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Paulo Leandro
Publicado em 17 de abril de 2020 às 18:57
- Atualizado há 2 anos
A louvação a seus mitos, como füher, na Alemanha, e il Duce, na Itália, no período do surto anterior do nazifascismo, fazia e faz a conexão emocional do seguidor com o semideus ao qual daria sua vida e até uma noite de prazer com sua mulher.>
Por mais santos e juremas; cristos e exus; e uma infinidade de deuses e deusas no panteão sincrético deste adensamento populacional, querem as moiras fiandeiras do destino fazer do Brasil um novo marco de ascensão de um regime abjeto e cruel.>
Para homenagear os hegemônicos de então, e lembrar-lhes da sua inevitável volta às profundezas do Hades, lembremos da tragédia do maior craque do futebol mundial nos anos 1930, marcados pela eleição direta de Adolf Hitler.>
Nesta nova fase de um ministério que seria da saúde, no primeiro dia de gestão, vamos lembrar a história de Sindelar, o Homem de Papel, encontrado morto, junto a sua namorada, após recusar-se a jogar pela Alemanha a Copa de 1938.>
Os austríacos não ofereceram resistência à ocupação alemã e até aceitaram promover jogos comemorativos, além de ceder seus melhores jogadores para a seleção do Terceiro Reich, para alegria de Adolf Hitler.>
Um dos maiores craques de todos os tempos tem sua história muito pouco conhecida em proporção ao seu corajoso futebol. Trata-se de Matthias Sindelar, que nasceu na Morávia, quando fazia parte do Império austro-húngaro.>
Aos dois anos, a família mudou-se para Viena. No tempo em que os jogadores ainda guardavam posição fixa rigorosamente, Sindelar atuava buscando jogo e puxando os marcadores para fora da área.>
Abria os espaços para a seleção austríaca vencer seus jogos. Tão fabulosa foi esta seleção que passou a ser conhecida como o wonderteam (time maravilha), favorito em todas as competições.>
Sindelar, conhecido como o Mozart do futebol, pelo virtuosismo, ou o Homem de Papel, pelo físico mais fininho e a leveza no toque de bola, jogou a Copa de 1934, e nela fez seu nome de grande craque, ao nível de um Crujff em 1974, ou um Di Stéfano, no Real Madri anos 1950.>
Fez gol na estreia, 3x2 que eliminou a França, e jogou certo na vitória de 2x1 sobre a Hungria. A Áustria caiu para a Itália na semifinal (1x0) e perdeu a decisão do terceiro lugar para a Alemanha (3x2).>
O time maravilha classificou-se para a Copa de 1938, quando veio a ocupação nazista. Além de livrar-se dos austríacos, já que passaram a ter cidadania alemã, devido à anexação, os nazistas ainda reforçaram sua seleção com os melhores jogadores do país anexado. Uma molequeira em meio ao desporto, o fake como objeto de prazer. Quanta desfaçatez!>
Um amistoso comemorativo da anexação foi realizado para despedida da seleção austríaca. Havia sido combinado um empate, mas Sindelar desobedeceu e festejou em frente à tribuna onde estavam os oficiais nazistas. A Áustria deu 2x0 na Alemanha Nazi. Que lição!>
O megacraque recusou-se a jogar a Copa pela Alemanha e foi encontrado morto junto com sua namorada no início do ano seguinte, no apartamento onde morava em Viena: a Gestapo, polícia nazista, o investigava por ser ‘pró-judeu’ e ‘social-democrata’.>
Assim agem os doentes nazistas, decretando friamente quem deve e quem não deve morrer, quem pode e quem não pode ser feliz jogando bola.>
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.>