Neoenergia inaugura hidrelétrica no Paraná

Hidrelétrica de Baixo Iguaçu tem capacidade de gerar energia suficiente para 1 milhão de residências

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 24 de maio de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação Copel

O Grupo Neoenergia, controlador da Coelba na Bahia e presente em outros 17 estados brasileiros, inaugurou ontem Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu, em Capanema (PR), a 567 quilômetros de Curitiba, capital do estado. Foram investidos um total de R$ 2,4 bilhões na implantação da unidade, que tem capacidade de gerar 350 megawatts de energia, o suficiente para atender a 1 milhão de residências. 

A Neoenergia participa do Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu (CEBI), junto com a Companhia Paranaense de Energia (Copel). 

Presente à cerimônia, o presidente do conselho de administração da Neoenergia, Jose Ignacio Galan, destacou a importância do Brasil para a empresa e anunciou planos de investimentos que chegam à casa dos R$ 30 bilhões nos próximos anos. O executivo destacou a importância da Bahia nos planos da empresa.  Presidente do Conselho de Administração da Neoenergia, Jose Ignacio Galan (Foto: Donaldson Gomes) “Nós temos um plano robusto de investimentos no Brasil. Estamos ampliando bastante a nossa rede de distribuição na Bahia”, destacou Galan. Segundo ele, em uma conversa recente com o governo baiano foram apresentados planos para construção de linhas de distribuição no estado e de novas centrais de energias renováveis. Segundo ele, a Neoenergia tem expectativas de ampliar a sua participação na geração de energias renováveis nos próximos leilões do setor. 

Ele destacou como explicação para os planos o contínuo crescimento da demanda por energia na região Nordeste, mas no cenário de retração da economia. “A demanda por energia na região e no Sudeste cresce a uma média de 5% ao ano. Isso significa novos investimentos. São novas indústrias e o turismo demandando investimentos, como acontece na Bahia”, citou. 

O presidente do conselho da Neoenergia aproveitou a inauguração para reafirmar o compromisso da empresa com o Brasil. “Nós estamos aqui para reafirmar o nosso interesse com o desenvolvimento sustentável do país. Estamos a 22 anos gerando energia aqui, presentes em 18 estados”, enumerou. A rede de distribuição da empresa no país soma um total  de 750 mil quilômetros e leva energia para um total de 34 milhões de brasileiros. Através do programa Luz para Todos, a empresa já atendeu mais de 3 milhões de pessoas sem acesso à eletricidade. 

A fio d'água Implantada no Rio Iguaçu, o das famosas Cataratas, a UHE Baixo Iguaçu foi construída com as turbinas colocadas a apenas 15 metros abaixo da altura da água, num tipo de hidrelétrica conhecida como a fio d’água. Diferente dos modelos mais comuns, cujos grandes reservatórios exigem o alagamento de grandes áreas, as usinas do tipo geram menos energia, mas ao mesmo tempo provocam um impacto ambiental menor. 

Baixo Iguaçu é a sexta hidrelétrica construída na Bacia do Iguaçu.  Casa de força conta com três geradores com tecnologia de ponta (Foto: Donaldson Gomes) O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Eduardo Barata, destacou a importância de se ter energia nova no sistema, produzida a partir de uma fonte renovável. “Este é um projeto que apresentava uma série de desafios de natureza socioambiental. Esta inauguração hoje (ontem) significa que os investidores tiveram a capacidade de superar todas as dificuldades”, avalia Barata. 

A família do agricultor Vilmar Locatelli, 39 anos, foi uma das que precisaram ser reassentadas para a implantação do empreendimento. Morador de Capanema durante toda a sua vida, Vilmar era arrendatário de uma área que foi alagada pelo reservatório da usina. Após uma série de negociações, mudou-se em setembro do ano passado para uma área de 20 hectares, onde cria 13 vacas leiteiras, planta soja, milho e produtos de subsistência. A diferença é que agora as terras pertencem a ele. 

“Se analisarmos que deixei de ter que arrendar a terra para viver do que é meu, tudo isso valeu a pena”, acredita. 

A instalação da hidrelétrica promoveu ainda a geração de empregos e alavancou a arrecadação de impostos dos municípios. Com a conclusão da obra, anualmente, a arrecadação dos royaltes deve superar os R$ 4 milhões para os municípios. Os recursos serão partilhados para as prefeituras proporcionalmente, conforme a área alagada pelo reservatório. 

No período de construção, o recolhimento de impostos chegou a R$ 10 milhões, segundo estimativa do diretor-presidente do CEBI, José de Anchieta. “A obra possibilitou os municípios se preparassem financeiramente para os próximos anos”, acredita o gestor.

Entre 2013 e 2017, o empreendimento contratou 6,9 mil trabalhadores de diversas formações e níveis de escolaridade. Em sua maioria, os profissionais alocados na obra eram originários da própria região. No auge da construção, em 2016, a força de trabalho contava com mais de 3 mil funcionários. Nesse período, Capanema figurou em terceiro lugar no ranking nacional em geração de emprego e renda, de acordo com o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal. 

Enquanto a maior parte do Brasil vivenciava o aumento do desemprego, Capanema foi uma das poucas cidades a ter saldo positivo, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A maioria dos postos ocupados, de acordo com o cadastro, foi para a construção civil, o que indica que estava diretamente ligado à construção da usina.

Aposta turística Agora, após a conclusão das obras, as apostas em relação ao futuro passam pelo desenvolvimento do potencial turístico da região. Com a finalidade de fortalecer esse segmento, o CEBI desenvolveu um programa que conta, inclusive, com um Guia Turístico. A publicação lista 36 pontos de visitação, entre centros culturais, balneários e sítios de Mata Atlântica preservada.   No programa de desenvolvimento turístico, o CEBI reuniu lideranças do setor público e iniciativa privada para o reconhecimento das potenciais atrações locais e a capacitação visando ao turismo sustentável. Foram promovidos cursos para empreendedores, trabalhadores do setor e palestras abertas a toda população.

“O município ganhou novas perspectivas de geração de renda para o setor produtivo. Foi excelente para nós”, comemora a secretária de Turismo de Nova Prata do Iguaçu, Marli Orben. A gestora pública acrescenta que os novos balneários artificiais no entorno do reservatório, áreas de preservação permanente, agora se somam às belezas naturais da região. “Ganhamos os lagos das hidrelétricas que estão no território da cidade, Salto Caxias e, agora, Baixo Iguaçu”, destaca.

Já a secretária de Indústria, Comércio e Turismo de Planalto, Andreia Elaene Barros, atribui ao consórcio o norte para trabalhar. “Tínhamos identificado as potencialidades e mais nada. As pessoas sequer sabiam como precificar as atrações e serviços”, lembra Barros. “Com a capacitação, começamos a enxergar os caminhos. Houve progresso muito significativo”, explica.

Reforço às Cataratas Uma importante sinergia da hidrelétrica com o Parque Nacional do Iguaçu é o fato que a usina, junto com as demais hidrelétricas instaladas no Rio Iguaçu, irá auxiliar a regular o fluxo das águas das Cataratas. A regulagem da vazão mantém e até melhora as condições para visitação de um dos cenários mais emblemáticos do Brasil.

As cachoeiras do parque sofriam no período estiagem, de abril a setembro. A seca que abateu o Paraná em julho de 2006, por exemplo, reduziu a vazão, historicamente de 1,5 mil metros cúbicos por segundo (m³/s), para 245m³/s. O problema climático transformou as tradicionais quedas em filetes d’água. 

As obras de infraestrutura da usina, implementadas em cumprimento às determinações da Agência Nacional de Águas, aumentam a vazão média das Cataratas do Iguaçu em 150m³/s, assegurando o mínimo necessário às famosas quedas d’água. 

Notas técnicas, do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), reconhecem a contribuição da obra.

Meio ambiente A construção da Baixo Iguaçu exigiu em relação à conservação de espécies nativas, reflorestamento de Mata Atlântica e a regulação do fluxo de água das Cataratas do Iguaçu. As iniciativas contribuíram para a recuperação de áreas degradadas pela ação humana antes mesmo da instalação da usina.

Para reverter o cenário de degradação, o consórcio coordenou uma série de ações como o Corredor da Biodiversidade. O programa está recuperando 1,7 mil hectares de vegetação nas margens do Rio Iguaçu e afluentes. A implantação do corredor verde pretende conectar a unidade de preservação com fragmentos isolados de vegetação, criando uma zona de trânsito para os animais e promovendo o retorno de espécies que vinham se tornando raras.

“Esse corredor da biodiversidade tem a finalidade de interligar toda essa riqueza que tem no parque com o entorno do nosso reservatório”, explica Guilherme Siqueira, gerente de meio ambiente do CEBI. “Isso vai gerar um ganho ambiental surpreendente”.

O consórcio implementou, ainda, ações de monitoramento e conservação da fauna terrestre, aquática, semi aquática e até dos animais atropelados nas estradas da região. O objetivo foi avaliar as espécies potencialmente impactadas pela instalação da hidrelétrica. “Antes da instalação do empreendimento, fizemos o inventário da fauna no entorno para conhecer o que existia na região”, explicou o biólogo do CEBI, Juliano Tupan.

Nas ações de campo, biólogos registraram mais de 300 espécies de vertebrados, entre eles espécies ameaçadas de extinção, como o cágado rajado, a lontra, o gato-do-mato-pequeno e a onça pintada, além das chamadas bioindicadoras, que são animais sensíveis à ação humana, como o gavião-pato e o pássaro macuru. Após a realização da avaliação, as equipes tomaram medidas preventivas para preservar os animais durante a construção. Antes de qualquer atividade da obra, os especialistas se deslocavam para resgatar as espécies com risco de serem afetadas.

Se estivessem em boas condições de saúde, os animais eram registrados e soltos na área de preservação permanente. Se fossem vulneráveis, eram levados a uma base de apoio erguida temporariamente às margens do rio. No local, recebiam tratamento e acompanhamento até serem reinseridos na natureza.

As ações se mantêm mesmo com as obras concluídas. Os profissionais realizam campanhas trimestrais para monitorar o desenvolvimento das espécies e acompanham as mudanças dos ambientes para verificar se houve mudanças no comportamento dos animais.

Surubim do Iguaçu Um dos programas de fauna promovido pelo CEBI prestou especial atenção ao Surubim do Iguaçu, o maior peixe do Rio Iguaçu. A espécie é chegou a ser considerada extinta há algumas décadas. Antes das obras, biólogos usaram tecnologia de ponta para entender o comportamento da espécie. 

Os especialistas coletaram 50 peixes para monitoramento – quatro estavam fora da área de preservação. O que pode ser resultado de ação predatória, segundo o biólogo do CEBI, Luiz Augusto Ludwig. Em seguida, instalaram na barriga dos animais transmissores de telemetria combinada, que emitem sinais de rádio e acústica. O rastreamento confirmou que o Surubim do Iguaçu não tem hábitos migratórios. “Os movimentos da espécie foram de curta distância, de até 20 quilômetros”, mencionou Ludwig, que acompanhou o trabalho da bióloga responsável pela pesquisa, Lisiane Hahn, contratada de forma independente.

Esse resultado indica não só que a usina não interfere no ciclo de vida do surubim como ainda trouxe novas informações da espécie. “Um dos ganhos de empreendimentos como esse é gerar conhecimento para a comunidade científica”, comentou o biólogo. Os próximos passos da pesquisa pretendem avaliar se esse comportamento será mantido e investigar os locais de reprodução do surubim.

* O jornalista viajou à convite da Neoenergia