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Da Redação
Publicado em 23 de novembro de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Jonatha de Amorim Souza, 36 anos, foi preso no último domingo (21) após ter sido flagrado agredindo a esposa, Ariele de Almeida Rocha, também de 36 anos. Tudo teria começado com uma discussão em um restaurante no bairro do Rio Vermelho na noite de sábado (20). Após o homem ter sido flagrado beijando outra mulher, supostamente uma amiga, os três foram até a residência do casal, no Imbuí. Lá, Jonatha teria começado uma “sessão de tortura”, que chegou a fazer com que a vítima pedisse para ser morta.
Segundo narra a defesa de Ariele de Almeida, ao começarem as agressões, a terceira mulher, identificada apenas como Emily, foi embora. A partir daí, a vítima teria sido agredida com socos no rosto e em outras partes do corpo, além de marteladas nas mãos. A mulher também contou no depoimento, ao qual o CORREIO teve acesso, que foi alvo de chutes na barriga e enforcamento. O acusado teria tentado dar um remédio para que a vítima se acalmasse durante a agressão. Apesar de não ter tomado, Ariele chegou a desmaiar enquanto era agredida. Marcas das agressões sofrida pela vítima. Ariele de Almeida afirma ter sido vítimas do acusado outras vezes durante o relacionamento de 19 anos (Foto: Acervo Pessoal) O advogado da vítima, Marcelo Sobral, diz que ela teria chegado a pedir que Jonatha a matasse com uma arma de fogo, mas que o acusado recusou e a ameaçou dizendo que não mataria 'agora' porque antes iria torturá-la. O acusado possui autorização para posse de arma em casa, mas é proibido de sair de casa portando a mesma. A defesa de Jonatha alega que Ariele teria dado início às agressões, após ter visto ele aos beijos com outra mulher e não aceitar o fim do relacionamento do casal.
De acordo com o advogado do agressor, Thiago Santos de Oliveira, Ariele pegou a arma para atirar em Jonatha e, por isso, ele teria imobilizado a vítima. Nenhuma arma foi encontrada pela polícia. Ariele e a defesa do acusado afirmam que Jonatha é diagnosticado com esquizofrenia há pelo menos seis anos e toma remédios controlados. Apesar de Oliveira afirmar que o casal estava sob efeito de cocaína durante as agressões, no depoimento, o agressor contou que apenas faz uso de bebida alcoólica. A defesa de Ariele afirma que nenhuma droga foi encontrada na cena do crime. Hematoma causado por conta das marteladas que a vítima sofreu. Apesar dos ferimentos, Jonatha afirma, em depoimento, que não agrediu a vítima e que apenas a imobilizou. Histórico O casal, que vivia juntos há 19 anos, possui duas filhas, uma de 13 e outra de 8 anos. Nenhuma das duas estavam em casa durante o episódio de violência. Segundo ambas as defesas, ao longo do relacionamento, outros episódios esporádicos de agressões ocorreram, nenhum deles tão graves como este e nenhum deles na frente das filhas. Ariele informou, no depoimento, já ter sido vítima de queimadura, sufocamento, facadas e empurrões, mas que nunca havia prestado queixa contra o companheiro.
Ariele e Jonatha são donos da empresa JAmorim Automação Industrial, que presta serviços para o polo petroquímico de Camaçari. Este seria um dos motivos pelo qual ela não teria prestado queixa contra o agressor antes. Ariele afirma que é dependente financeiramente do companheiro.
Jonatha pratica MMA e, em um dado momento da agressão, que teria durado por volta de uma hora e meia, a mulher teria conseguido quebrar uma mesa de vidro do apartamento. O barulho chamou atenção dos vizinhos, que chamaram a polícia. Jonatha reiterou no depoimento dado à Polícia Civil que não agrediu a vítima, apenas a imobilizou. Segundo ele, ela teria causado os ferimentos em si própria. Hematomas nas pernas de Ariele causadas pelas agressões ocorridas no final de semana. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil (Foto: Acervo Pessoal) De acordo com a Polícia Civil, o homem foi autuado em flagrante na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas, que também expediu as guias para que a vítima realizasse exames de lesões. Ariele foi até o Hospital Geral do Estado e nenhuma fratura óssea foi identificada. Em nota, a polícia afirmou que um inquérito foi instaurado. A vítima se encontra agora na casa de familiares, em companhia das duas filhas.
Após decisão judicial em audiência de custódia, Jonatha teve a prisão convertida de provisória para preventiva, e está detido na Deam de Brotas. O advogado dele afirma que ainda não teve chances de apresentar os argumentos da defesa e que deve pedir um habeas corpus nos próximos dias. A Polícia Militar foi procurada pela reportagem, mas não deu mais informações sobre o flagrante.
Se mete a colher sim O início da briga do casal se deu no restaurante Cien Fuegos, localizado no bairro do Rio Vermelho. Segundo Ariele, após ter visto o companheiro beijando outra mulher, que teria sido apresentada à ela na mesma noite como sendo amiga de Jonatha, uma briga começou no local. Os três teriam sido abordados por um segurança, que expulsou todos do local. A polícia não foi contada neste momento.
O dono do restaurante, André Garin disse na segunda-feira (22) que ainda não havia tido tido acesso às câmeras de segurança do estabelecimento. Afirmou apenas que conversou com o chefe de segurança, que teria o informado que uma briga foi contida no local, mas que ninguém precisou ser expulso. Ainda de acordo com o funcionário, as pessoas só teriam ido embora do local cerca de uma hora depois.
Os registros de crimes de feminicídio têm crescido desde que a pandemia começou. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública deste ano apontam que, na Bahia, houve um aumento de 11,8%, se comparado com 2019. Este tipo de crime de ódio se dá quando a mulher é assassinada em contexto de violência doméstica ou por misoginia (aversão às mulheres). A defesa de Ariele ressaltou que a vítima só não foi morta porque os vizinhos entraram em contato com a polícia a tempo.
Em agosto do ano passado a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou, por unanimidade, a lei que obriga condomínios a denunciarem casos de violência contra mulheres, idosos e crianças, sob pena de omissão. A advogada especializada em violência doméstica Milena Pinheiro diz que a lei foi criada para ajudar na conscientização de que as pessoas devem procurar a polícia caso presenciem agressões: “É mais uma lei que veio para proteger a vítima e conscientizar a sociedade que a violência deve ser percebida por todos”.
Segundo Milena, a agressão contra a mulher é um crime muito silencioso, no qual, em geral, a vítima demora para ter noção de que está sendo agredida. “Existe uma questão estrutural e cultural, além de uma visão deturpada sobre o que a lei traz como violência. Na maioria dos casos em que a mulher é agredida, no início do relacionamento houve algum tipo de violência psicológica, patrimonial ou sexual”, explica a advogada.
Ela ressalta a importância da vítima ser atendida por uma equipe multidisciplinar ao procurar a polícia para denunciar um agressor, para que possa compreender melhor os tipos de violência pelo qual passou. “É importante entender que o agressor também faz parte de ciclo de violência e que precisa passar por uma reciclagem e ser conscientizado sobre o que provocou ou o ciclo se perdura", complementa.