o controle e a convivência com a vassoura-de-bruxa alcançaram resultados expressivos, mas nada que conseguisse trazer de volta o apogeu da região. Ações localizadas conseguem êxito com o cacau tipo 1, fino ou orgânico, e fábricas de chocolate artesanal, além do turismo rural, nada estruturalmente significativo, capaz de restabelecer os empregos e a renda da população. A civilização grapiúna restou imortalizada nos romances de Jorge Amado e, a partir dele, levada para a TV e o cinema. Cerca de 35 anos depois da crise haver se instalado, a concessão do trecho 1 da FIOL – a Ferrovia de Integração Oeste-Leste – vem, finalmente, abrir novos horizontes para a reanimação da antiga “região cacaueira”, que volta à cena como o novo ponto focal do desenvolvimento baiano, projetando perspectivas alvissareiras para as próximas décadas, com este que é, até agora, o mais importante projeto do século XXI na Bahia. Nesse primeiro momento trata-se de um complexo mina-ferrovia-porto – o que por si só já envolve um volume muito expressivo de investimentos – mas que constitui, em essência, o primeiro passo do que tem tudo para tornar-se um projeto de transformação econômica nacional, na medida em que seu desdobramento configure um corredor de exportação dos grãos do Centro-Oeste, trazidos para o litoral baiano pela integração operacional da FIOL com a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), caminho que vem sendo trilhado pelo Ministério da Infraestrutura com a contratação do Banco Mundial para estruturar a futura concessão dos trechos 2 e 3 da FIOL conjuntamente com a FICO, prevista para logo ali, em 2023. Não sem razão, como até as vésperas do leilão, o projeto enfrenta resistências no Centro-Sul do país, como sempre soe acontecer com toda e qualquer iniciativa que possa resultar em desconcentração da economia nacional. Filho da região, fico feliz com o seu renascer. Mas é preciso que o governo do Estado, as prefeituras municipais da região e a iniciativa privada saibam capitalizar o impacto positivo desse novo ciclo de desenvolvimento que agora se inicia, para fazer com que o Litoral Sul possa reocupar o seu lugar de destaque, uma posição histórica que vem desde a antiga Capitania de Ilhéus, nos tempos da colonização do Brasil.*Waldeck Ornélas, especialista em planejamento urbano-regional, é autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.