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Naiana Ribeiro
Publicado em 18 de agosto de 2018 às 06:45
- Atualizado há 2 anos
Não bastasse a genética, Francisco Buarque de Freitas – o Chico Brown, 21 anos - tem um talento inato. Filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, o multi-instrumentista, cantor e compositor carioca começa a traçar seu próprio caminho na música, após ganhar visibilidade ano passado ao compor com o avô a valsa Massarandupió, do disco Caravanas.
Ele desembarca neste domingo (19) na Chapada Diamantina para participar do encerramento da 3ª edição da Feira Literária de Mucugê (Fligê). Solo Acústico é seu primeiro show na Bahia, terra onde foi criado. “Separei um repertório com composições do meu pai para os Tribalistas e um pot-pourri de músicas do meu avô”, antecipa ele, que tem dreadlocks, pegada de roqueiro e um leve sotaque de Salvador. Chico Brown está começando na música profissional (Foto: Sabrina Moura/Divulgação) Desta forma, acompanhado de um percussionista, consegue soar um pouco mais familiar para esta primeira impressão para o público. Na apresentação, Chico faz voz e violão e explora, em seu repertório, a intersecção cultural entre Rio de Janeiro e Salvador. Também carrega influências da MPB, música nordestina, reggae, música instrumental, rock progressivo, jazz, música latina e música sinfônica. “Me interessa esse caldeirão todo que é a nossa cultura. Às vezes, coloco uma distorção na guitarra que pode remeter à baiana, mas também ao jazz”, exemplifica. "Considero meu filho, hoje, o maior baterista do Brasil. Não estou falando como pai, mas sim de técnica apurada", disse Carlinhos Brown, músico baiano, na coletiva do The Voice Brasil (Foto: Reprodução/Instagram) Será cerca de 1h20 de show, com clássicos como Vilarejo, de Marisa Monte; Quem Te Viu, Quem Te Vê, Homenagem Ao Malandro e algumas da trilha de Os Saltimbancos, de Chico Buarque. “Apresento também minhas músicas autorais - que começo a gravar entre setembro e outubro – e, no meio disso, a gente dá uma batucada. Quero que haja intervenções e, como é uma feira literária, sei que o público vai fazer toda diferença”, completa.
Seu primeiro álbum terá 12 músicas – entre elas o blues Morrer de Música, reggae Rasta With an Apple e uma regravação: “O repertório já está pronto há um tempinho – tem algumas que compus há quatro ou cinco anos. Existem convites de participação, mas nada certo”.
Referências Além de compor e tocar com os amigos, Chico está no último período da faculdade de produção fonográfica e tem ambições musicais variadas. “Penso em juntar todo esse conhecimento e, quem sabe, montar um estúdio caseiro. Quero fazer umas coisas de envolvendo outros ritmos, como jazz, rock e instrumental. E, paralelo a esse projeto acústico, vamos ver o que aparece. Estou em uma fase de autodescoberta, que reflete um pouco da preocupação do que fazer após formar. Estou atacando para todos os lados”, conta.
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Não mudou nada. Desde muito pequeno batucava para todos os lados com colheres de pau. Também tirava de ouvido trilhas de desenhos animados muito antes de aprender notas musicais. Começou a cantar, porém, já na adolescência, quando fazia covers de bandas de metal como Iron Maiden, Metallica, Halloween e AC/DC. “Frequentava os ensaios da Timbalada, em Salvador, com meu pai, ia a shows do meu avô e costumava tocar piano na minha avó (a atriz Marieta Severo)”, lembra.
A família identificou logo cedo o raro ouvido absoluto, capaz de identificar qualquer nota musical. “Busquei prepará-lo melhor. Não estudei e tive que aprender de ouvido. E, hoje, meu filho já me prepara melhor porque ele foi em escolas para isso. Ele melhora minha intuição. Nasceu com ouvido absoluto. Já deu um update na família”, brinca Carlinhos, rasgando elogios ao primogênito, fruto do relacionamento com Helena Buarque de Hollanda, filha de Chico.
Por conta da família paterna, Chico Brown passou muito tempo na comunidade do Candeal. “Aquele espaço pulsa música a todo instante. Também gosto muito do Rio Vermelho, daquele acarajé e as praias no geral – ia muito em Buracão”, conta.
Pressão Para além da inspiração musical desde o berço, o dom herdado dos familiares lhe rende certa pressão. “Existe muita, claro, desde pequeno. As pessoas faziam comentários sobre a obra deles e, muitas vezes, eu não tinha nem idade para saber. Sou rodeado disso no meu cotidiano. A coisa mais normal é conhecerem mais deles do que eu”, revela o músico.
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Chico também tem que lidar com sua própria cobrança, que driblou buscando sonoridades diferentes. “Tento atender às expectativas, mas sem copiá-los. Hoje, tento mostrar mais do que esperam. Tenho um lado mais jazzístico, roqueiro e experimental. Estou aprendendo a não ceder à pressão e a criar minha identidade. A longo prazo, acredito que as diferenças irão se atenuar e espero que, com tempo, o lado que remete a qualquer fardo vá se dissipando”. "Multi-instrumentista, autodidata e com ouvido absoluto, Chiquinho é o melhor músico da família", disse Chico Buarque à Folha, por escrito (Foto: Leo Aversa/Divulgação) Reconhece, inclusive, os privilégios da sua trajetória. “Vivo um contexto diferente do que meu pai viveu. Estudei em escolas particulares e muitas vezes fui o único negro da turma ou do rolê. Sofro racismo, mas nada que já não tenha sido dito. É algo que perpetua todas as classes, que afeta ele, assim como eu, de formas diferentes”, pontua.
Música encerra a Fligê domingo (19)
9h – Conversa Cantada “Enquanto houver poesia”, com Dann Silveira e Lorena Carvalho Local: Centro Cultural 14h – Show “Cantos de Casa”, com Badi Assad Local: Palco Principal / Praça dos Garimpeiros 16h – Conversa Cantada “Solo Acústico”, com Chico Brown Local: Palco Principal /Praça dos Garimpeiros 20h – Concerto “Sinfonia Popular”, com Orquestra Conquista Sinfônica, sob regência do maestro João Omar de Carvalho Mello Local: Palco Principal /Praça dos Garimpeiros